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FUTEBOL
Previsões furadas
TOSTÃO
COLUNISTA DA FOLHA
São Paulo e Corinthians fazem hoje o clássico tão esperado. Ricardinho enfrentará o seu
ex-clube. Os adversários do São
Paulo aprenderam que a melhor
maneira de enfrentá-lo é congestionar os espaços defensivos perto
da área, evitar as trocas rápidas
de passes pelo meio e contra-atacar. Os laterais do time do Morumbi são fracos e pouco utilizados. Dessa maneira, São Caetano,
Cruzeiro, Atlético-MG e outras
equipes venceram o São Paulo.
Como o time do Corinthians defende com apenas três jogadores
no meio-campo, pois os atacantes
participam pouco da marcação, o
São Paulo pode ter facilidades nas
jogadas rápidas pelo meio. Por
outro lado, os três atacantes do
Corinthians terão boas chances
contra os lentos e razoáveis defensores do São Paulo. Lembram-se
das corretas declarações do Gil sobre a lentidão dos zagueiros do
São Paulo? Nada mudou.
Kaká é um excepcional jogador,
mas para se transformar num
grande craque precisa ser menos
fominha. Compreende-se que o
centroavante de uma equipe seja
fominha. O grande meia-atacante, que parte do meio-campo com
a bola, necessita ter uma ampla
visão de jogo para descobrir espaços na defesa e não somente conduzir a bola para finalizar. Dar o
passe decisivo é tão importante
quanto fazer o gol. Mesmo que seja menos valorizado.
O São Paulo precisa muito mais
da vitória do que o Corinthians.
Isso favorece qual das equipes?
Deveria dizer "não sei". Mas acho
que o time pressionado tem um
pouco mais de chance de vencer.
Na verdade, conclusões psicológicas e palpites do vencedor feitas
por um comentarista antes de um
clássico são tão furadas quanto as
previsões dos economistas sobre a
alta do dólar.
Melhor futebol do mundo
Diferentemente do que diz a
propaganda do pay-per-view, o
futebol pentacampeão do mundo
está na Europa e não no Brasil.
O Campeonato Brasileiro está
indo bem, revelando bons jogadores, mas se quiser ver o melhor futebol do mundo, superior ao da
Copa, assista às principais partidas da Copa dos Campeões da
Europa. Lá estão os melhores jogadores de outros países e os brasileiros Rivaldo, Roberto Carlos,
Cafu, Dida, Gilberto Silva, que recuperaram a forma depois de
uma longa e merecida comemoração do penta.
Por causa dos estrangeiros,
muitas equipes que disputam a
Copa dos Campeões são melhores
do que as seleções de seus países.
Citaria Real Madrid, Milan, Juventus, Arsenal, Manchester United e até o Bayern de Munique,
que não está bem.
Além disso, muitos excepcionais
jogadores, que tiveram problemas
antes e durante o Mundial de
2002 (Figo, Raúl, Rui Costa, Verón), estão em forma. Há ainda
outros craques que não participaram da Copa, como os da Holanda (Kluivert, Bergkamp, Davids,
Van Nistelrooy, Frank de Boer).
Muitos jogadores da Europa
parecem atuar também com mais
entusiasmo nas equipes do que
nas seleções. Em alguns países da
Europa não há tanta euforia com
a Copa. Os jogadores brasileiros e
argentinos são muito mais cobrados e pressionados. Esforçam-se
mais para não decepcionarem.
Geralmente, os jogadores
atuam melhor sob pressão. Esse é
um dos motivos das equipes ganharem mais em casa do que fora. A responsabilidade e a ansiedade aumentam a produção de
substâncias químicas. Os atletas
correm mais e ficam mais concentrados. É o doping psicológico.
Porém há um limite. Quando a
tensão emocional é excessiva, os
atletas ficam confusos e caem de
produção. Aconteceu com o Palmeiras (enfim o time ganhou).
A conquista de muitos títulos
mundiais, em todos os esportes,
poderia ser também uma desforra, a recuperação da auto-estima
de um país do terceiro mundo, explorado pelos mais ricos? Ou estou escrevendo besteira?
Voltando à Copa dos Campeões, quase todas as principais
equipes estão jogando com uma
linha de quatro defensores. A Roma, que passa por um péssimo
momento, é exceção. Ela joga
com três zagueiros e três volantes,
que raramente se aproximam dos
atacantes. É o mesmo desenho tático da seleção italiana.
No inicio de seu trabalho, Felipão adotou o esquema da seleção
italiana, contra a Bolívia. Felizmente o time perdeu, e o técnico
mudou os planos.
Em vez do modelo italiano, Felipão seguiu o da Argentina, apesar de algumas diferenças.
O grande erro da seleção argentina foi brilhar nas eliminatórias,
antes da hora.
E-mail
tostao.folha@uol.com.br
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