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FUTEBOL
Perfil dos campeões
TOSTÃO
COLUNISTA DA FOLHA
Será que existe nos grandes
campeões uma característica
psicológica comum, diferente da
personalidade de outros atletas?
A ciência sempre tenta fazer essa
associação, padronizar e enquadrar os atletas em grupos.
Os campeões costumam ser auto-suficientes, ambiciosos, determinados e disciplinados. Mas cada um tem o seu jeito de chegar à
vitória.
É o talento individual que faz a
diferença. O talento não é sinônimo de habilidade ou criatividade
ou técnica. É a soma de tudo isso e
mais a capacidade física e emocional.
Após uma grande conquista, as
características, hábitos e manias
dos campeões, das importantes às
inúteis, passam a ser idealizadas
e mistificadas.
Cria-se uma lenda e um mito. A
história e as biografias nunca dizem a verdade.
Vitória dos derrotados
A cena que mais me emocionou
na Olimpíada foi o choro compulsivo e o pedido de desculpas ao
país e à sua família feito pelo judoca Carlos Honorato após a derrota.
Nós é que agradecemos ao Carlos pela medalha de prata que
conquistou em Sydney e pela bravura que teve em Atenas. Ele e outros que não ganharam medalhas, mas que lutaram tanto para
chegar à Olimpíada, são também
vitoriosos. Tenho grande admiração pelos que perdem com dignidade.
"Depois da hora radiosa, a hora
dura do esporte, sem a qual não
há prêmio que conforte, pois perder é tocar alguma coisa mais
além da vitória, é encontrar-se
naquele ponto onde começa tudo
a nascer do perdido, lentamente".
(Carlos Drummond de Andrade).
Fenômeno
Alguns atletas atuam melhor
quando estão pressionados e ansiosos. Ficam mais concentrados,
espertos e ágeis. Outros se tornam
confusos, indecisos.
Nenhum psicólogo, nem Freud
nos seus melhores momentos, pode antecipar se a Daiane dos Santos vai suportar bem a responsabilidade, a pressão e a expectativa
de todo um país.
Mesmo se cometer erros grosseiros, perder a medalha de ouro e
até a medalha de prata ou a de
bronze, Daiane não deixará de
ser um fenômeno da ginástica artística. Mas acho que ela, com a
sua simplicidade e talento, vai
brilhar.
Injustificável punição
A finalidade política do jogo no
Haiti é um fato. Outro foi a alegria que os craques brasileiros
proporcionaram ao sofrido povo
desse país.
Os jogadores atuaram com prazer, com solidariedade e não somente por obrigação profissional.
Os que não foram, impedidos por
seus clubes, teriam a mesma satisfação.
A ausência de cinco titulares na
convocação para as partidas contra a Bolívia, pelas eliminatórias
da Copa, e a Alemanha, um amistoso, foi uma injustificável punição da CBF, com a conivência do
Parreira.
Os clubes europeus tinham direito de não ceder os jogadores. A
alegação de que eles não pressionaram os clubes é subjetiva e imprecisa. Os cinco, principalmente
Cafu, pela sua exemplar história
na seleção, mereciam mais respeito. O time brasileiro foi ainda prejudicado.
Temo que o fato diminua o entusiasmo e a alegria que esses
atletas sentem quando atuam pela seleção. Essa cumplicidade, que
vai além da obrigação profissional, é fundamental para o sucesso
do time brasileiro.
Equilíbrio
No segundo turno do Campeonato Brasileiro, a tendência das
equipes é manter a média de
aproveitamento. Com freqüência,
os times ganham em casa e perdem fora. Quando conseguem
duas vitórias seguidas, sobem
bastante na tabela. A dificuldade
dos clubes cariocas de ganhar fora é ainda maior. Por quê?
A disputa pelo título e para fugir do rebaixamento vai continuar equilibrada até às últimas
rodadas. Não há um único favorito nem um time certo para cair.
No mínimo, um time de grande
tradição e torcida vai para a segunda divisão.
As equipes estão se reforçando
com jogadores brasileiros que estavam no exterior, atuando em
times de menor expressão. Alguns
são veteranos e decadentes. Esses
jogadores retornam ao Brasil para ganhar menos. Uns fazem isso
porque não agüentam mais de
saudade e outros porque não estão bem e não interessam mais
aos clubes de fora. São contratações de alto risco.
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