|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
FUTEBOL
A guerra e o futebol
TOSTÃO
COLUNISTA DA FOLHA
A linguagem do futebol é
bastante relacionada à da
guerra. Com frequência, escutamos e lemos que a partida será
uma luta, uma guerra; que um time massacrou, bombardeou o
outro; que o jogador é artilheiro e
matador e, se for forte, um tanque
cujo chute é uma bomba, um canhão. Está na hora de mudar o
termo para míssil.
Nesta semana, a TV Globo de
Minas mostrou o técnico Celso
Roth, do Atlético-MG, gritando
no treino para que os jogadores
matassem a jogada. É perigoso dizer isso para o Cleisson.
Numa partida, o adversário é
visto como um inimigo que utiliza de todas as armas para vencer
a batalha. No final, o prêmio é
uma taça, símbolo da guerra conquistada.
As pessoas têm uma agressividade inata. Se estimulada, explode, principalmente quando estão
em grupo, como num estádio.
Um líder é capaz de espalhar
rapidamente a violência e o ódio.
Nesta situação, ninguém se sente
responsável pelos seus atos. O culpado é o grupo.
A guerra começou. Refiro-me à
guerra, e não a uma partida de
futebol. A guerra é decorrente de
interesses políticos e financeiros
de países e também da ambição,
intolerância, ódio e distúrbios
emocionais dos humanos. Um
grande número de inocentes vai
morrer. Absurdo!
A ética e o futebol
A ética é um código de conduta
humana, mais relacionado à atividade profissional. "A moral é
um sistema de regras, e a essência
de toda moralidade consiste no
respeito que o indivíduo sente por
tais regras." (Piaget)
Os filósofos gregos associavam a
ética com a felicidade. Com o
tempo, ela passou a ser virtude,
dever, obrigação. Contudo, em algumas situações, é melhor obedecer às regras da natureza e da
paixão do que às da sociedade e
da razão.
Aristóteles disse que a ética não
é uma ciência e, portanto, não pode ser ensinada. Jurandir Freire
Costa escreveu: "Ter caráter é um
aprendizado que depende do esforço individual, mas também
dos meios culturais à disposição
dos indivíduos".
Não existe um manual de ética.
Muitas situações são discutíveis e
temporárias. "Consulta aí por favor, o Livro de Ética, última edição: a gente ainda é obrigado a
falar bem dos mortos?" (Millôr
Fernandes)
Américo Faria disse que não há
nada errado em ser supervisor da
CBF e empresário de jogadores.
Aí é demais. Seria ainda mais
grave se ele fosse o técnico. Não
era ético também Pelé, no governo FHC, ser ministro dos Esportes
e empresário do setor.
As pessoas que exercem duas
funções incompatíveis se defendem, dizem que são honestas e
que sabem diferenciar uma coisa
da outra. Porém é preciso se afastar das tentações. O homem pode
ser corrompido até que prove o
contrário. Além do mais, dá
chance à desconfiança e à dúvida.
Discordo, mas compreendo o
apoio público que o Parreira e o
Zagallo deram ao Américo Faria.
Eles são amigos há muito tempo.
A maioria faria o mesmo. Tenho
esperanças de que, quando estiverem sozinhos, Parreira tenha dito
ao amigo que não é correto fazer
as duas coisas.
Geninho foi muito criticado
porque se transferiu do Atlético-MG para o Corinthians. Se os profissionais de todas as áreas mudam de trabalho, por que os treinadores não podem fazer o mesmo, desde que seja respeitado o
que está escrito no contrato?
Seria antiético se Geninho tivesse uma relação de amizade com o
Atlético-MG, garantisse que não
sairia e, de repente, fosse embora.
Isso seria uma grande decepção.
Ouço muito dizer que a relação
de um jogador e um técnico com o
clube tem de ser profissional, no
seu amplo sentido. Concordo.
Mas ela não pode ser fria, apenas
de obrigações e direitos. É necessário também afinidade e cumplicidade. Só assim a relação será
eficiente, prazerosa e duradoura.
Decisão carioca
O Vasco tem todas as chances de
ganhar o título do Estadual diante do Fluminense, hoje. No primeiro jogo, houve equilíbrio, mas
prevaleceu a melhor qualidade
individual dos vascaínos. Marcelinho foi decisivo.
Como escreveu Fernando Calazans, é nítida a diferença técnica
entre os jogos finais de São Paulo
e os do Rio de Janeiro. É a realidade. Se as equipes cariocas não melhorarem, elas terão raríssimas
chances de conquistar o Campeonato Brasileiro.
E-mail
tostao.folha@uol.com.br
Texto Anterior: IRL corre nos EUA, mas de olho no Iraque Próximo Texto: Panorâmica - Atletismo: Recordista desiste da Maratona de Londres Índice
|