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FUTEBOL
Momento histórico
TOSTÃO
COLUNISTA DA FOLHA
Alguns dirigentes tentaram
paralisar o campeonato, o
que seria uma desobediência à
lei. Imaginaram que a pressão
forçaria o governo a adotar uma
medida provisória e tiveram de
recuar, devido à posição firme do
ministro do Esporte, Agnelo Queiroz, e da reação dos torcedores.
Os dirigentes são os responsáveis pela segurança nos estádios,
como são os promotores de todos
os espetáculos. Isso não dá para
negociar. O Código de Defesa do
Consumidor é uma das maiores
conquistas da sociedade brasileira. No início, em 1991, parecia
também utópico, como falam alguns dirigentes sobre o Estatuto
do Torcedor.
Garantir os direitos e cobrar os
deveres dos torcedores é básico,
essencial, para que existam estádios seguros e decentes. Dirigentes
que não estiverem em condições
de assumir responsabilidades não
podem ocupar cargos. Viver é
também assumir pequenas e
grandes responsabilidades. "Viver é perigoso." (João Guimarães
Rosa)
Todos os artigos foram mantidos na íntegra. Alguns só vão valer daqui a seis meses. Outros, já
estão valendo, como fixação de
tabelas e borderôs na entrada dos
estádios, sorteio público dos árbitros, monitores para orientar a
torcida, um médico, dois enfermeiros e uma ambulância para
cada 10 mil torcedores, comprovante de compra de ingresso, estacionamento (mesmo pago),
boas condições para idoso, criança e deficiente físico e banheiros
limpos e em número suficiente.
O torcedor precisa reclamar os
seus direitos e cumprir as obrigações. Por outro lado, é compreensível que muitas coisas levarão
tempo para funcionar bem. Para
isso, são necessárias campanhas
de esclarecimento, como na época
da implantação do Código do
Consumidor.
Por que, só depois de mais de
um ano de discussões, os clubes
tentaram radicalizar? Foi uma
decisão planejada ou súbita, já
que muitos dirigentes e clubes
não foram convidados ou não sabiam do motivo da reunião?
Penso que alguns dirigentes
prepotentes tinham certeza de
que o Estatuto do Torcedor e o
projeto de moralização do esporte
não seriam aprovados no Congresso nem sancionados sem vetos pelo presidente. Depois, acharam que nada era para valer e
que tudo seria resolvido na votação do Estatuto do Desporto, que
vai incorporar essas leis.
De repente, levaram um susto e
perceberam que alguns artigos já
estavam valendo. Entraram em
pânico. Daí, a decisão precipitada
de afrontar a lei e pressionar o governo. Agora, acusam-se sobre
quem foi o mentor da desastrada
atitude.
Muitos dirigentes, para não serem fiscalizados e viverem à margem das leis, sempre disseram que
o futebol é assunto privado. Não
querem dar satisfações a ninguém, a não ser aos seus amigos
conselheiros de clubes e federações.
Isso terminou. Para sempre. O
futebol é um esporte de interesse
público e comercial. Será fiscalizado como qualquer empresa. O
dirigente passa a ser responsável
pelos seus atos.
Porém o confronto não terminou. Vão tentar mudar muitos
artigos na votação do Estatuto do
Desporto. Não conseguirão. Poderão aperfeiçoá-los. A sociedade
está atenta. Os torcedores precisam cobrar dos dirigentes de seus
clubes.
Metade dos clubes se posicionou
contra a paralisação do campeonato. Isso é muito importante. Os
dirigentes sensatos já perceberam
que o país está mudando. Os cartolas que não se adaptarem ao
novo cenário, terão de deixar os
seus cargos.
Alguns dirigentes contrários à
paralisação foram contundentes.
Paulo Carneiro, presidente da
empresa que administra o Vitória, deu uma aula de cidadania e
de sensatez ao presidente do Cruzeiro, Alvimar Perrella, num debate na ESPN Brasil.
O presidente do Conselho Deliberativo do Atlético-MG, Alexandre Kalil, teve uma atitude digna,
ao deixar o futebol do clube, por
discordar do apoio do presidente
à paralisação.
Corinthians, São Caetano, São
Paulo, Paraná, Vitória, Figueirense, Bahia, Botafogo, Guarani e
Coritiba não concordaram com a
paralisação, o que não significa
que são a favor de todos os artigos. Alguns podem ser discutidos,
precisam ser aperfeiçoados, mas
não se pode descumprir a lei.
Este é um momento histórico do
futebol brasileiro. As leis precisam
pegar, no esporte e em toda a sociedade.
E-mail
tostao.folha@uol.com.br
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