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No Brasil mais feminino, mulheres não dão salto de qualidade
DO ENVIADO A ATENAS
E DA REPORTAGEM LOCAL
Pódio nas duas últimas Olimpíadas, as seleções femininas de
basquete e vôlei deram ontem um
passo para trás e deixaram Atenas
sem medalha. Campeã mundial
de solo, Daiane dos Santos foi
quinta nos Jogos. Sensação do
torneio de futebol, o Brasil de
Marta e Cristiane não suportou o
favoritismo dos EUA e ficou com
a prata. Enredo parecido ao de
Adriana Behar e Shelda, do vôlei
de praia. Ana Paula e Sandra, a
outra dupla brasileira da areia,
tombaram antes das semifinais,
diante das compatriotas.
Na madrugada de hoje, com
Natália Silva disputando o taekwondo, as mulheres do país encerrariam sua participação em
Atenas-04. Com um sabor amargo, um quê de melancolia. Natália
lutaria contra uma australiana,
bronze no último Mundial.
Dificilmente reverteria o quadro sombrio pintado em 16 dias:
as atletas brasileiras deixarão Atenas sem nenhum ouro. E com
menos medalhas do que em
Sydney -eram duas pratas até
ontem, contra uma prata e três
bronzes ganhos há quatro anos.
Isso apesar de a presença feminina na delegação ter crescido
29,8%, contra 12,6% de aumento
da masculina. Apesar de o país ter
a 11ª maior equipe de mulheres
em Atenas: 122. Apesar de a tendência mundial indicar o inverso.
A China só se tornou o maior fenômeno do quadro de medalhas
de Atenas, grudada nos EUA, graças às suas mulheres. Dos 31 ouros da poderosa equipe chinesa,
mais da metade, 18, saíram de
competições femininas.
A Romênia estaria longe da 13ª
posição no quadro se não fossem
elas. Todos os seus oito ouros foram conquistados por mulheres.
Até em países que dificultam a
participação de mulheres no esporte, elas ganharam destaque.
Elas ganharam três das cinco medalhas da Coréia do Norte e uma
das quatro da Indonésia, maior
país muçulmano do mundo.
Países vizinhos também vêem
suas mulheres ofuscar os homens.
Três das seis medalhas que a Argentina lançou no quadro foram
com elas. A Colômbia tem dois
bronzes, ambos com mulheres.
Mas no Brasil, é diferente. Dos
15 ouros que o Brasil conquistou
até hoje em Olimpíadas, só um foi
ganho por mulheres: em Atlanta-96, quando Sandra e Jacqueline
triunfaram no vôlei de praia.
Em Atenas, ainda no calor dos
Jogos, é difícil encontrar uma explicação para o fracasso. A unanimidade, até agora, é que não houve tempo para assimilar o baque.
"Treinamos muito e não sabemos o que aconteceu. Nossa expectativa era ir para a final. Com
um tempo de 3min27s, poderíamos chegar lá. Mas a nossa marca
[3min28s43] não foi muito boa",
lamentou Maria Laura Almirão,
que caiu com a equipe do 4 x 400
m, do atletismo.
"Difícil explicar como ficamos
sem esse ouro. Eu tinha convicção
que nosso time era o melhor da
competição. Mas, infelizmente,
essas coisas acontecem em Olimpíadas", declarou Virna.
O mau desempenho das mulheres atrasou a vida do Brasil olímpico. Até ontem, o país era o 21º
colocado no quadro de medalhas.
Em um hipotético quadro masculino, ficaria entre os 20 primeiros.
Na versão feminina, apareceria
em uma modesta 38ª posição.(FÁBIO SEIXAS E PAULO COBOS)
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