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Sob tensão, tocha passa pelo Tibete
Muitos militares e postos de controle marcam clima de terror imposto pelo governo chinês à Província separatista
Toque de recolher informal fecha os maiores mosteiros budistas e somente pessoas com bandeiras chinesas e uniformizadas vão às ruas
RAUL JUSTE LORES
DE PEQUIM
Lojas fechadas, pouca gente
na rua e militares e postos de
controle por todos os lados. Era
para ser uma festa, mas a passagem da chama olímpica por
Lhasa, a capital do Tibete, não
conseguiu disfarçar o clima de
terror imposto pelo governo
chinês à Província separatista.
O clima foi de toque de recolher informal. Os maiores mosteiros budistas estavam fechados e não se via um único monge nas ruas.
As pessoas que se aglomeravam nas calçadas para ver a
passagem estavam uniformizadas, de vermelho, e com bandeiras chinesas, para não deixar dúvida de que os figurantes
foram escolhidos a dedo.
As redes de televisão estrangeiras, únicas com permissão
de estar no Tibete, não puderam acompanhar todo o trajeto. Só a largada, em frente ao
palácio de verão do dalai-lama,
atualmente exilado. A ditadura
chinesa não quis correr o risco
de registro de algum protesto.
Os jornalistas das TVs estrangeiras não podem sair do
hotel sem ter uma escolta do
governo chinês. Foram instruídos a ficar no hotel. A Folha pediu para ir ao Tibete, mas o governo negou autorização.
Até agora, foi o momento
mais tenso da passagem da tocha pelo país. A chama ficaria
três dias no Tibete, mas o percurso foi reduzido a um.
Por causa do terremoto no
mês passado em Sichuan, o trajeto da chama foi mudado e os
próximos destinos têm sido
anunciados poucos dias antes.
O Tibete está virtualmente
fechado a visitantes estrangeiros desde 14 de março, quando
um confronto colocou jovens
tibetanos contra a polícia chinesa em Lhasa.
Várias lojas de cidadãos chineses foram destruídas, e o governo instituiu um toque de recolher na região.
Além de mais autonomia, os
tibetanos protestam pelo respeito à sua religião.
O regime comunista da China é ateu e regulamenta e dificulta o culto livre de várias religiões no país asiático.
O percurso internacional da
tocha teve protestos de ativistas pró-independência do Tibete em Londres, Paris e San
Francisco. Isso despertou uma
onda nacionalista na China.
O Tibete era independente
até 1950, quando foi invadido e
ocupado pela China. Os monges budistas até tentaram um
golpe para expulsar os chineses
em 1959 -com o fracasso, cem
mil fugiram, entre eles o dalai-lama, líder espiritual e político.
Em março passado, para celebrar o golpe fracassado, um
protesto de monges acabou em
repressão e dezenas de prisões.
Como resposta ao governo,
centenas de monges e de jovens tibetanos armaram um
quebra-quebra na capital Lhasa, que terminou com mais de
mil presos e 22 mortos, segundo o governo. O exílio tibetano
afirma que vários tibetanos
morreram, algo que o governo
chinês não reconhece.
Mas a Província rebelde está
fechada desde então a estrangeiros, sejam jornalistas ou turistas. O isolamento da região
só aumenta a especulação
quanto à repressão e ao desrespeito dos direitos humanos.
Na Revolução Cultural determinada pelo ditador Mao
Tsé-tung, entre 1966 e 1976,
mosteiros budistas foram queimados e destruídos, e nas escolas as crianças eram ensinadas
a criticar o dalai-lama. A chamada "educação patriótica"
existe até hoje no Tibete.
Outra Província separatista
na China, Xinjiang, também
mereceu segurança reforçada
por parte das autoridades chinesas. As etnias muçulmanas
uigur e hui são maioria na Província e protestam há anos.
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