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ADMINISTRAÇÃO
Com medo da guerra entre facções, moradores abandonam projeto da prefeitura no complexo da Maré
Tráfico assombra centro olímpico no Rio
MARIO HUGO MONKEN
SÉRGIO RANGEL
DA SUCURSAL DO RIO
A guerra do tráfico entre facções
rivais no Rio obrigou centenas de
crianças a abandonar a Vila Olímpica da Maré (zona norte), o segundo maior centro esportivo da
cidade financiado pela prefeitura.
Localizada em um terreno de 80
mil metros quadrados de frente
para as favelas Nova Holanda e
Baixa do Sapateiro, a vila fica no
meio do conflito entre os traficantes do CV (Comando Vermelho)
e do TC (Terceiro Comando), facções criminosas que disputam o
controle do comércio de drogas
no complexo da Maré.
Parte da vila olímpica fica na
Nova Holanda, comandada pelo
CV. Parte fica na Baixa do Sapateiro, dominada pelo TC. A Maré
é a maior favela do Rio, à frente
até da Rocinha, segundo o IBGE.
Dos 11 mil inscritos (crianças,
adolescentes e idosos) na vila
olímpica, cerca de 15%, segundo
estimativa dos administradores,
não a frequentam por causa da
guerra entre os traficantes. O centro conta com escolinhas de 20
modalidades (futebol, vôlei, basquete e natação, entre outros).
"Nos últimos meses houve um
recrudescimento da violência fora
da vila olímpica. Isso fez com que
aumentasse o receio com a ida das
pessoas ao local, mas já estamos
tentando reverter esse quadro",
disse o secretário de Esportes do
município do Rio, Ruy Cezar.
Para tentar atrair as crianças de
novo para a vila, o secretário preferiu ignorar a polícia e vai ""negociar" com as crianças nas escolas.
"Estamos voltando a falar com
as escolas, único mecanismo que
temos. Não posso colocar a polícia. Se fizer isso, acabo com a vila
olímpica. A credibilidade de um
território de paz e segurança desaparece no momento em que colocar homens armados dentro."
Apesar de a prefeitura admitir o
problema, dificilmente um morador fala sobre o assunto, por temer represálias de traficantes.
O máximo que um dos pais ouvidos pela Folha disse foi que seu
filho de sete anos abandonou a vila olímpica "por ter medo de voltar lá", depois de fazer a primeira
aula. "Ele descobriu que havia
também crianças de outras favelas e ficou com medo de ser agredido. Nada aconteceu, mas ele já
ouviu muitas histórias de brigas."
Outros pais dizem que proíbem
os filhos de ir à vila por temer uma
retaliação de traficantes, caso seus
filhos cruzem "o muro invisível".
Líderes comunitários também
confirmam o temor das crianças
das favelas e de seus parentes.
A vila olímpica tem suas paredes pichadas por iniciais das facções do CV, do TC e até do PCC
(Primeiro Comando da Capital),
organização criminosa de São
Paulo. Quando há tiroteios, as
crianças correm para dentro do
ginásio, onde se protegem.
O portão principal da vila fica
quase na divisa entre as favelas.
Com medo dos disparos, os frequentadores do centro esportivo
preferem atravessar por dentro da
vila olímpica a linha imaginária
que separa as comunidades. "Eles
se sentem mais seguros, não gostam de passar pela rua", disse
Amaro Domingues, presidente da
ONG que administra o local.
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