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FUTEBOL
Festa no Mineirão
TOSTÃO
COLUNISTA DA FOLHA
Ao escrever esta coluna, fiquei na dúvida se deveria ser
sensato, prudente e dizer que o
campeonato não está ainda decidido, que o jogo só acaba quando
termina, como disse um famoso
filósofo, ou se já falaria do virtual
campeão.
Como a próxima coluna só sairá na quarta-feira, quando, provavelmente, tudo já estará dito
sobre o campeão, resolvi escrever
sobre o Cruzeiro. Se a conquista
for adiada para o próximo ou último jogo, essa coluna poderá ser
repetida. Se acontecer uma grande zebra e o Cruzeiro perder o título, direi que o futebol é uma caixinha de surpresas.
Como o Santos tem um estilo
mais envolvente, moleque e encantador, querem rotular o Cruzeiro de jogar um futebol pragmático, feio e de resultados. Não é
verdade. É a eterna discussão maniqueísta entre o futebol arte e o
de resultados, entre o futebol
ofensivo e defensivo, entre o bem e
o mal, entre a razão e a paixão e
entre outras ambivalências.
Não há futebol arte e de resultados. Existem times bons e ruins.
Cada um no seu estilo. Todas as
equipes jogam para vencer, e não
para dar espetáculo. A seleção
brasileira de 82, que ficou na historia como um time espetacular,
mas pouco objetivo, foi eliminada
por causa de uma derrota. Se o
campeonato fosse por pontos corridos, seria campeã. O time jogava bonito e com eficiência.
O Cruzeiro, principalmente no
primeiro turno, teve momentos
brilhantes. Fez 52 gols e sofreu 29.
No segundo, piorou no ataque
(sem Deivid) e melhorou na defesa. Marcou 36 e levou 15 gols. A
média de aproveitamento subiu
de 68% para 73%. O time ficou
mais seguro e menos espetacular.
O Cruzeiro ataca e defende com
muitos atletas. Sabe o momento
de marcar mais à frente, pressionar e arriscar e o de recuar e contra-atacar. Essa é uma das vantagens do Luxemburgo sobre o Parreira. Há também desvantagens.
As substituições feitas pelo técnico do Cruzeiro são previstas e
treinadas, nos mínimos detalhes.
Luxemburgo também é previsível. Técnico imprevisível é geralmente confuso. Erra mais do que
acerta, a não ser que seja gênio.
O Cruzeiro joga com quatro defensores, três volantes e três na
frente. Alex é um terceiro atacante. É o mesmo esquema que o Luxemburgo usou quando era técnico das seleções principal e olímpica. É idêntico ao do atual time
brasileiro e de muitas outras
equipes. Não é novidade.
Como Luxemburgo tem fama
de ousado, o Cruzeiro é considerado ofensivo por causa dos três
atacantes. Não se fala nos três volantes. Já o Parreira, como é rotulado de retranqueiro, é criticado
por escalar três volantes. Não se
fala dos três atacantes. A crítica,
no mundo todo, nunca é totalmente isenta. Ela analisa conforme suas convicções e seu imaginário. Não há observador neutro.
Luxemburgo e Parreira utilizam a mesma variação no meio-campo. O técnico do Cruzeiro alterna pela direita um volante
mais marcador (Augusto Recife)
com outro mais apoiador (Felipe
Melo). Na seleção, são Emerson e
Renato ou Juninho Pernambucano. Maldonado e Wendell jogam
da mesma maneira do que o Gilberto Silva e Zé Roberto.
A única mudança no desenho
tático utilizado pelo Luxemburgo, mais por necessidade ocasional do que pela preferência, é a
troca de um volante por um terceiro zagueiro. O time piora na
defesa e no ataque. A ausência de
um armador dificulta o apoio ao
ataque e facilita para o adversário tocar a bola no meio-campo e
se aproximar da área.
Se o Cruzeiro não for campeão,
o que é quase impossível, Luxemburgo não deixará de ter feito um
ótimo trabalho. Ele planejou o
elenco, o time, a maneira de jogar
e o título. Pensou em tudo. Para
isso, contou com o apoio da torcida, da diretoria e de uma boa estrutura profissional. O técnico envolveu emocionalmente todos
com a conquista.
Alex, melhor jogador do Cruzeiro e do campeonato, não estará
hoje presente. O substituto Zinho
atua melhor mais recuado, na posição do Wendell. Além de Alex, o
Cruzeiro tem excelentes jogadores. Sei que a maioria absoluta
vai discordar, mas acho o Edu
Dracena superior ao Alex do Santos. Ele é mais completo. Só não
bate bem faltas. O excelente Alex
é driblado com mais facilidade do
que o zagueiro do Cruzeiro.
Dificilmente será adiada a festa
do título. O campeão (Cruzeiro
ou Santos) será o melhor time do
torneio e do Brasil. Essa é a grande virtude da fórmula por pontos
corridos.
E-mail: tostao.folha@uol.com.br
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