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À cubana, Venezuela naufraga
Com maior delegação da história e previsão de 5 medalhas, país conquista só um bronze em Pequim
Incentivador da importação de técnicos de Cuba, que foi mal na China, Hugo Chávez quer dinheiro do petróleo para forjar campeões
FABIANO MAISONNAVE
DE CARACAS
No rastro da péssima participação de Cuba nos Jogos Olímpicos (antes potência, o país foi
apenas o 28º colocado em Pequim), também naufragou a
pretensão de grandeza esportiva da Venezuela e de seu presidente, Hugo Chávez.
Amigo e confidente de Fidel
Castro, Chávez apostou todas
as suas fichas no modelo cubano de gestão esportiva e, com a
maior delegação da história de
seu país, esperava recepcionar
uma equipe bem mais medalhada do que o modesto bronze
solitário exibido por Dalia Contreras, atleta de taekwondo, a
única venezuelana premiada
entre 109 membros.
O resultado foi pior do que há
quatro anos, em Atenas, quando ganhou dois bronzes, com
47 atletas. Na 81ª posição, o
país ficou atrás da vizinha Colômbia (65º), com quem mantém uma rivalidade parecida à
de Brasil e Argentina.
Diante da frustração, Chávez
-principal incentivador da importação de diversos treinadores cubanos- agora quer usar o
dinheiro do petróleo para atingir seus objetivos.
Ele designou a principal empresa da Venezuela, a estatal
petrolífera PDVSA, cujo faturamento equivale a um terço do
PIB nacional, para gerenciar o
esporte de alto rendimento.
"Que a PDVSA abra escritório
para atender aos atletas de alto
rendimento, fazer assembléias
e ouvir competidores, seus problemas e necessidades."
A intervenção da estatal em
outros setores que não a exploração de petróleo tem sido uma
constante desde que Chávez assumiu. É dele uma proposta
que cria filiais não petrolíferas
da companhia para cuidar de
coisas díspares, como a produção de bens de consumo (eletrodomésticos e sapatos).
Sob o slogan "Ouro à Revolução Olímpica", a delegação venezuelana embarcou rumo a
Pequim incensada por um
bombardeio publicitário e com
a previsão do governo de cinco
medalhas. Voltou humilhada
pelos inimigos americanos e
em meio a um bate-boca em
torno da politização do esporte
pelo seu presidente.
Nas semanas que antecederam os Jogos, comerciais de
TV, outdoors gigantescos e declarações oficiais inundaram o
país martelando o slogan oficial. O softbol, maior esperança
de medalha, fez um jogo de despedida em Caracas contra Cuba
no qual Chávez estava no banco
como treinador assistente.
Foi justamente o softbol o
primeiro de uma série de decepções. Logo na estréia, foi
atropelado pelos EUA: 11 a 0.
Desnorteado, o time nem sequer passou à segunda fase.
No meio dos Jogos, já com o
iminente fracasso, Chávez esnobou na TV que "o quadro de
medalha não nos importa" e
acusou os "oligarcas" de celebrar as derrotas no softbol (no
final, os EUA perderam o ouro
para a seleção japonesa).
"Os vende-pátrias estão alegres pelas derrotas diante dos
EUA e da China. Os filhos de
pedra se alegram porque não
têm pátria", afirmou Chávez,
no último dia 17, usando "pedra" para suavizar um xingamento conhecido.
As críticas à atuação do governo aumentaram nos últimos dias, quando o fracasso já
estava decretado. "Influenciou
muito o peso político que se colocou nos ombros dessas meninas. Foi como nomear uma jovem recém-formada para gerente de uma empresa", disse a
jornalistas Jesús Suniaga, presidente da Federação Venezuelana de Softbol. "As meninas se
sentiram como um presunto
dentro de um sanduíche."
No Congresso, o deputado Ismael Garcia, um ex-aliado de
Chávez, criticou principalmente a campanha publicitária.
"Mais do que revisar o gasto investido na preparação dos atletas, seria necessário revisar
quanto dinheiro foi gasto pelo
governo em propaganda."
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