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São Paulo, domingo, 30 de novembro de 2003

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FUTEBOL

Festa no Mineirão

TOSTÃO
COLUNISTA DA FOLHA

Ao escrever esta coluna, fiquei na dúvida se deveria ser sensato, prudente e dizer que o campeonato não está ainda decidido, que o jogo só acaba quando termina, como disse um famoso filósofo, ou se já falaria do virtual campeão.
Como a próxima coluna só sairá na quarta-feira, quando, provavelmente, tudo já estará dito sobre o campeão, resolvi escrever sobre o Cruzeiro. Se a conquista for adiada para o próximo ou último jogo, essa coluna poderá ser repetida. Se acontecer uma grande zebra e o Cruzeiro perder o título, direi que o futebol é uma caixinha de surpresas.
Como o Santos tem um estilo mais envolvente, moleque e encantador, querem rotular o Cruzeiro de jogar um futebol pragmático, feio e de resultados. Não é verdade. É a eterna discussão maniqueísta entre o futebol arte e o de resultados, entre o futebol ofensivo e defensivo, entre o bem e o mal, entre a razão e a paixão e entre outras ambivalências.
Não há futebol arte e de resultados. Existem times bons e ruins. Cada um no seu estilo. Todas as equipes jogam para vencer, e não para dar espetáculo. A seleção brasileira de 82, que ficou na historia como um time espetacular, mas pouco objetivo, foi eliminada por causa de uma derrota. Se o campeonato fosse por pontos corridos, seria campeã. O time jogava bonito e com eficiência.
O Cruzeiro, principalmente no primeiro turno, teve momentos brilhantes. Fez 52 gols e sofreu 29. No segundo, piorou no ataque (sem Deivid) e melhorou na defesa. Marcou 36 e levou 15 gols. A média de aproveitamento subiu de 68% para 73%. O time ficou mais seguro e menos espetacular.
O Cruzeiro ataca e defende com muitos atletas. Sabe o momento de marcar mais à frente, pressionar e arriscar e o de recuar e contra-atacar. Essa é uma das vantagens do Luxemburgo sobre o Parreira. Há também desvantagens.
As substituições feitas pelo técnico do Cruzeiro são previstas e treinadas, nos mínimos detalhes. Luxemburgo também é previsível. Técnico imprevisível é geralmente confuso. Erra mais do que acerta, a não ser que seja gênio.
O Cruzeiro joga com quatro defensores, três volantes e três na frente. Alex é um terceiro atacante. É o mesmo esquema que o Luxemburgo usou quando era técnico das seleções principal e olímpica. É idêntico ao do atual time brasileiro e de muitas outras equipes. Não é novidade.
Como Luxemburgo tem fama de ousado, o Cruzeiro é considerado ofensivo por causa dos três atacantes. Não se fala nos três volantes. Já o Parreira, como é rotulado de retranqueiro, é criticado por escalar três volantes. Não se fala dos três atacantes. A crítica, no mundo todo, nunca é totalmente isenta. Ela analisa conforme suas convicções e seu imaginário. Não há observador neutro.
Luxemburgo e Parreira utilizam a mesma variação no meio-campo. O técnico do Cruzeiro alterna pela direita um volante mais marcador (Augusto Recife) com outro mais apoiador (Felipe Melo). Na seleção, são Emerson e Renato ou Juninho Pernambucano. Maldonado e Wendell jogam da mesma maneira do que o Gilberto Silva e Zé Roberto.
A única mudança no desenho tático utilizado pelo Luxemburgo, mais por necessidade ocasional do que pela preferência, é a troca de um volante por um terceiro zagueiro. O time piora na defesa e no ataque. A ausência de um armador dificulta o apoio ao ataque e facilita para o adversário tocar a bola no meio-campo e se aproximar da área.
Se o Cruzeiro não for campeão, o que é quase impossível, Luxemburgo não deixará de ter feito um ótimo trabalho. Ele planejou o elenco, o time, a maneira de jogar e o título. Pensou em tudo. Para isso, contou com o apoio da torcida, da diretoria e de uma boa estrutura profissional. O técnico envolveu emocionalmente todos com a conquista.
Alex, melhor jogador do Cruzeiro e do campeonato, não estará hoje presente. O substituto Zinho atua melhor mais recuado, na posição do Wendell. Além de Alex, o Cruzeiro tem excelentes jogadores. Sei que a maioria absoluta vai discordar, mas acho o Edu Dracena superior ao Alex do Santos. Ele é mais completo. Só não bate bem faltas. O excelente Alex é driblado com mais facilidade do que o zagueiro do Cruzeiro.
Dificilmente será adiada a festa do título. O campeão (Cruzeiro ou Santos) será o melhor time do torneio e do Brasil. Essa é a grande virtude da fórmula por pontos corridos.

E-mail: tostao.folha@uol.com.br


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