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FUTEBOL
Depressão e euforia
TOSTÃO
COLUNISTA DA FOLHA
Após seguidas e graves contusões, o meia palmeirense Pedrinho retornou aos gramados. O
jogador teve também problemas
emocionais e usa medicamento
para depressão, o que já tinha sido avisado à CBF. Mesmo assim,
Pedrinho foi suspenso após ser detectada a presença da substância
bupropiona na urina. É incompreensível que um atleta não possa nem tratar de sua doença. O
erro foi corrigido, e o jogador, liberado para atuar.
É terrível para um atleta jogar
com depressão. No momento em
que está triste, sem vontade de fazer nada e quer ficar sozinho, tem
de jogar, conviver com milhares
de pessoas, dar entrevistas, sorrir
e ser um homem agradável.
Antes de dizer que um jogador
está em má fase técnica e que tudo vai passar, os médicos e os treinadores deveriam investigar a
presença de problemas emocionais. São muito comuns. Os atletas não têm somente músculos,
cartilagens, ossos, tendões etc, eles
também têm alma.
Se a depressão é uma doença
comum, inclusive nos jovens, certamente não é rara nos atletas,
que enfrentam diariamente grandes desafios, dentro e fora de campo. Mais difícil ainda do que fazer
um belíssimo gol é conviver com a
fama e o sucesso.
Há no esporte e em toda a sociedade pessoas preconceituosas,
machistas e mal informadas, que
acham a depressão uma frescura,
"coisa de mulher", principalmente num jovem atleta. Por isso e
outros motivos, a maioria dos jogadores esconde os sintomas de
depressão. Têm medo de serem
rotulados de fracos.
A depressão é uma doença biológica e psicológica como qualquer outra, que pode ser tratada
com sucesso com terapia e/ou medicamento. Além disso, mais triste do que a tristeza da depressão é
a euforia dos alienados.
Explosão de alegria
A comemoração de um gol,
principalmente numa partida
importante, é um dos poucos momentos em que os atletas exteriorizam as emoções.
Verdadeira catarse. Isso faz
bem à saúde física e mental.
Após um gol, há manifestações
de todos os tipos: os jogadores pulam, gritam palavrões, se abraçam, se beijam (na boca pega
mal), correm para a galera, dão
cambalhotas e muitas outras. Tive um colega que, ao mesmo tempo que abraçava os companheiros, xingava todos pelo nome.
Ninguém se sentia ofendido. Depois da partida, negava com convicção tudo que tinha dito.
Nem todas as comemorações de
gol são permitidas, bem-vindas e
saudáveis. Mas deveríamos ser
mais transigentes com essas explosões de alegria.
Quando o jovem Diego comemorou o gol do Santos em cima
do símbolo do São Paulo, ele não
quis ofender o rival. Quis apenas
se divertir.
A escolha do lugar foi feita pela
emoção, e não pela razão. No inconsciente, não existem o certo, o
errado e o politicamente correto.
Importância do clássico
Atlético-MG e Cruzeiro fazem
hoje o clássico local da rodada.
Ainda não entendi a opinião dos
que acham os clássicos de times
de uma mesma cidade mais emocionantes nos Estaduais do que
nos regionais e no Brasileiro. Vai
depender do momento das equipes. Nas mesmas condições, um
clássico local pelo Brasileiro é
muito mais importante.
Muito mais decisivo do que a
disputa por preciosos pontos,
Atlético x Cruzeiro será um divisor na alma das equipes. Quem
for derrotado perderá a confiança
e dificilmente vai se recuperar nas
partidas seguintes. Isso já aconteceu muitas vezes. Após a derrota
para o Vasco, esse será o grande
problema do Flamengo.
O vitorioso do clássico, ao contrário, ganhará forças emocionais
poderosas e terá boa chance de ficar entre os oito primeiros. O empate será razoável para o Atlético
e péssimo para o Cruzeiro.
Alguns torcedores do Atlético
gostaram e levaram a sério a minha brincadeira no meio de semana, quando escrevi que talvez
a melhor solução para o Galo seja
escalar o zagueiro Nem de centroavante, ponto fraco da equipe.
Quem sabe dê certo no Cruzeiro a
troca do Fábio Júnior pelo Cris.
Se os grandalhões zagueiros fazem tantos gols de cruzamento
com a bola parada, por que não
fariam também com a bola em
movimento, já que a maior parte
dos gols sai de bolas cruzadas? Essa é uma opção tática que ainda
não foi usada pelos treinadores,
nem pelo Mário Sérgio, que já colocou centroavante de lateral.
Neste momento, não sei se estou
brincando ou escrevendo sério.
E-mail
tostao.folha@uol.com.br
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