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MELCHIADES FILHO
Salsa e merengue
Leitor pede uma forcinha da mídia para o basquete, mas o basquete de cá faz uma força danada para não merecê-la
POR CONTA DA ausência de uma
política nacional de esporte, e
da importância do esporte na
sua vida, o brasileiro costuma exigir
da mídia esportiva o papel de parceiro, de agente de fomento. "Não dá
para dar uma notinha? O que custa
dar só uma notinha!?", interpela.
Curioso. Com exceção de lobistas
e spinners, não há demanda do público para que a imprensa estenda a
mão para um partido político, um
sindicato, um artista, uma empresa.
O leitor de esportes, por sua vez,
não se constrange em cobrar uma
forcinha, sobretudo para as modalidades menos populares e para os
"abnegados" que as praticam.
No entanto não cabe (ou não deveria caber) ao jornalista uma atuação paternalista. Seu compromisso
é exclusivo com o leitor -e a notícia.
Dar uma mãozinha, acatar o pedido para "divulgar o esporte", significaria quebrar esse contrato e abdicar da independência e do espírito
crítico, ferramentas primordiais para o bom exercício da profissão.
Desse modo, só o esporte poderá
reerguer o esporte. Lamúrias e inação não surtirão nenhum efeito. Será preciso arregaçar as mangas, trabalhar e treinar muito. Se o produto
(o campeonato) e o espetáculo (o jogo) forem bons, a torcida virá, o patrocinador se interessará, os resultados internacionais surgirão, e, na cola disso tudo, a imprensa aparecerá.
Na semana passada, porém, comecei a pôr em dúvida esse raciocínio, decantado em quase 13 anos como editor deste caderno. A meu ver,
o basquete aos poucos voltava a
bombar. Mas nem assim a mídia se
comovia, esboçava uma resposta.
Na sexta-feira, veio o golpe de misericórdia. De uma tacada só, fui colhido por três notícias tristes.
A primeira foi a confirmação do
desprezo da TV paga pela arrancada
de Leandrinho nos mata-matas
mais emocionantes que a NBA já viu
(recordes de jogos decididos na
prorrogação e por apenas um ponto). Em vez do armador, os canais resolveram destacar jogo de dominó,
torneio de salsa (a dança de salão!),
partida de pôquer, reprise de rodeio
e até corrida de barcos vikings. Afe.
A segunda foi o bolo do Sportv,
que desistiu de exibir o primeiro pega entre Franca e Ribeirão Preto pelo título do Nacional -soube depois
que foi fabuloso, com uma supervirada no fim por parte dos visitantes.
A terceira ocorreu aqui mesmo, na
Folha. O papel ficou curto demais
para o basquete, me avisaram. Devido à avalanche da Copa do Mundo, as próximas colunas terão apenas a sua versão eletrônica.
Fiquei bravinho, mas só por dois
dias, pois o domingo me enfiou a
bola laranja no saco. Leandrinho
teve a terceira atuação ruim seguida, a Justiça suspendeu o segundo
duelo em Franca, uma liminar destituiu a diretoria da confederação
brasileira, a Nossa Liga cometeu o
acinte de reescrever o regulamento
em plena semana de decisão.
A gente se vê na Folha Online e
no melk.blog.uol.com.br, então.
REMOTO 1
A ESPN achou um bom narrador
de basquete: Everaldo Marques.
REMOTO 2
Roby Porto e Rodrigo Alves, do
Globoesporte.com, também foram
bem no semestre de estréia -sóbrios demais no início, deslancharam após estabelecer um diálogo
com os internautas. O pacote online, aliás, teve um preço justo, pouco mais de um real por jogo. Só faltou ao portal zelar por uma melhor
qualidade técnica das transmissões. Mas é o custo do pioneirismo.
REMOTO 3
Você não conferiu o belo trabalho de César Augusto no "Esporte
Espetacular", arrancando confidências de Leandrinho sobre os
primeiros dias de NBA? Não deixe
de clicar o gmc.globo.com/GMC/0,,2465-p-M461963,00.html.
@ - melk@uol.com.br
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