São Paulo, terça-feira, 30 de maio de 2006

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MELCHIADES FILHO

Salsa e merengue

Leitor pede uma forcinha da mídia para o basquete, mas o basquete de cá faz uma força danada para não merecê-la

POR CONTA DA ausência de uma política nacional de esporte, e da importância do esporte na sua vida, o brasileiro costuma exigir da mídia esportiva o papel de parceiro, de agente de fomento. "Não dá para dar uma notinha? O que custa dar só uma notinha!?", interpela.
Curioso. Com exceção de lobistas e spinners, não há demanda do público para que a imprensa estenda a mão para um partido político, um sindicato, um artista, uma empresa. O leitor de esportes, por sua vez, não se constrange em cobrar uma forcinha, sobretudo para as modalidades menos populares e para os "abnegados" que as praticam. No entanto não cabe (ou não deveria caber) ao jornalista uma atuação paternalista. Seu compromisso é exclusivo com o leitor -e a notícia. Dar uma mãozinha, acatar o pedido para "divulgar o esporte", significaria quebrar esse contrato e abdicar da independência e do espírito crítico, ferramentas primordiais para o bom exercício da profissão. Desse modo, só o esporte poderá reerguer o esporte. Lamúrias e inação não surtirão nenhum efeito. Será preciso arregaçar as mangas, trabalhar e treinar muito. Se o produto (o campeonato) e o espetáculo (o jogo) forem bons, a torcida virá, o patrocinador se interessará, os resultados internacionais surgirão, e, na cola disso tudo, a imprensa aparecerá. Na semana passada, porém, comecei a pôr em dúvida esse raciocínio, decantado em quase 13 anos como editor deste caderno. A meu ver, o basquete aos poucos voltava a bombar. Mas nem assim a mídia se comovia, esboçava uma resposta. Na sexta-feira, veio o golpe de misericórdia. De uma tacada só, fui colhido por três notícias tristes. A primeira foi a confirmação do desprezo da TV paga pela arrancada de Leandrinho nos mata-matas mais emocionantes que a NBA já viu (recordes de jogos decididos na prorrogação e por apenas um ponto). Em vez do armador, os canais resolveram destacar jogo de dominó, torneio de salsa (a dança de salão!), partida de pôquer, reprise de rodeio e até corrida de barcos vikings. Afe. A segunda foi o bolo do Sportv, que desistiu de exibir o primeiro pega entre Franca e Ribeirão Preto pelo título do Nacional -soube depois que foi fabuloso, com uma supervirada no fim por parte dos visitantes. A terceira ocorreu aqui mesmo, na Folha. O papel ficou curto demais para o basquete, me avisaram. Devido à avalanche da Copa do Mundo, as próximas colunas terão apenas a sua versão eletrônica. Fiquei bravinho, mas só por dois dias, pois o domingo me enfiou a bola laranja no saco. Leandrinho teve a terceira atuação ruim seguida, a Justiça suspendeu o segundo duelo em Franca, uma liminar destituiu a diretoria da confederação brasileira, a Nossa Liga cometeu o acinte de reescrever o regulamento em plena semana de decisão. A gente se vê na Folha Online e no melk.blog.uol.com.br, então.

REMOTO 1

A ESPN achou um bom narrador de basquete: Everaldo Marques.

REMOTO 2
Roby Porto e Rodrigo Alves, do Globoesporte.com, também foram bem no semestre de estréia -sóbrios demais no início, deslancharam após estabelecer um diálogo com os internautas. O pacote online, aliás, teve um preço justo, pouco mais de um real por jogo. Só faltou ao portal zelar por uma melhor qualidade técnica das transmissões. Mas é o custo do pioneirismo.

REMOTO 3
Você não conferiu o belo trabalho de César Augusto no "Esporte Espetacular", arrancando confidências de Leandrinho sobre os primeiros dias de NBA? Não deixe de clicar o gmc.globo.com/GMC/0,,2465-p-M461963,00.html.

@ - melk@uol.com.br


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