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FUTEBOL
Razão e emoção
TOSTÃO
COLUNISTA DA FOLHA
A seleção brasileira já está
quase escalada para a estréia nas eliminatórias da Copa
de 2006, com Dida, Cafu, Lúcio,
Roque Júnior (Edmilson) e Roberto Carlos; Gilberto Silva, Kléberson (Emerson) e Zé Roberto;
Ronaldinho Gaúcho, Ronaldo e
Rivaldo.
Como Kléberson não tem jogado bem, e o Parreira já disse várias vezes que gosta da equipe
com dois volantes mais marcadores, para liberar o avanço dos laterais, é possível que Emerson entre no seu lugar. O Fernando Calazans vai adorar.
Ricardinho está com um futebol
cada vez mais curto, miúdo,
atuando numa faixa muito estreita. Zé Roberto tem mais mobilidade. Os dois e o Kléberson são
bons, importantes para os seus
clubes, mas têm pouco brilho para a seleção.
O Brasil tem cinco excepcionais
meias ofensivos (Ronaldinho
Gaúcho, Rivaldo, Alex, Kaká e
Diego) e nenhum craque, organizador, magnetizador (gostei dessa palavra utilizada pela Soninha) no meio-campo. Esse é um
problema mundial. O francês Zidane é exceção. Ele faz bem as
duas funções.
Isso acontece porque houve
uma divisão no meio entre os armadores defensivos (volantes),
que desarmam e tocam para o lado, e os ofensivos, que atuam na
intermediária do outro time.
Acabaram com os típicos jogadores de meio-campo.
Se o Parreira optar por dois volantes mais marcadores, ele deveria buscar outras alternativas, como tentar adaptar o Diego a uma
nova função, no lugar do Zé Roberto. Alex não tem características para fazer isso.
Outro excelente armador, esquecido por todos os técnicos da
seleção, é o Juninho Pernambucano. Ele não foi chamado para a
Copa das Confederações por decisão técnica. Juninho ataca e defende bem. Ele é o único excelente
meia-direita com essas características. Será que existe algum problema entre ele e a CBF?
A outra dúvida do Parreira é
tática. O técnico pode jogar com
uma linha de quatro no meio-campo (dois volantes e um meia
de cada lado) ou com três e um jogador mais livre, entre o meio e o
ataque. A principal vantagem de
atuar com dois volantes é, em alguns momentos, recuar um deles
para ser um terceiro zagueiro e liberar os laterais.
No esquema com dois volantes e
um armador de cada lado, esses
formam duplas com os laterais,
na defesa e no ataque. Há mais
jogadas pelos flancos e poucas pelo meio. Perdem-se as trocas de
passes na entrada da área, um estilo mais encantador.
Todas essas opções táticas têm
vantagens e desvantagens. Esse
não é o problema, nem o toque de
bola dos times dirigidos pelo Parreira. Quando a equipe vence,
elogiam a troca de passes; quando
perde, dizem que o time só jogou
para o lado.
A troca de passes, sem afobação
e pressa para chegar ao gol, é uma
das principais virtudes do futebol
brasileiro. Contra EUA e Camarões, não houve excesso, e sim falta de toque de bola.
O que discordo nas equipes treinadas pelo Parreira é a forma de
marcar. Os seus times nunca
marcam por pressão. Recuam e
fecham os espaços na defesa. É
preciso treinar as duas opções.
A melhor maneira de vencer
uma forte marcação é tomar a
bola no campo do outro time.
Quando se pressiona um jogador
sem habilidade, ele perde a bola.
Aí, fica mais fácil chegar ao gol.
Além disso, evita que o rival toque a bola e "goste do jogo".
O racional, científico e previsível Parreira deveria assimilar um
pouco da improvisação, ousadia e
emoção do Felipão. E vice-versa.
Seria o técnico ideal.
Time e torcida nas mãos
O Boca Juniors ganhava do Santos por 1 a 0, seria importante para os argentinos fazerem o segundo gol, e o técnico Carlos Bianchi
trocou um atacante por um volante. O Santos passou a pressionar, não porque jogava bem e o
Boca estava com medo, e sim porque o técnico argentino quis
atrair o rival e tentar mais gols no
contra-ataque.
O Santos dominou no segundo
tempo, mas criou poucas chances
de gols, e o Boca não contra-atacou bem. As duas equipes jogaram menos do que se esperava.
Se um técnico brasileiro, jogando em casa, recuasse o time, seria
criticado e chamado de burro pelos torcedores. Esses continuaram
dançando, cantando e torcendo.
Como se diz no jargão do futebol,
Bianchi não tem somente o time
nas mãos, mas também a torcida.
E-mail
tostao.folha@uol.com.br
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