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Vítimas, suecos são fãs do Brasil
Vice-campeões mundiais há 50 anos falam com alegria da derrota na decisão e reverenciam o rival
Simonsson, autor do 2º gol sueco na final, e Parling, que se envolveu também no lance mágico de Pelé, dizem que fizeram muito em 58
RODRIGO BUENO
ENVIADO ESPECIAL A GOTEMBURGO,
ESTOCOLMO E NORRKÖPING
Se no jogo mais importante
de sua vida, você leva um humilhante chapéu e na seqüência
sai um gol que praticamente
define a derrota de seu time,
você lamenta e se envergonha
do lance por quanto tempo?
Gustavsson, 50 anos depois,
ri e aplaude o famoso chapéu
que a vida e Pelé lhe deram.
O defensor sueco, hoje com
80 anos, ainda impressiona pelo físico. Com cerca de 1,90 m e
forte, tomou conta de um dos
sofás de sua bela casa em Norrköping. Não parou de sorrir na
entrevista para a Folha. Quando mais riu? Na hora de contar
o mais belo gol da Copa-1958.
""Foi a primeira vez que vi
aquilo [chapéu]. Fenomenal",
diz ele, fazendo com a cabeça o
gesto de acompanhar a bola o
encobrindo. ""Fiquei procurando a bola. Pelé é fenômeno."
Gustavsson era um atleta experimentado, atuava no futebol italiano. ""Joguei na Atalanta de 1956 a 1961", diz ele, em
bom italiano, como sua mulher, que também ri da ""tragédia" vivida pelo amado na final.
Medalhista de bronze na
Olimpíada de 1952, o zagueirão
disse que não havia de início
uma preocupação especial com
Pelé ou Garrincha, jogadores
que infernizaram a Suécia.
""Sabíamos que o Brasil era
muito forte, mais forte do que o
nosso time. Tecnicamente, o
Brasil era formidável. Todos os
jogadores eram bons, não só
Pelé e Garrincha", diz Gustavsson, que não se negou a tirar fotos com um boné na cabeça
(não havia chapéu na casa) em
alusão ao seu famoso lance.
Vez ou outra, ele ainda mantém contato com os outros jogadores suecos de 1958 que estão vivos -são oito, menos que
os 13 brasileiros, até pelo fato
de a Suécia ter uma equipe bem
rodada em sua Copa. Durante a
visita da Folha, ele teve contato telefônico com Parling, que
vive na cidade de Forsbacka.
Parling participou do início
do golaço de Pelé. Ele perdeu o
equilíbrio quando o prodígio
brasileiro dominou a bola no
peito. Sobrecarregado por ajudar na marcação de Garrincha
naquela partida, ele não conseguiu evitar que o ""Rei" desse o
chapéu no colega e anotasse.
""Ele não teve tempo", brinca
Birgit, a mulher de Gustavsson.
""O Pelé era jovem na Copa,
17 anos. Ele e Garrincha eram
duros de marcar, tinham grande técnica. Foi maravilhoso o
gol de Pelé encobrindo o Gustavsson", conta Parling, que já
tinha 28 anos na Copa e atuava
pela esquerda no meio -como
Garrincha desequilibrava, foi
recuado para ajudar a contê-lo.
""A Suécia tinha grandes jogadores naquela época, mas não
imaginávamos que chegaríamos à final. Fizemos um grande jogo na semifinal contra a
Alemanha. O Brasil tinha grandes jogadores e era favorito",
falou Parling, que não ostenta a
mesma saúde de Gustavsson.
Quem ainda está muito bem
é Simonsson, um jovem craque
em 1958. O autor do segundo
gol dos anfitriões quase pôs fogo no jogo. ""Tinha 22 anos na
Copa. Era o "Pelé da Suécia".
Quando fiz o gol, ficou 4 a 2, e
havia algum tempo para reação
[faltavam dez minutos]. Tivemos duas chances para fazer 4
a 3. Seria outro jogo", garante
ele, que vive em Gotemburgo.
Simonsson marcou quatro
gols na Copa-58 e tem currículo invejável. Melhor jogador
sueco de 1959, atuou no Real
Madrid de Di Stéfano -fez 27
gols pela Suécia em 51 partidas.
Ficou amigo dos adversários
da final. Veio até o Brasil no início dos anos 80 e visitou Nilton
Santos e Garrincha. ""Foi a melhor Suécia da história, mas o
Brasil jogou um grande futebol.
Garrincha jogou muito aquela
Copa, mas acho o Pelé o maior
de todos. O público sueco gostou do jogo, gostou do Brasil."
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