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FUTEBOL
Corintianos e são-paulinos colocam dinheiro em casa e celebram fama
Adolescente vira arrimo de família e quer videogame
DA REPORTAGEM LOCAL
Sustentar uma casa, inverter o
pátrio poder. Essa é a rotina repetida por um batalhão de garotos
que surgiram neste Brasileiro. Os
salários desses ilustres desconhecidos não passam dos R$ 10 mil,
pouco para o padrão dos craques
do país, mas são uma fortuna para quem passou necessidade.
Os poucos conhecidos Jô (16),
Wilson (18), Bobô (18) e Wendel
(19), todos do Corinthians, já são
chefes de família.
O salário deles é o que assegura
uma casa melhor, uma TV maior,
mais comida na mesa e o videogame de última geração.
A precocidade os assusta, mas
não é maior do que a empolgação
de estar no time profissional, de
ser reconhecido e de ter dinheiro
para pequenos luxos.
A primeira coisa que Jô fez com
seu salário de jogador profissional
foi comprar uma licença de táxi
para o seu pai -cerca de R$ 15
mil. A segunda foi um Playstation, o videogame desejado por
adolescentes de todas as classes.
"Eu peguei o dinheiro do seguro
de vida do meu irmão, que morreu no ano passado, e completei
com meu salário. Daí deu para
comprar a licença para o meu pai
trabalhar. Mas eu ainda ganho
mais", diz o atacante, que vai treinar de carona e estuda em colégio
particular porque ganhou uma
bolsa para jogar futsal pela escola.
"Antes a diretora não gostava
muito de mim por causa das coisas que eu aprontava. Mas agora
tudo mudou. Ela até já me pediu
uma camisa autografada do Corinthians", festeja Jô.
A história de Wilson é bem parecida, mas são sete as pessoas
que dependem do seu sucesso para viver. Sozinho em São Paulo, o
atacante manda dinheiro para
seus pais e quatro irmãos que moram em Araras (SP).
"Tenho um carro popular e moro em um apartamento bem perto
do Corinthians. O meu pai, que é
aposentado, e o meu procurador
cuidam do dinheiro. Eu não me
meto muito. Meu pai está reformando a minha casa. Eu também
ajudo meus quatro irmãos. É bom
ver as coisas melhorando", afirmou Wilson, autor de dois gols no
último jogo do Corinthians pelo
Brasileiro, contra o Internacional.
No Morumbi as coisas não são
diferentes. O deslumbramento
pela rápida ascensão social ainda
não mexeu de vez com os "moleques" do time de Rojas.
O mais novo deles, Fábio Santos, 17, precisa pegar ônibus e carona para treinar, mas está feliz da
vida por poder antecipar a aposentadoria do pai.
"Agora ele vai poder deixar de
trabalhar no depósito", disse o lateral-esquerdo, que não vê a hora
de se dar um presente maior. "Se
meu pai falar que dá, mês que
vem, quando completarei 18 anos,
vou comprar um carro. Até aqui,
eu só me dei roupas."
Para os pais de quem já atingiu
o estrelato antes dos 20 anos, muita coisa mudou. O pai do santista
Diego, por exemplo, tornou-se
empresário do filho. A família de
Kaká cogita mudar-se para a Itália
para não se distanciar da
cria.
(PAULO COBOS E MARÍLIA RUIZ)
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