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FUTEBOL
Futebol, simetria e ilusão
TOSTÃO
COLUNISTA DA FOLHA
Há vários dias que observo
da varanda do meu quarto
e fico impressionado com a beleza, o tamanho e, principalmente,
com a simetria de uma teia de
aranha. Esta fica no centro exato
da teia. De vez em quando, a aranha sai do seu trono para buscar
um pequeno inseto que fica preso
na resistente rede de fios elásticos.
Após saciar a fome, a aranha retorna, descansa, dorme e sonha.
Não sei com o quê.
A simetria está presente em todos os lugares, na natureza, no
imaginário e nas ações das pessoas. Em algumas, é muito mais
marcante. São as mais ordeiras,
contidas e repetitivas. Querem
controlar tudo, até as emoções. É
uma maneira de evitar o desconhecido.
No futebol, há também uma
grande tendência à simetria. O
desenho tático mais utilizado é o
com dois zagueiros, dois laterais,
dois volantes, dois meias e dois
atacantes. Tudo simétrico.
O goleiro é único, um jogador à
parte, diferente. Tem até treinador particular. Ninguém fala que
o time joga no 1-4-4-2.
Para as duplas funcionarem
bem, os treinadores preferem jogadores com características diferentes. Um completa o outro. Há
um zagueiro rebatedor e outro
clássico; um lateral que avança e
outro recuado; um volante passador e outro pegador; um meia
ofensivo e outro defensivo; e um
atacante veloz, habilidoso e outro
estático, finalizador.
Os técnicos adoram atletas táticos e obedientes e times disciplinados e equilibrados. Adoram essa palavra. Para alguns jogadores, obedecer é também mais cômodo. Quando o time perde e joga mal, dizem que não cumpriram as ordens do "professor". Já
os técnicos justificam a derrota
dizendo (muitos não dizem, mas
pensam) que os atletas não fizeram o que tinha sido combinado.
Se o time vence, foi porque os jogadores foram determinados e
aplicados taticamente. O técnico
raramente diz que uma belíssima
jogada individual decidiu a partida. É sempre o grupo, o esquema
tático.
Alguns treinadores têm dificuldades em lidar com os craques.
Estes são, às vezes, indisciplinados taticamente, perturbam a ordem, inventam. São transgressores, no sentido de ir além, de ultrapassar as barreiras, e não no
de violar as leis e as regras.
A disciplina, a ordem e o equilíbrio são essenciais em qualquer
atividade, mas precisam estar associados à criatividade, à improvisação e à beleza.
Não basta ser eficiente; é necessário encantar e iludir (criar ilusões e não enganar).
"Perdendo as ilusões, também
perdeste a vida, pois deixar de iludir-se é deixar de viver." (Raimundo Corrêa)
Garotos de ouro
Independentemente da atuação
e do resultado de hoje, na final
contra o México, a seleção sub-23
foi muito bem na Copa Ouro.
Após duas partidas confusas,
Ricardo Gomes escalou os melhores jogadores e deu em pouco
tempo um bom padrão tático à
equipe.
O México é favorito por causa
da altitude, por jogar em casa e
com o time principal.
Luisão, Alex, Kaká e Diego confirmaram que podem jogar na seleção principal. Os outros também foram bem. Há pouca diferença entre os experientes volantes Emerson e Flávio Conceição,
que provavelmente serão convocados para as eliminatórias sul-americanas da Copa de 2006, e os
jovens Júlio Baptista e Paulo Almeida. Contudo Renato, do Santos, é hoje melhor do que os quatro.
Diego foi o destaque na vitória
contra os EUA. Ele perdeu novamente muitas bolas no meio-campo, porém teve participação
brilhante nos dois gols.
Jogo da rodada
Flamengo e São Paulo fazem o
jogo mais esperado da rodada. O
Flamengo jogou mal na estréia de
Oswaldo de Oliveira contra o Internacional, que estava bastante
desfalcado, mas venceu.
Com o entusiasmo pela chegada de um novo e bom treinador e
o retorno do Felipe, a equipe carioca poderá melhorar.
No meio da semana, o São Paulo perdeu sua invencibilidade
(eram nove jogos) para a Ponte
Preta, num jogo que teve dois dos
seus jogadores expulsos, no momento em que jogava bem e a
partida estava empatada.
Taticamente, o São Paulo está
muito bem. Mas só irá evoluir e
ter grandes chances de ganhar o
título quando retornarem Kaká e
Ricardinho.
E-mail
tostao.folha@uol.com.br
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