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Governo vai abater da dívida dos clubes gastos com formação de atletas
"Proer da bola" planeja indenizar fim do passe
JOSÉ ALBERTO BOMBIG
ENVIADO ESPECIAL A BRASÍLIA
O Ministério do Esporte e Turismo quer indenizar os clubes de
futebol pelo fim do passe -instrumento jurídico que prendia os
jogadores profissionais aos times.
A idéia faz parte de um pacote
de incentivos do governo aos
principais clubes. O "Proer da bola", como já é chamado o conjunto de medidas, inclui empréstimos e parcelamento de dívidas.
O último cálculo do governo
aponta uma dívida previdenciária
e trabalhista de R$ 350 milhões
dos clubes brasileiros. Somam-se
a esse valor os débitos com a Receita Federal, que são sigilosos.
Saudada como o marco na história do futebol, a medida provisória que pôs fim ao passe foi sancionada em março do ano passado pelo presidente Fernando
Henrique Cardoso.
Na época, os dirigentes esportivos, contrários à MP, afirmaram
que ela representaria a falência financeira das agremiações, pois o
passe significava quase a maior
parte da receita dos clubes. Já o
governo disse que a MP poria
"fim à escravidão" no futebol.
Pelo novo plano do ministério,
os gastos das equipes na formação
de jogadores poderão ser abatidos
da dívida com o governo. "Sem a
Lei do Passe, muitos times perderam uma grande fonte de renda.
Isso é inegável", afirmou José Luiz
Portella, secretário-executivo do
Ministério do Esporte.
Ele recusa o rótulo de "Proer da
bola", em alusão ao programa do
governo que em 1995 socorreu
bancos. "Não vamos anistiar dívidas nem dar dinheiro a fundo
perdido." Mas afirma ser impossível transformar o futebol brasileiro sem que o governo auxilie os
clubes financeiramente. "Nos países da Europa foi assim."
Segundo Portella, o BNDES
(Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social) poderá criar novas linhas de crédito
para os clubes, principalmente
para investimentos em estádios.
O abatimento das dívidas também irá beneficiar agremiações
que criarem programas sociais
com crianças carentes em suas escolinhas de futebol. Além disso,
os débitos serão renegociados e
parcelados. "Tudo ainda será estudado por uma comissão interministerial", disse Portella, que
ainda não sabe quanto o BNDES
poderá emprestar às equipes.
Mas, para receber os benefícios,
os clubes terão que aderir à MP
39, sancionada em junho último e
que está no Congresso para ser
votada até o final do ano.
Assim, só serão ajudados pelo
governo os clubes que se transformarem em empresa. "Não abrimos mão disso", afirmou Portel-la. Grandes clubes do Brasil, como
o Vasco, por exemplo, são frontalmente contra a MP e prometem desfigurá-la com emendas.
Dependência
De acordo com estimativas da
área de direito desportivo do escritório Demarest & Almeida, de
São Paulo e do Rio, quando o passe foi extinto ele representava
52% da receita dos clubes. "Não
pensaram nas consequências de
acabar com a escravidão", disse
Leonardo Serafim dos Anjos, um
dos advogados do escritório.
Portella não cogita a volta do
passe. "Não há passo atrás." Diz
que o auxílio às equipes formadoras será importante no momento
de transição para um modelo que
trará novas fontes de receita.
Sem o dinheiro da venda de jogadores, as equipes aumentaram
sua dependência das cotas de televisão, que hoje representa até
70% da receita de alguns times.
Segundo cálculo do Clube dos
13, os times grandes acumulam
dívidas de quase R$ 1 bilhão.
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