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MADE IN CHINA
Ingressos mostram "China real"
Repressão, desrespeito a filas e censura ao trabalho da imprensa marcam caótica venda de bilhetes
Mesmo ameaçados de prisão, cambistas oferecem no Ninho de Pássaro bilhetes até cem vezes
mais caros que nos guichês
DA REPORTAGEM LOCAL
Praticamente tudo que o governo chinês passou meses tentando amenizar (ou esconder)
aconteceu ontem durante a
venda da última carga de ingressos para a Olimpíada.
Caótico, o processo culminou com desrespeito a filas,
violência policial e cerceamento ao trabalho da imprensa.
Pelo menos 50 mil pessoas se
aglomeraram no entorno do
Estádio Nacional, o Ninho de
Pássaro, em busca das 250 mil
entradas remanescentes vendidas ali (outras 570 mil estão à
venda em diversas sedes olímpicas). Algumas chegaram a
dormir dois dias na quilométrica fila em busca de um lugar.
Quando os guichês se abriram, o hábito chinês de ignorar
filas e se acotovelar transformou os arredores do estádio no
palco de um conflito que poderia ser ainda mais grave.
A polícia teve de intervir para
conter a multidão, que se espremeu contra grades de ferro
na ânsia de chegar logo às bilheterias. Houve feridos, mas
nenhum com gravidade.
Somado a isso, a repressão
policial -que tirou da fila várias pessoas à força- revoltou
os pequineses. "A polícia não tinha nem idéia de quanta gente
viria aqui comprar ingressos,
foi uma desorganização total",
declarou um funcionário de
uma empresa postal.
A situação fez com que os policiais fossem xingados, ao que
responderam com agressões e
mais empurra-empurra. Tudo
sob sol forte e cerca de 30C.
Durante a confusão, um fotógrafo do jornal "Morning Post",
de Hong Kong, foi detido e levado a uma delegacia sob a alegação de que invadiu uma "área
de segurança" enquanto registrava cenas do conflito.
Mesmo ameaçados de prisão
por até 15 dias pelo governo,
cambistas circularam pelo Ninho de Pássaro oferecendo bilhetes até cem vezes mais caros. De acordo com a polícia, 60
deles foram presos ao serem
flagrados negociando bilhetes.
Oficiais à paisana e informantes estão vigiando todos os locais onde ainda há bilhetes.
Um ingresso para o esperado
jogo de basquete entre as seleções masculinas de China e Estados Unidos, por exemplo,
custava US$ 730 (cerca de R$
1.150) nas mãos dos revendedores (contra pouco mais de R$ 10
no guichê oficial).
O combate aos cambistas
acontece desde 5 de maio,
quando começou a terceira fase
de vendas. Segundo a agência
de notícias Xinhua, desde então
mais de cem pessoas foram
presas e processadas. Os bilhetes mais disputados são para a
cerimônia de abertura e para as
competições de atletismo, além
dos jogos de basquete.
Outro serviço bastante acessado pelos chineses é o de troca
de assentos (todos os ingressos
são nominais e numerados),
que pode ser feito uma única
vez e apenas no Banco da China. Há grande procura.
China mostra maior equipe de todos os Jogos
O país anfitrião da Olimpíada
apresentou ontem em Pequim
sua delegação, com 639 atletas,
a maior da história da competição. São 43 esportistas a mais
do que os EUA, seus rivais na
disputa pelo topo no quadro de
medalhas. Isso representa um
aumento de mais de 50% na
equipe chinesa que esteve em
Atenas, quando 407 chineses
representaram sua nação.
"Pela glória da mãe pátria, lutarei ferozmente, recorrendo a
todo o meu valor e a toda a minha energia para ser o primeiro", recitaram os esportistas,
em um juramento no qual ainda prometem "resistir a qualquer provocação".
Cui Dalin, vice-ministro da
China, tentou tirar a pressão
sobre os atletas pelo primeiro
lugar em medalhas de ouro ao
afirmar que eles vão encontrar
novos desafios por competir
em casa. "Há um grande espaço
entre os chineses do atletismo e
da natação em relação a outros
países", declarou ele.
Mas o chefe da delegação dos
EUA, Steve Roush, ressaltou
que a China tem uma "equipe
incrivelmente forte", com a
vantagem de competir em casa.
ATRAÇÃO BÉLICA
A China instalou uma base de
mísseis terra-ar nas cercanias
do estádio Nacional, junto a
uma estação de ônibus. Apesar
da proibição de acesso, o local
chamou a atenção de turistas e
chineses, que tiram fotos de
longe, apesar de alguns artefatos estarem camuflados. Guardas, que não podem falar com o
público, vigiam o complexo.
QUASE AZUL
Após medidas para reduzir a
poluição, houve uma queda de
20% nos elementos poluentes
encontrados no ar, como monóxido de carbono, segundo o
governo chinês. Ainda não é
possível ver um céu azul em Pequim, mas o nível de neblina diminuiu. Foram fechadas fábricas e suspensas obras, além da
criação de um rodízio de carros.
MARCHA TRIUNFAL
A China acrescentou dois segundos ao seu hino que será
executado na Olimpíada com o
objetivo de deixá-lo mais espetacular, segundo a diretoria da
Orquestra Sinfônica de Pequim. Agora, a "Marcha dos Voluntários" terá 50 segundos e
será tocada em tom mais suave.
NA TERRA DOS SHAOLIN
A tocha olímpica passou ontem pela cidade de Zhengzhou,
na província Henan, onde foi
criada a arte marcial do kung
fu, há 1.500 anos. Participaram
do evento os monges budistas
do templo shaolin, conhecidos
pela destreza na prática da luta.
IRAQUE
CHINESES LAMENTAM, MAS NÃO SE ENVOLVEM
O Comitê Organizador da
Olimpíada (Bocog) se manifestou ontem sobre a exclusão do Iraque, suspenso do
evento pelo COI por interferência política na entidade
que gere o esporte olímpico
do país. "Lamentamos a ausência do Iraque, mas isso é
um assunto interno do COI
sobre o qual nada podemos
fazer", afirmou Sun Weide,
porta-voz da organização. Os
iraquianos ainda tentam reverter a decisão do COI.
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