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FUTEBOL
Só faltaram gols
TOSTÃO
COLUNISTA DA FOLHA
Brasil e França fizeram um
gostoso e equilibrado jogo. Só
faltaram gols. O time brasileiro
teve mais chances de marcar, e a
França, as melhores oportunidades. Das estrelas, só Zidane foi
muito bem. Com a sua saída, acabou o brilho da França.
A França tem mais deficiências
do que o Brasil. Os dois laterais
não sabem atacar, e os quatro defensores se adiantam, ficam em linha e deixam grandes espaços
nas costas. Roberto Carlos e Cafu
tiveram liberdade, já que os armadores pelos lados (Zidane e Pires) pouco marcavam e os laterais
franceses fechavam para o meio
da área. O Brasil não aproveitou
bem os espaços pelas laterais.
O maior mérito do Brasil foi
mostrar um bom conjunto e jogar
bem, mesmo sem o brilho dos craques. O empate teve mais valor do
que a vitória sobre a Hungria.
Nos dois últimos jogos, houve
progressos com a presença do Juninho, um volante que marca e
tem habilidade para atacar. Já
Edmílson, Zé Roberto e Edu se limitam a proteger os zagueiros e
tocar a bola para os lados, como
fazem dezenas de volantes. É pouco para uma seleção brasileira.
Cris e, principalmente, Luisão,
mostraram que estão no nível do
Lúcio, Roque Júnior, Juan e Edmílson. Luisão pode evoluir bastante. Ele já tinha jogado bem logo após a Copa e não foi mais
convocado. Isso mostra que Parreira não deveria valorizar tanto
os zagueiros campeões do mundo.
Kaká é mais veloz, aguerrido e
forte do que Alex e merece ser o titular. Mas Alex e Ronaldinho
Gaúcho se entendem profundamente pela inteligência, pelo
olhar e pelos movimentos do corpo. Parreira deveria aproveitar
mais o Alex durante as partidas e
não só quando Kaká se contunde.
Muitos insistem na presença de
Kaká, Ronaldinho Gaúcho e Alex
juntos, além do Ronaldo. Parreira, Zagallo, Luxemburgo (conhece bastante o Alex) e outros já disseram, com razão, que não dá para todos serem titulares. Poderia
ser uma opção em certos momentos, como comentou Falcão.
Não se pode ter apenas dois
marcando no meio-campo. Seria
a volta do 4-2-4. Na Copa de 58,
há 46 anos, o ponta Zagallo percebeu isso e foi ser o terceiro armador. Quando o time recuperava a
bola, ele avançava pela lateral.
Contra a Argentina, no Mineirão, vão aumentar os pedidos para o Parreira escalar o Alex no lugar do Zé Roberto. Algumas dessas opiniões são por convicção e
merecem ser respeitadas. Muitas
outras serão para fazer média
com o torcedor mineiro.
Vaidades
Como adoeci no dia de viajar de
férias (agora estou bem), aproveitei o tempo ocioso para reler excelentes livros ("Angústia", de Graciliano Ramos, e "O Amanuense
Belmiro", de Cyro dos Anjos), ver
ótimos filmes, como "Diários de
Motocicleta", de Walter Salles, e
assistir a todas as partidas pela
TV. Continuo viciado em futebol.
Luxemburgo substituiu Leão, e
o Santos continua mal. O novo
técnico fez uma mudança tática
ao colocar Elano pela esquerda.
Ele ficou torto, jogou mal e pode
perder a posição para Ricardinho. Gostaria de ver o Santos
atuar como em 2002, quando foi
campeão. O time jogava com dois
volantes, três meias e um atacante fixo. Robinho e Elano faziam
duplas com os laterais. Robinho
ia ao meio no momento certo.
Não sei por que Leão mudou a
maneira de jogar e escalou três
volantes no meio-campo e três
atletas mais adiantados (Diego
próximo do Robinho e de outro
atacante). Robinho corre, desordenadamente, no ataque. Quando chega na bola, está cansado.
Luxemburgo nunca repetiria o
esquema de 2002 adotado pelo
Leão. Além de suas convicções, a
sua vaidade não permitiria. Tem
de fazer algo diferente. Da mesma
forma, Leão não deve escalar o
Cruzeiro como Luxemburgo fez
no ano passado e que deu tão certo. As suas preferências e vaidade
também não deixariam.
É evidente que todo técnico tem
o seu estilo. Mas há momentos em
que é preciso repetir e aprender
com as coisas boas que foram feitas. Paulo César Gusmão quis
inovar no Cruzeiro, provar que
não seria um repetidor do seu
mestre Luxemburgo, mas suas
mudanças táticas e substituições
foram surpreendentes e ruins.
Uma das grandes dificuldades
da maior parte das pessoas, em
qualquer atividade, é a de ter
uma profunda admiração, uma
inveja saudável por profissionais
da mesma área e de ter a humildade em aprender e reconhecer
que o outro possa ser melhor, pelo
menos em certas características.
E-mail: tostao.folha@uol.com.br
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