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Copa 2002
Na cidade sul-coreana que abrigará a seleção na primeira fase da Copa do Mundo vivem oito famílias brasileiras
"Ulsan tupiniquim" espera time de Scolari
FERNANDO MELLO
ENVIADO ESPECIAL A ULSAN
A seleção de Luiz Felipe Scolari
será calorosamente recebida por
toda a comunidade brasileira de
Ulsan, hoje, a partir do momento
em que desembarcar na cidade.
A "multidão" de fãs que planeja
recepcionar a seleção no Hyundai
Hotel, o QG da primeira fase da
Copa, é composta por todos os 21
brasileiros que moram na cidade
sul-coreana, a 400 km de Seul.
Fazem parte do exército brasileiro na cidade oito famílias -oito homens, seis mulheres e sete
crianças/adolescentes.
Ontem pela manhã houve duas
baixas: o atacante Arinélson, ex-Santos, voltou com sua mulher
para o Brasil depois de ver rescindido seu contrato com o Hyundai
Horang-i, time da multinacional
coreana que é dona de boa parte
de Ulsan -tem o maior estaleiro
do mundo, rede de shoppings,
construtoras e a maior fábrica de
automóveis do país.
Um de seus proprietários,
Chung Mong-Joon, foi um dos
principais articuladores da vinda
do Brasil para Ulsan.
Vice-presidente da Fifa, Mong-Joon é um dos homens mais ricos
da Coréia do Sul e fez lobby com
Ricardo Teixeira, presidente da
CBF, para trazer o time de Scolari
para sua cidade.
A notícia de que a seleção viria
para Ulsan foi festejada pelos brasileiros daqui. Os mais excitados
são três atletas que atuam no Horang-i, vice da Copa Adidas, torneio nacional realizado em maio,
e sexto colocado na K-League, a liga nacional da Coréia.
Cléber, 33, ex-zagueiro do CSA-AL, é o mais experiente da equipe.
Veio para Ulsan em janeiro de
2001, ao lado de Marquinhos, 25,
meia do América-RN, e Paulinho,
25, ex-atacante do Joinville e vice-artilheiro da última K-League,
com um total de 11 gols.
"Perdi a artilharia para o Sandro
[do Samsung" no fim do campeonato, porque tive que operar o púbis", afirmou Paulinho.
Para se comunicar com os companheiros coreanos e com o técnico, os jogadores brasileiros contam com a ajuda da tradutora Lee
Mao-soon, que participa de todas
as atividades do time, ficando até
no banco durante as partidas.
O contrato dos três com o time
da Hyundai expira no fim do ano.
E todos, sem exceção, expressam
o desejo de continuar na Coréia.
"Gosto daqui. Quero renovar
por mais dois anos e encerrar a
carreira em Ulsan", diz Cléber.
O sentimento de gratidão à Coréia é visto também nos demais
integrantes da comunidade brasileira. Os outros homens do exército tupiniquim na cidade trabalham nas indústrias naval e petrolífera. Todos são profissionais
graduados e têm uma vida financeira aparentemente boa, com
suas casas e gastos com educação
dos filhos custeados pelas multinacionais a que são ligados.
Os brasileiros que não têm ligação com o futebol moram em um
condomínio para estrangeiros, a 1
km do hotel da seleção.
Anteontem à noite, promoveram com italianos, franceses, ingleses, noruegueses, indianos e
representantes de outros países
uma festa de celebração à Copa.
O mais antigo em Ulsan é o engenheiro Marcus Moura, que chegou à Coréia em 1996.
Carioca e torcedor do Fluminense, ele já conseguiu ingressos
para o único jogo da seleção brasileira na cidade, a estréia contra a
Turquia, no próximo dia 3.
"A vida aqui é boa, as pessoas
são gentis. Tenho saudade do Brasil, mas estou bem em Ulsan",
afirma Moura, casado com uma
brasileira e pai de dois filhos -o
mais velho, Rodrigo, 18, mora no
Havaí (EUA) e vem para Ulsan no
período da Copa do Mundo com
cinco amigos brasileiros.
A maior dificuldade apontada
pelos brasileiros para adaptação
na Coréia é a língua e a comida. "É
tudo apimentado, mas a gente se
acostuma. Agora, nem pensar em
aprender as letrinhas daqui. Em
casa, só sei apertar os botões de ligar e desligar do microondas", diz
o baiano Thales Fleming Lima, 38,
engenheiro da Hyundai, há dois
anos em Ulsan. Lima é casado
com Regiana, 27, e pai de duas filhas, Raquel, 6, e Esther, 3, também brasileiras.
Andre de Francesco, 47, também engenheiro naval, mora sozinho em Ulsan. "A pior coisa é ficar longe das minhas filhas, da
minha mulher. Até que gostaria
de viver no Brasil, mas é difícil alguma empresa dar oportunidade
para alguém da minha idade.
Apesar da distância, posso dizer
que sou feliz aqui", afirma.
Mas é a mulher de Lima, Regiana, que montou um curso de português na cidade, quem melhor
sintetiza o que sentem os brasileiros que vivem em Ulsan.
"Só tenho a agradecer aos coreanos. Sempre nos trataram
muito bem. O segredo é um só:
você tem que viver sem preconceito, saber respeitar a cultura
alheia e aproveitar. Se você abrir
os braços para o país, o país abre
os braços para você."
Colaborou Fábio Victor, enviado
especial a Kuala Lumpur
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