São Paulo, domingo, 25 de agosto de 2002

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VÔLEI

Melhor bloqueadora do GP, meio se destaca pela impulsão, mesma qualidade de Aída dos Santos no salto em altura

Valeskinha confirma dote genético de mãe

MARIANA LAJOLO
DA REPORTAGEM LOCAL

Quando era pequena, Valeskinha sempre pensava um "e daí?" quando as pessoas a abordavam embasbacadas com o fato de ela ser filha de Aída dos Santos.
Na época, a fixação pelo esporte era só uma característica da mãe exigente, que colocou Valeskinha, 26, para fazer natação desde os dois anos -é a irmã do meio de Sérgio, o mais velho, e Patrícia. A lista de atividades que praticou por incentivo da mãe é grande.
"Quando eu cansava de um, minha mãe me colocava em outro. Balé, ginástica rítmica, basquete, vôlei, atletismo. Só não fiz ginástica artística, pois cansava muito."
Quando foi crescendo, ao mesmo tempo em que descobria a história da mãe, uma das melhores saltadoras do país (ver texto nesta página), Valeskinha passou a selecionar também os esportes que praticava. Parou no atletismo.
Seguindo os passos da mãe, fazia salto em altura, corrida com barreiras, arremesso de peso, sempre treinada por Aída dos Santos. "Não era moleza. Eu tinha que fazer tudo certo. Ela dizia que na pista não era minha mãe."
Valeskinha levava jeito no atletismo, mas foi outro esporte que a seduziu pouco tempo depois. Aída lecionava educação física na Universidade Federal Fluminense, em Niterói. Levava a filha para as aulas e a colocava batendo bola na parede. "Um dia ela me ensinava a dar toque, depois manchete... Eu ficava batendo bola e não perturbava as suas aulas", lembra.
Nas aulas da mãe, a menina entrava em quadra para completar os times. "Ela falava que eles só não podiam bater forte em mim."
Mas a proteção nem era necessária. Nas aulas da mãe, começou a mostrar habilidade no fundamento em que viria a se destacar.
"Quando eu bloqueava alguém, era a maior gozação. Afinal, eles eram mais velhos. Eu era uma menina de 13 anos", conta.
Um dia, no Botafogo, foi convidada pelo diretor de vôlei para fazer um teste. Não queria. "Eu falei para minha mãe que não ia usar aquela coisa horrível no joelho. Nem sabia o que era joelheira."
Mais uma vez, a mãe usou o conselho que Valeskinha guarda até hoje: "Vá lá e experimente. Se você não gostar, mude". Fez o teste e passou. No primeiro torneio, foi titular. E, quando obteve destaque, viu que era a hora de escolher entre vôlei e atletismo. "Vôlei era mais fácil. Tem seis na quadra. Atletismo cansava muito."
Foi a vez de Aída seguir os passos da filha. Até hoje a mãe joga torneios de veteranos. Foi campeã mundial em 2001, na Finlândia. "Joguei pela Sogipa na categoria acima de 60 anos", conta Aída.
Valeskinha começou a jogar com 15 anos, mas demorou 11 para chegar à seleção. Apesar de se destacar no meio-de-rede, sempre ouvia que lhe faltavam dez centímetros. "O Bernardinho disse que ela era baixa para seguir adiante no vôlei", lembra Aída.
Mas, no GP-2002, ela provou que os dez centímetros não fazem mais falta para quem tem sua impulsão. Foi a melhor bloqueadora do torneio -alcança a bola a 2,90 m do chão em um bloqueio.
O fato de ser filha de mãe saltadora, segundo ela, pode explicar tudo. "Acho que é genético. Não tem de onde eu tirar isso", diz.
Nem agora que se tornou uma jogadora consagrada e não tem mais Aída como técnica, Valeskinha escapa das cobranças da mãe.
"Ela liga para comentar os jogos, dizer que jogamos mal... Mas ela também elogia. É bom ver o orgulho da minha mãe. Assim como eu me orgulho dela", afirma.
As duas disputam para ver quem fica mais tempo fora de casa. Aída está sempre viajando para jogar vôlei -também treina atletismo. "Ela não pára. Tenho sempre que perguntar em que lugar ela está", diz Valeskinha.



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