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FUTEBOL
Retrato da decadência
TOSTÃO
COLUNISTA DA FOLHA
Os problemas do futebol
carioca não são apenas administrativos e de estrutura profissional. Renato Mauricio Prado
publicou na sua coluna um e-mail de um leitor que dizia: "Você
viu Cruzeiro e Santos? Reparou
no Felipe Melo, sem camisa, festejando o gol? Como está em forma!
Na hora, me lembrei dele no Fla,
gordo e pesado. É um retrato da
decadência do futebol carioca.
Aqui não se treina mais!".
Lembrei-me de uma entrevista
que fiz há anos com o volante
Djair e o lateral Gilberto, que tinham saído de clubes cariocas para o Cruzeiro. Estavam jogando
muito melhor e disseram que treinavam muito mais em Minas.
Não é só o Felipe Melo que está
mais magro no Cruzeiro. Um dos
motivos das grandes atuações do
Alex é o fato de ele ter perdido peso e gordura corporal. Nem sempre perder peso significa emagrecer e perder gordura do corpo.
Alex está com muito mais mobilidade, que era a sua deficiência.
Os técnicos e preparadores físicos do Rio negam que os jogadores treinam pouco. Dizem que isso
às vezes acontece por causa do calor. É uma boa desculpa. Não é o
que se vê no campo. É nítida a diferença física entre um jogador do
Cruzeiro e os do Rio. Uns correm
(Maurinho e Leandro voam), e os
do Rio andam, devagar.
Acho que os profissionais das
comissões técnicas do Rio não
querem perder o eterno emprego.
São dispensados e voltam. São
sempre os mesmos. Quando aparece alguém novo, logo é fritado.
Na história do futebol brasileiro, é impressionante o número de
craques que atuaram no Rio. Hoje, os times estão repletos de cabeças-de-bagre. São contratados como se fossem excepcionais. São
tantos que seria injustiça citar alguns e deixar outros de fora. Parte da imprensa, por desconhecimento e/ou interesse em promover o futebol carioca, dá exagerado destaque a esses atletas medíocres ou em fim de carreira.
Mesmo os poucos habilidosos
são mais badalados do que deviam. Basta o Felipe jogar uma
boa partida (é uma ótima e três
ruins) para ser citado como um
dos grandes talentos do futebol.
Não é. Confundem talento com
habilidade. É um bom jogador.
Talento é a soma de qualidades,
como habilidade, técnica, criatividade, capacidade de se adaptar
ao conjunto e de superar obstáculos, ter consciência profissional,
equilíbrio emocional, determinação, disciplina. O grande talento
não parece craque; é craque.
Há no Rio jovens promissores
que se perdem por causa da anarquia profissional. Vão para outros clubes e Estados, treinam
mais, emagrecem e se destacam.
Muitos desses retornam, relaxam,
engordam, e o ciclo se repete.
Os times cariocas estão também
ultrapassados na maneira de
atuar. Querem jogar o futebol do
passado, cadenciado e de toques
bonitos e curtos. Não sabem. Isso
funciona em times de craques.
Quando os atletas atuais perdem
a bola, marcam de longe. Dão
muita liberdade ao adversário.
Não jogam e deixam jogar.
Nem tudo vai mal. O Botafogo
faz um ótimo trabalho não só para retornar à Série A, mas para
voltar a ser um grande clube e no
futuro ter um excelente time.
Os clubes do Rio precisam de
mudanças, de nomes e de idéias,
na administração e nas comissões
técnicas. O futebol carioca está
doente. Os sádicos algozes querem uma morte lenta e sofrida. É
preciso reagir. O Rio é muito alegre, bonito, charmoso e com tradição no futebol para ter times
fracos, feios e tristes.
Pontos corridos
A fórmula por pontos corridos é
a única justa. Em vez de melhorá-la (ter menos participantes, mais
rebaixados, maior número de
clubes com direito de disputar outros torneios, melhores horários
de jogos etc.), querem derruba-la.
Alegam que os clubes vão falir.
Parece até que o futebol brasileiro
e os clubes estavam muito bem.
Injustiça
Punir o Paysandu com a perda
de pontos por causa de um dirigente que não estava em condições de exercer o cargo pode até
ser legal e compreensível, mas
transferir os pontos para os times
derrotados não faz sentido e é
uma tremenda injustiça com os
outros clubes interessados.
Seria melhor se o diretor e o clube fossem punidos de outra forma. O grande erro é da CBF, que
permite a um jogador ir a campo
sem condições. Parece piada o tal
do Boletim Informativo Diário,
criado com o objetivo de tornar
público os atos dos departamentos Técnico e de Registros da CBF.
E-mail
tostao.folha@uol.com.br
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