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FUTEBOL
Adãozinho x Zidane
RODRIGO BUENO
DA REPORTAGEM LOCAL
"Marcos Senna, você cola
no Zidane. Rubens Cardoso, cuidado com o Figo nas costas. Dininho, não dá espaço para
o Raúl. Daniel, presta atenção no
jogo aéreo do Morientes. Adãozinho, fique de olho nas subidas do
Roberto Carlos. Anaílson, parte
pra cima do Hierro. Somália, arrisca de longe no Casillas."
Você já imaginou o Jair Picerni
dando instruções para os humildes atletas do São Caetano antes
do jogo com o mais badalado
Real Madrid de todos os tempos
em Yokohama, palco da final da
Copa-2002, na decisão do Mundial interclubes? Isso está bem
perto de acontecer. E isso seria
talvez o mais interessante caso de
Davi contra Golias em uma decisão importante do futebol mundial. Seria um jogo de menor interesse? Ora, isso seria demais!
Esse hipotético jogo, que só tem
um esforçado Olimpia como obstáculo para virar realidade, é um
sonho, um exemplo, um desafio.
O futebol brasileiro conquistou
o penta no Japão após ser desacreditado por muita gente -"só"
quase toda a imprensa internacional, como bem mostrou pesquisa feita pela Folha antes do
Mundial. Se o título da seleção já
surpreendeu tanta gente, o que
dizer se um time que até poucos
meses estava na terceira divisão
paulista superar o mais poderoso
clube, uma seleção mundial de fato, diante de todo o planeta?
A lição que o modesto São Caetano pode dar ao mundo do futebol, que vê agora uma redução
racional de seus astronômicos valores, é infinitamente maior do
que a que o time de Scolari acabou dando nos campos asiáticos?
Curioso ver que o estádio de Yokohama, nova casa (possivelmente provisória) do Mundial interclubes, pode alçar em poucos meses o futebol brasileiro a um lugar
mais alto do que qualquer ufanista torcedor nacional ou seguidor
de Galvão Bueno imaginaria.
A coluna já está viajando bastante com um jogo que ainda não
está garantido, mas, diante de
sua real possibilidade, não poderia passar em branco. A imprensa
nacional (em especial as TVs)
tristemente desprezou a campanha do time do ABC e agora,
meio hipocritamente, vai fazer da
final da Libertadores deste ano
uma coisa quase maior que a Copa (até a semana passada, havia
uma preocupação maior na mídia se o São Caetano avançaria às
quartas da Copa dos Campeões).
O feito da mais nova força do
futebol nacional já é bastante
considerável. Não são muitos os
clubes que decidiram a Libertadores -dos fundadores do Clube
dos 13, cinco ainda vêem isso apenas como um sonho distante.
Mas, justiça seja feita ao Cobreloa, o São Caetano não é o mais
jovem finalista do torneio. O vice
do Flamengo em 1981, com seu
uniforme laranja como o da Holanda, fez uma final com menos
de 12 anos de vida, pois o atual
Club de Deportes Cobreloa foi
fundado em 7 de janeiro de 1977.
O Cobreloa pode e deve, sim,
inspirar o São Caetano, pois, após
um aparecimento meteórico no
começo dos anos 80 -ganhou título nacional com três anos de vida-, sofreu queda rápida e hoje
pena no carente futebol chileno.
Mas, de qualquer forma, fez história, como fez agora o São Caetano. O mundo hoje é pequeno.
Com um pouco de ambição dá
para conquistá-lo. O simples e já
internacional Azulão mostrou o
caminho. Cresceu em seu Estado,
em seu país, em seu continente.
A Terra será mesmo azul?
Libertadores
O São Caetano jogou toda a competição sul-americana com a bola
da Penalty, empresa brasileira que fornece seu material esportivo.
Agora, na final do torneio, terá que jogar com a bola da Nike, nova
parceira da Confederação Sul-Americana de Futebol. A mudança
da bola, por questões técnicas, afeta o Azulão e o Olimpia, que joga
no Paraguai também com a bola da Penalty.
Confederações
O Brasil tem tudo para ganhar no ano que vem outro título, o da
Copa das Confederações. Estados Unidos, Colômbia, Camarões,
Nova Zelândia... França de técnico novo.
Brasileiro
Nacional em dois semestres. Turno e returno, pontos corridos? Isso é melhor para o futebol do Brasil do que o pentacampeonato e o
possível título mundial do Azulão.
E-mail rbueno@folhasp.com.br
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