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VÔLEI
Nova comissão técnica combate automatismo e impõe ao time feminino exercícios que melhoram postura e flexibilidade
Trupe de Zé Roberto "endireita" a seleção
MARIANA LAJOLO
DA REPORTAGEM LOCAL
"Puxar ferro" já não basta. Para
deixar as jogadoras em forma e
prontas para buscar o inédito ouro em Atenas-2004, a nova comissão técnica revolucionou a preparação física da seleção feminina.
Com a chegada do técnico José
Roberto Guimarães e sua trupe,
há pouco mais de dois meses, os
tradicionais pesos e esteiras ganharam a companhia de colchões, molas, passos de dança de
salão e exercícios que de longe parecem inofensivos, mas têm feito
as atletas "sofrerem".
"Você chega no fim da semana
sem saber o rumo de casa. Queima tudo. Mas quando me vejo na
quadra com uma postura melhor
e, principalmente, com o meu joelho problemático numa boa, lembro que vale a pena", afirmou a
meio Walewska, exausta após
uma sessão de exercícios de Kabat
sob a orientação de José Elias, preparador físico do time e principal
entusiasta dos novos métodos.
Entres as técnicas levadas por
ele à seleção também estão RPG
(reeducação postural global), Pilates e Cadeias. Elas agem de formas diferentes, mas têm objetivos
comuns como alongamento, flexibilidade e melhora da postura.
Para isso, a principal palavra
usada nos treinos físicos tem sido
concentração. "A jogadora precisa ter controle do movimento. Estamos batalhando contra anos de
automatismo", contou a ex-jogadora Ana Moser, assistente técnica do time, após comandar uma
série de 45 minutos de Pilates, que
concentra suas ações principalmente nos músculos abdominais.
Durante a sessão, muitas atletas
demonstraram cansaço, falta de
concentração e não conseguiram
sustentar certos exercícios.
"No começo, elas se irritavam
muito porque não cansam só o
corpo, a cabeça tem de trabalhar",
explicou Zé Elias. "Mas, quando
começaram a ver que estavam pegando mais peso na musculação,
por exemplo, elas passaram a
acreditar mais e a se empenhar."
O reflexo do trabalho começará
a ser visto a partir de terça-feira,
quando a equipe faz seu primeiro
grande teste em uma série de
amistosos contra os EUA.
A maioria das jogadoras está experimentando esse tipo de trabalho pela primeira vez. E, apesar
das dificuldades de adaptação,
tem gostado dos resultados.
"Eu sinto que estou com uma
postura melhor, com a coluna
mais reta", contou a meio Carol,
uma das novatas da equipe.
Outras, como Fernanda Venturini e Elisângela, já usavam as terapias para tentar controlar problemas crônicos. "Depois da gravidez [em 2002], eu entrei na RPG
por causa das dores na cervical",
explicou a veterana levantadora.
Zé Elias começou a inserir essas
técnicas alternativas em seu dia-a-dia em 1994, impulsionado pelo
problema de Douglas Chiarotti.
Quando voltou do Mundial de
Atenas, o atacante teve uma artéria bloqueada próxima ao ombro.
A indicação era para cirurgia.
Na época, o preparador físico
fazia RPG e, em uma conversa
com sua terapeuta, percebeu que
o problema poderia ser só um
bloqueio mecânico. "Em oito dias
ele já estava bom", relembrou.
A emergência foi o impulso para ele buscar novas alternativas,
que não deixaram de fora nem as
condições psicológicas das atletas. No aquecimento da seleção,
elas ensaiam até passos de dança
de salão. Ao mesmo tempo que
prepara os corpos para o trabalho, Zé Elias também cuida da sociabilidade do grupo.
"Elas fazem os exercícios sem
saber que estão fazendo. Também
precisam se divertir", disse ele.
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