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JOSÉ GERALDO COUTO
Já era Dunga
Os aplausos para Messi,
que tanto irritaram Gilberto, mostram que a torcida quer, e merece, diversão e arte
AINDA NEM terminou o primeiro semestre e já temos várias
pérolas concorrendo ao título
de "frase do ano".
Nos últimos dez dias surgiram pelo menos duas. Dunga: "A seleção
brasileira não precisa de Kaká e Ronaldinho". Gilberto: "O problema é
o público brasileiro aplaudir o Messi". O páreo é duro.
Diante da primeira frase, a única
resposta possível é uma pergunta: e
quem precisa de Dunga? A segunda
requer uma reflexão mais extensa.
Não faz muito tempo, eram os torcedores adversários que aplaudiam
o talento dos brasileiros. Pelé, Garrincha, Rivellino, Zico, Romário, Ronaldo: todos arrancaram aplausos
das platéias de todos os quadrantes.
Cruyff, Platini, Maradona e Zidane também. O futebol é um espetáculo destinado a proporcionar prazer e alegria a qualquer pessoa que
tenha um mínimo de sensibilidade
para ele. Mas espetáculo é palavrão
para os desprovidos de talento. Pode
notar: eles sempre falam de modo
ressentido e rancoroso dos verdadeiros craques. Esses indivíduos infelizes repisam incansavelmente a
tecla da derrota do Brasil para a Itália em 1982, que seria a "prova" definitiva de que arte não ganha jogo.
Tudo bem, admitamos isso. Mas
futebol feio e sem imaginação também não ganha. Basta ver os últimos
jogos da seleção de Dunga.
Sofrer uma derrota como Portugal sofreu diante da Alemanha, na
Eurocopa, é doloroso, mas consola,
amadurece e humaniza, porque o time português jogou um futebol
franco e belo até o último instante.
Mal comparando, viver uma derrota assim é como assistir a uma tragédia no teatro, com os componentes de catarse e elevação moral que
Aristóteles identificava no gênero.
Já um empate opaco e estéril como o 0 a 0 de Brasil e Argentina é
uma experiência broxante, quase lúgubre. É como ver novela mexicana
dublada no SBT. Faz vir à tona toda a
mediocridade de que somos feitos
quando abrimos mão de sonhar.
Por isso o Mineirão aplaudiu Messi. O rapaz baixinho e desprovido de
glamour, que parece, ele sim, o Dunga dos sete anões, fez o torcedor
lembrar que o futebol é uma arte vital, na qual resplandece ocasionalmente o engenho humano.
Pouco importava naquele momento que a camisa de Messi fosse
azul e branca e não verde e amarela.
O recado dos torcedores era claro:
"A gente não quer só comida/ A gente quer comida, diversão e arte". Não
precisamos nos contentar com a
cesta básica que Dunga nos oferece.
Podemos e devemos exigir caviar.
Há mais de cem anos desenvolvemos por aqui um futebol único, incomparável, admirado em todo o
planeta. Por que nos conformar com
o futebol de (maus) resultados do
nosso carrancudo técnico?
Mas a culpa, em última instância,
não é de Dunga. É de quem o colocou lá: Ricardo Teixeira, que agora
frita em público o ex-protegido. Ele
que pôs no comando da equipe mais
gloriosa do mundo um ex-jogador
que nunca tinha sido treinador.
A motivação, como comentei na
época, era demagógica, buscando
satisfazer os sentimentos vingativos
da torcida após o fiasco de uma seleção coalhada de estrelas na Copa do
Mundo de 2006. No tempo ruim, a
culpa é sempre do artista. E assim
impera a mediocridade.
jgcouto@uol.com.br
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