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FUTEBOL
Jogo gostoso e maluco
TOSTÃO
COLUNISTA DA FOLHA
Brasil e Uruguai fizeram um
jogo divertido e maluco. Só é
mais esquizofrênico a injustiça e
a violência do mundo atual. O time brasileiro esteve muito perto
de dar uma grande goleada e
quase perde. A irregularidade dos
times e jogadores foi uma característica da partida. Regular e ruim
só o Lúcio durante os noventa minutos. Está na hora de experimentar os excelentes zagueiros da
seleção sub-23.
No primeiro tempo, o Brasil teve uma atuação primorosa, facilitada pela péssima marcação do
Uruguai, que só tinha dois jogadores no meio. No segundo, o técnico uruguaio fez uma modificação tática, colocou o time mais no
ataque e escalou os dois melhores
jogadores (Recoba e Chevantón),
que estavam na reserva.
Mas não foram essas mudanças
e nem a queda do Brasil as principais causas da virada, e sim os
mistérios do futebol. Quando o jogo estava 2 a 0, mesmo no segundo tempo, a seleção tinha muito
mais chances de fazer 5 a 0 do que
o Uruguai marcar três gols.
O técnico Carrasco terminou o
primeiro tempo como "maluco",
burro e irresponsável, por dar
tanta liberdade aos craques brasileiros. No final do jogo era chamado de estrategista, corajoso e
genial. Não sei qual dos conceitos
está mais perto da verdade. O
tempo dirá. Algumas vezes a loucura está perto da genialidade.
Apesar dos riscos de levar uma
goleada, fiquei ainda mais convicto de que é mais fácil ganhar
do Brasil jogando no ataque do
que na defesa. Porém, o adversário não precisa arriscar tanto. O
Peru teve chances de vencer o
Brasil com um time mais equilibrado, que atacou e marcou bem.
Até fora de campo foi diferente
e contraditório o comportamento
do técnico uruguaio. Ele tinha a
mesma cara nos gols no Uruguai
e do Brasil. Luxemburgo deve ter
ficado curioso para saber a grife
do terno que o Carrasco usava.
Mas não é a sua cor preferida.
O técnico uruguaio teria dito
dias antes do jogo que conhecia
mais de futebol do que o Parreira.
Não sei se ele é melhor, mas certamente é muito mais imprevisível.
Após a partida, estava louco para
assistir à sua entrevista, para conhecê-lo melhor.
Fiquei curioso. Sou psicólogo de
botequim. Mas quase só mostraram o Parreira. Os delirantes são
muito mais interessantes do que
os racionais.
Foi uma atípica e deliciosa partida. Saiu da mesmice. Mas não
serviu de referência para se fazer
uma análise técnica correta, e sim
para confundir torcedores, comentaristas e o Parreira. O técnico não deve ter entendido nada.
Nem eu. Foi coisa de doido.
Semanas atrás, escrevi que talvez falte ao futebol um técnico revolucionário, sonhador e racional, mistura de Dom Quixote e
Sancho Pança. Seria a união do
Carrasco com o Parreira. A loucura e a razão. O perigo é o lado
sonhador agir quando é preciso
ser racional e vice-versa. Aí ficaria ainda mais doido.
Fui dormir com a dúvida se os
verdadeiros loucos são os raros
que subvertem a ordem, a razão e
não aceitam a realidade ou são os
que seguem esse maluco mundo.
Palpites
Continuam os pedidos de torcedores e da imprensa para o Alex
entrar no lugar do Zé Roberto e
não do Kaká. Alex, Kaká, Ronaldinho Gaúcho e Diego não têm
características para jogar na posição do Zé Roberto, marcando no
campo do Brasil e chegando ao
ataque. Vão se tornar jogadores
comuns. Daria certo se o time jogasse com dois volantes e dois
meias ofensivos próximos dos
dois atacantes. É uma boa opção
durante algumas partidas.
Quase todas as principais seleções do mundo têm quatro no
meio-campo (dois volantes e um
armador de cada lado). Os dois
armadores defendem e atacam. O
Brasil tem três no meio. Se entrar
o Alex ou outro meia ofensivo no
lugar do Zé Roberto, ficam apenas dois na marcação. Na dá. O
que não se pode é os três do meio-campo não avançarem, como
aconteceu contra o Peru.
Zé Roberto ataca e defende bem
e merece ser titular, independentemente de sua ótima atuação
com o Uruguai. Mas é preciso
buscar alternativas. Há um ano
Ricardinho era esse jogador. Juninho Pernambucano pode jogar
pela esquerda, mas ficará um
pouco torto. Minha grande esperança é o Robinho. Apesar de jogar no Santos e na seleção sub-23
como atacante, Robinho tem talento, velocidade e inteligência
para marcar no seu campo e chegar à frente, como no gol da seleção pré-olímpica contra o Santos.
E-mail: tostao.folha@uol.com.br
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