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FUTEBOL
Futebol robotizado
TOSTÃO
COLUNISTA DA FOLHA
Enquanto todas as principais seleções e equipes do
mundo, com exceção da Argentina, jogam com dois zagueiros e
dois laterais, muitos técnicos brasileiros preferem três autênticos
zagueiros. Esse esquema deveria
ser uma opção para priorizar o
ataque, e não a defesa, como
acontece.
Com três zagueiros, o time poderia marcar por pressão, ter alas
hábeis, velozes e ofensivos e apenas um volante. Troca-se um defensor por um meia ou atacante.
Ficam quatro no seu campo e seis
no do adversário. Quando se toma a bola mais à frente, os seis estão próximos do gol. Um dos três
zagueiros pode também avançar
com a bola e obrigar um dos armadores a desarmá-lo. Isso desestrutura a marcação.
Os técnicos em todo o mundo,
com raríssimas exceções como o
ex-técnico da Argentina Marcelo
Bielsa, colocam três zagueiros e
dois volantes marcando mais
atrás e alas que são mais laterais
marcadores do que apoiadores. O
time troca um armador ofensivo
ou atacante por um defensor. Ficam sete atrás e três na frente.
Nota-se, timidamente, uma
preocupação de alguns treinadores em avançar um dos volantes e
de pôr armadores rápidos e habilidosos na função de ala, como
acontece no Atlético-PR, dirigido
pelo Levir Culpi, com o ala-direito Fernandinho.
Porém, quando se joga com três
zagueiros e dois alas marcando
mais à frente, abrem-se espaços
na defesa, principalmente nas laterais, já que a tendência dos três
zagueiros é a de se juntarem no
meio da área. Isso não acontece
quando se atua com dois zagueiros e dois laterais. Nesse caso, um
dos laterais pode avançar, e o outro ficaria posicionado como um
terceiro zagueiro.
Uma equipe é mais ou menos
ofensiva muito mais pelo tipo de
marcação (na frente ou mais
atrás) e pela capacidade dos
atletas de defender e atacar do
que pelo desenho tático e pelo número de zagueiros, volantes e
atacantes.
O ideal é alternar numa mesma
partida a marcação por pressão e
a agressividade da seleção argentina com a prudência e o equilíbrio da brasileira. A busca do
equilíbrio é importante, como falam o Parreira e os técnicos brasileiros, mas quanto mais equilibrado mais risco existe de se romper esse equilíbrio. Na vida é também assim.
Parreira e Bielsa adotam estratégias bem diferentes, mas os dois
estão afinados quando se preocupam em definir uma única postura tática, repeti-la e impor os seus
estilos, contra qualquer rival.
Discordo dessa excessiva repetição. Um grande time deveria ser
capaz de variar a maneira de jogar, no momento certo. Em vez de
se preocupar tanto com os resultados nas eliminatórias, já que
não há perigo de desclassificação
para a Copa, Parreira deveria
procurar alternativas, sem confusões e pressa.
A seleção convocada nesta semana tem seis volantes para três
posições (Renato atua bem nas
três) e três centroavantes. Porém
não há um único atacante veloz e
habilidoso, que atue mais pelos
lados. Se os laterais forem bem
marcados, não existirão jogadas
pelos lados. Zagallo e Felipão utilizaram várias vezes o Denílson
pela ponta, com sucesso. Robinho
é muito melhor do que o jogador
do Betis.
Não são apenas os times brasileiros que estão robotizados, como disse o Leão. Taticamente, a
seleção também está. Essa dificuldade fica evidente quando o Brasil enfrenta um adversário um
pouco melhor, como a Alemanha.
Pela tradição, pelo prestígio e por
ter tantos craques, a seleção não
pode apenas vencer. Precisa encantar.
Alma coletiva
Santos e Flamengo fizeram uma
belíssima partida pela Copa Sul-Americana. O Santos, no ataque,
e o Flamengo, no contra-ataque,
criaram ótimas chances de gols.
Ricardinho foi o destaque da
partida.
Ricardo Gomes deve estar em
dúvida se o Dimba volta ao time:
um centroavante lento, sem habilidade, mas que sabe fazer gols. O
substituto Jean é veloz, hábil, mas
não sabe finalizar. Podem jogar
os dois e mais o Felipe, saindo um
do meio-campo. Aí piora a marcação. Não é fácil ser técnico.
Com qualquer formação, o Flamengo é outro time após o retorno do Zinho. Ao seu lado, nenhum jogador fica indiferente,
apático e sem uma alma coletiva.
Tudo sem discursos e confusões. É
o convencimento ético e solidário.
Essas coisas ainda existem.
E-mail
tostao.folha@uol.com.br
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