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02 NEURÔNIO
>> Jô Hallack >> Nina Lemos >> Raq Affonso
02neuronio@uol.com.br
http://02neuronio.blog.uol.com.br/
Limbo olímpico
UMA DAS GRANDES tristezas do mundo é
a falta de crença no próprio mundo.
Não acreditamos mais em nada. Nem
mesmo no Segredo de Fátima. Não acreditamos em um final pacífico de qualquer conflito, na boa vontade do ser humano, no fim da
poluição, nem mesmo em um novo messias
que surgirá do além dizendo: "Galera, vamos
fugir por aqui!".
Apesar disso, em eventos como os Jogos
Olímpicos, damos para acreditar em tudo.
No espírito olímpico, no Brasil, na Jade Barbosa, num cavaleiro de quem não sabemos o
nome. Acreditamos até mesmo no Dunga. E
na salvação das almas pelo futebol, pelo voleibol e pela bocha. Acreditamos que uma
medalha qualquer em um esporte bizarro terá um poder de transformação mágico em
nossas vidas. E isso é ótimo. Delicioso.
Em épocas de olimpíadas nem nos lembramos de que, na vida real, odiamos esportes e
de que a última competição que participamos foi handebol na terceira série. E perdemos. Também não levamos em conta que no Brasil ninguém apóia o esporte e que para conseguir uma medalha de
ouro você precisa ter um "paitrocínio" e ir treinar no estrangeiro. E que, no resto do ano, achamos um saco quando passa um jogo de vôlei de praia na televisão e nem sabemos os
números dos canais de esporte na TV. E aí a Olimpíada acaba. E nós, que estávamos indo dormir às quatro da manhã
para ver um jogo de par ou ímpar, vamos parar no limbo.
O Limbo Olímpico. Uma espécie de purgatório com pessoas vagando tristes com suas medalhas de latão. Até uma
semana atrás, bastava alguém subir no pódio para a gente
chorar. Mesmo que fosse um atleta desconhecido de um
país desconhecido. Mesmo não. Principalmente.
Agora o mundo voltou a ficar sem graça. E a gente, que
acreditava em medalhas, precisa urgentemente acreditar
em alguma outra bobagem.
Não vai ser em Deus nem em príncipe encantado. Dessas
coisas já estamos vacinadas. Seguir um seriado de
TV? Não gostamos mais,
pois não é gente de verdade. Se empolgar com o
show da Madonna? Não
conseguimos, pois ela também não é gente de verdade. Huum, tivemos uma
idéia. Vamos começar a fazer (de novo) campeonatos
de Imagem e Ação. A gente
pode até desenhar medalhas de papel. Topam?
Momento de histeria
O importante não é competir. É se enganar!
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