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Janela para o passado
DO ENVIADO A IWATA
O técnico Luiz Felipe Scolari, conhecido pelo seu temperamento forte, viveu em paz no Japão como em nenhum outro lugar.
Em Iwata, o técnico não sofreu
pressão de torcida (da ""turma do
amendoim"), ficou muito longe
da imprensa (sempre teve relação
complicada com os jornalistas) e
pôde gozar de vida simples e confortável (a simplicidade é uma
forte característica sua).
A casa em que Scolari viveu em
Iwata, visitada pela Folha (veja fotos nesta página), é ocupada hoje
por um casal, Yuzo, 30, e Harumi
Yoshida, 31, e um bebê de apenas
três meses, a filha Mana.
Os pais de Harumi ficaram com
a residência, tipicamente japonesa e localizada em um bairro bastante tranquilo, depois que Scolari deixou o Japão em 1997.
""Gostamos de Scolari, uma pessoa forte. O Japão perdeu, e estamos torcendo pelo Brasil. Meu pai
tratou com ele quando de sua saída para o Brasil. Nada foi mudado", disse Harumi, que está na casa desde que o bebê nasceu -antes, os pais ficavam na residência.
O treinador da seleção brasileira
aproveitou a ida para Shizuoka,
onde a equipe bateu a Inglaterra
nas quartas-de-final da Copa, para visitar a cidade que o acolheu
tão bem em 1997. Em Iwata, visitou alguns amigos.
""A Olga [mulher de Scolari"
adorava viver no Japão. Não queria sair de jeito nenhum. A escola
dos guris [os dois filhos do casal"
era do lado de casa. Eles iam andando. A gente conhecia o pessoal na vizinhança e fazia churrasco. Foi um tempo maravilhoso
que passei no Japão", diz Scolari.
A casa do técnico é próxima do
estádio e do centro de treinamento do Júbilo Iwata, clube que pertence à poderosa empresa Yamaha e tem como patrocinador a
multinacional suíça Nestlé -a
Volkswagen também é acionista.
A estrutura que o clube japonês
oferece é ótima, e Scolari era tratado como rei. Diretores do clube
costumavam até levar e buscar o
treinador em sua casa.
Em conversa com jornalistas
antes de sua chegada à Ásia, o técnico disse que deixou o Japão e
voltou ao Brasil porque ganharia
um salário bem maior e teria a
chance de treinar um time que
gostava muito, o Palmeiras.
""Só peguei a proposta do Palmeiras porque era irrecusável. Tinha afinidade com o clube [pela
ascendência italiana]", disse.
Scolari teve convite para voltar
também ao Grêmio, clube que o
projetou para o futebol brasileiro,
mas encarou o desafio de trabalhar no futebol paulista, um centro que o deixaria certamente
mais perto da seleção brasileira.
Mais tarde, com Wanderley Luxemburgo no comando da equipe
nacional, o gaúcho optou por dirigir o Cruzeiro -o ambiente
mais tranquilo de Minas Gerais
poderia oferecer ao técnico um
pouco da paz que teve no Japão.
Após a saída de Scolari, o Júbilo
Iwata manteve o espírito do técnico brasileiro. Takashi Kuwara,
que foi treinado pelo gaúcho, assumiu a equipe e manteve o estilo
""pegador."
Dunga, também gaúcho, virou
conselheiro da equipe. Takahara,
atacante que se destacou no clube,
foi jogar até no Boca Juniors, time
argentino famoso pela raça.
""Iwata é uma cidade pequena,
mas tem muitos brasileiros na região. O Júbilo e o Kashima são times grandes em cidades pequenas do Japão. Aqui, você se sente
em uma família", disse Dunga.
A torcida do Júbilo, tida como a
segunda maior do país hoje, é
muito ativa, também uma herança de Scolari, que costuma transformar em verdadeiros alçapões
os estádios de seus times.
Há uma preferência no Júbilo
pela contratação de brasileiros,
apesar de o clube contar nos últimos anos também com estrangeiros de outras nacionalidades.
Após a Copa, o técnico da seleção poderia trabalhar no exterior
em um clube. O Júbilo já manifestou o desejo de contar de novo
com Scolari. ""Não fizemos ainda
um convite para ele. Mas gostaríamos de tê-lo conosco. Gostamos
de profissionais sérios, que sejam
competitivos, tenham raça e espírito de luta, como Scolari", disse
Shizuo Tsuji, diretor do Júbilo
Iwata. (RODRIGO BUENO)
Colaborou Fábio Victor, enviado
especial a Saitama
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