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OLIMPÍADA
Comitê teme que atletas façam uso de atestados falsos para utilizar inalador e obter melhora de desempenho
"Brecha olímpica", asma volta a ser preocupação do COI
ADALBERTO LEISTER FILHO
GUILHERME ROSEGUINI
DA REPORTAGEM LOCAL
A asma entrou de novo na lista
de preocupações dos controles
antidoping para os Jogos de Atenas-04. Desconfia-se que um
grande número de atletas, que diz
usar remédios para controlar a
doença, na verdade estaria obtendo melhora de performance.
Nos Jogos de Sydney-00, 7% dos
competidores apresentaram atestados se dizendo asmáticos. Com
isso, não estariam sujeitos à punição em caso de testes positivos para alguns esteróides anabólicos.
O índice é altíssimo, já que a Organização Mundial da Saúde calcula que só 1% da população sofra
da doença. Para o Comitê Olímpico Internacional, a brecha jurídica
foi usada para escamotear casos
verdadeiros. A questão já foi mais
séria. Nos Jogos de Inverno de Lillehammer-94, 70% dos atletas foram autorizados a usar o inalador.
Segundo a Folha apurou, o COI
pretende ser mais rigoroso em
2004. Na Grécia, além de apresentar um atestado médico, o competidor teria que comprovar, com
exames, a condição de asmático.
A medida visa prevenir uma enxurrada de fraudes. Em Atenas, o
problema pode ser crônico. O
alerta foi dado pelo Instituto Médico Olímpico da Inglaterra. A entidade divulgou, nesta semana,
um estudo revelando que o nível
de poluição por ozônio em Atenas pode prejudicar a performance dos asmáticos, particularmente
no triatlo e em provas de resistência da natação e do atletismo.
O ozônio é um poluente que, na
troposfera (camada de ar que vai
até 10 km de altura), é um oxidante. Em contato com o homem, diminui os mecanismos de defesa
do sistema respiratório e pode
causar inflamação no pulmão.
"Atenas é quente e poluída. Essa
mistura tem um efeito negativo
sobre os atletas. Nos últimos dez
anos, o nível de ozônio tem excedido os limites seguros estabelecidos pela OMS", diz Greg Whyte,
pesquisador-chefe do instituto.
O maior exemplo inglês é Paula
Radcliffe, dona da melhor marca
da maratona (2h15min25s), que
sofre com crises periódicas. Na
natação, o australiano Grant Hackett, atual campeão olímpico dos
1.500 m, e o americano Tom Dolan, ouro em Sydney nos 400 m
medley, também têm a doença.
Segundo Whyte, medidas preventivas, como a ingestão de suplementos de vitaminas C e E, podem evitar recaídas. Mas o próprio comitê inglês desaconselhou
o estratagema. Muitos suplementos contêm esteróides na fórmula,
mas não alertam o fato nas bulas.
Para alguns, a pesquisa pode
servir para endossar novas fraudes olímpicas em um momento
em que o esporte se vê bombardeado por escândalos de doping.
"Isso parece desculpa para fazer
uso desse tipo de medicamento.
Cada vez aparece mais asmático.
Atenas é poluída, mas não é pior
do que Londres e do que a maioria das cidades em que os atletas
de elite treinam", argumenta João
Grangeiro Neto, diretor médico
do Comitê Olímpico Brasileiro.
A doença também afeta alguns
atletas do país, como o nadador
Pedro Monteiro, especialista em
provas de borboleta, que ainda
não obteve o índice para Atenas.
No entanto, segundo Marcos
Bernhoefit, diretor médico da
Confederação Brasileira de Desportos Aquáticos, os inaladores
seriam dispensáveis na Grécia.
"É possível evitar crises de asma
em locais poluídos se você fizer
um período maior de adaptação.
Em Atenas, basta chegar uns cinco dias antes da competição. Usamos medicamentos só em situações extremas", diz Bernhoefit.
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