São Paulo, domingo, 22 de junho de 2008

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Sob tensão, tocha passa pelo Tibete

Muitos militares e postos de controle marcam clima de terror imposto pelo governo chinês à Província separatista

Toque de recolher informal fecha os maiores mosteiros budistas e somente pessoas com bandeiras chinesas e uniformizadas vão às ruas


RAUL JUSTE LORES
DE PEQUIM

Lojas fechadas, pouca gente na rua e militares e postos de controle por todos os lados. Era para ser uma festa, mas a passagem da chama olímpica por Lhasa, a capital do Tibete, não conseguiu disfarçar o clima de terror imposto pelo governo chinês à Província separatista.
O clima foi de toque de recolher informal. Os maiores mosteiros budistas estavam fechados e não se via um único monge nas ruas.
As pessoas que se aglomeravam nas calçadas para ver a passagem estavam uniformizadas, de vermelho, e com bandeiras chinesas, para não deixar dúvida de que os figurantes foram escolhidos a dedo.
As redes de televisão estrangeiras, únicas com permissão de estar no Tibete, não puderam acompanhar todo o trajeto. Só a largada, em frente ao palácio de verão do dalai-lama, atualmente exilado. A ditadura chinesa não quis correr o risco de registro de algum protesto.
Os jornalistas das TVs estrangeiras não podem sair do hotel sem ter uma escolta do governo chinês. Foram instruídos a ficar no hotel. A Folha pediu para ir ao Tibete, mas o governo negou autorização.
Até agora, foi o momento mais tenso da passagem da tocha pelo país. A chama ficaria três dias no Tibete, mas o percurso foi reduzido a um.
Por causa do terremoto no mês passado em Sichuan, o trajeto da chama foi mudado e os próximos destinos têm sido anunciados poucos dias antes.
O Tibete está virtualmente fechado a visitantes estrangeiros desde 14 de março, quando um confronto colocou jovens tibetanos contra a polícia chinesa em Lhasa.
Várias lojas de cidadãos chineses foram destruídas, e o governo instituiu um toque de recolher na região.
Além de mais autonomia, os tibetanos protestam pelo respeito à sua religião.
O regime comunista da China é ateu e regulamenta e dificulta o culto livre de várias religiões no país asiático.
O percurso internacional da tocha teve protestos de ativistas pró-independência do Tibete em Londres, Paris e San Francisco. Isso despertou uma onda nacionalista na China.
O Tibete era independente até 1950, quando foi invadido e ocupado pela China. Os monges budistas até tentaram um golpe para expulsar os chineses em 1959 -com o fracasso, cem mil fugiram, entre eles o dalai-lama, líder espiritual e político.
Em março passado, para celebrar o golpe fracassado, um protesto de monges acabou em repressão e dezenas de prisões.
Como resposta ao governo, centenas de monges e de jovens tibetanos armaram um quebra-quebra na capital Lhasa, que terminou com mais de mil presos e 22 mortos, segundo o governo. O exílio tibetano afirma que vários tibetanos morreram, algo que o governo chinês não reconhece.
Mas a Província rebelde está fechada desde então a estrangeiros, sejam jornalistas ou turistas. O isolamento da região só aumenta a especulação quanto à repressão e ao desrespeito dos direitos humanos.
Na Revolução Cultural determinada pelo ditador Mao Tsé-tung, entre 1966 e 1976, mosteiros budistas foram queimados e destruídos, e nas escolas as crianças eram ensinadas a criticar o dalai-lama. A chamada "educação patriótica" existe até hoje no Tibete.
Outra Província separatista na China, Xinjiang, também mereceu segurança reforçada por parte das autoridades chinesas. As etnias muçulmanas uigur e hui são maioria na Província e protestam há anos.


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