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São Paulo, domingo, 28 de setembro de 2003

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VÔLEI

Nova comissão técnica combate automatismo e impõe ao time feminino exercícios que melhoram postura e flexibilidade

Trupe de Zé Roberto "endireita" a seleção

MARIANA LAJOLO
DA REPORTAGEM LOCAL

"Puxar ferro" já não basta. Para deixar as jogadoras em forma e prontas para buscar o inédito ouro em Atenas-2004, a nova comissão técnica revolucionou a preparação física da seleção feminina.
Com a chegada do técnico José Roberto Guimarães e sua trupe, há pouco mais de dois meses, os tradicionais pesos e esteiras ganharam a companhia de colchões, molas, passos de dança de salão e exercícios que de longe parecem inofensivos, mas têm feito as atletas "sofrerem".
"Você chega no fim da semana sem saber o rumo de casa. Queima tudo. Mas quando me vejo na quadra com uma postura melhor e, principalmente, com o meu joelho problemático numa boa, lembro que vale a pena", afirmou a meio Walewska, exausta após uma sessão de exercícios de Kabat sob a orientação de José Elias, preparador físico do time e principal entusiasta dos novos métodos.
Entres as técnicas levadas por ele à seleção também estão RPG (reeducação postural global), Pilates e Cadeias. Elas agem de formas diferentes, mas têm objetivos comuns como alongamento, flexibilidade e melhora da postura.
Para isso, a principal palavra usada nos treinos físicos tem sido concentração. "A jogadora precisa ter controle do movimento. Estamos batalhando contra anos de automatismo", contou a ex-jogadora Ana Moser, assistente técnica do time, após comandar uma série de 45 minutos de Pilates, que concentra suas ações principalmente nos músculos abdominais.
Durante a sessão, muitas atletas demonstraram cansaço, falta de concentração e não conseguiram sustentar certos exercícios.
"No começo, elas se irritavam muito porque não cansam só o corpo, a cabeça tem de trabalhar", explicou Zé Elias. "Mas, quando começaram a ver que estavam pegando mais peso na musculação, por exemplo, elas passaram a acreditar mais e a se empenhar."
O reflexo do trabalho começará a ser visto a partir de terça-feira, quando a equipe faz seu primeiro grande teste em uma série de amistosos contra os EUA.
A maioria das jogadoras está experimentando esse tipo de trabalho pela primeira vez. E, apesar das dificuldades de adaptação, tem gostado dos resultados.
"Eu sinto que estou com uma postura melhor, com a coluna mais reta", contou a meio Carol, uma das novatas da equipe.
Outras, como Fernanda Venturini e Elisângela, já usavam as terapias para tentar controlar problemas crônicos. "Depois da gravidez [em 2002], eu entrei na RPG por causa das dores na cervical", explicou a veterana levantadora.
Zé Elias começou a inserir essas técnicas alternativas em seu dia-a-dia em 1994, impulsionado pelo problema de Douglas Chiarotti.
Quando voltou do Mundial de Atenas, o atacante teve uma artéria bloqueada próxima ao ombro. A indicação era para cirurgia.
Na época, o preparador físico fazia RPG e, em uma conversa com sua terapeuta, percebeu que o problema poderia ser só um bloqueio mecânico. "Em oito dias ele já estava bom", relembrou.
A emergência foi o impulso para ele buscar novas alternativas, que não deixaram de fora nem as condições psicológicas das atletas. No aquecimento da seleção, elas ensaiam até passos de dança de salão. Ao mesmo tempo que prepara os corpos para o trabalho, Zé Elias também cuida da sociabilidade do grupo.
"Elas fazem os exercícios sem saber que estão fazendo. Também precisam se divertir", disse ele.


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