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Livros
Confissões milionárias
Na China, a modinha é ler livros de autores com menos
de 25 anos, narrando amores proibidos, depressão e suicídio
RAUL JUSTE LORES
DE PEQUIM
Aos 15 anos de idade,
Tang Chao padece
as chateações de celebridade literária.
Todo dia quando sai
da escola secundária, uma fila
de pais aflitos tenta tirar suas
dúvidas com ele. Querem saber
que problemas seus filhos têm
e principalmente como se comunicar com eles. Tang Chao é
o novo astro do mais lido e lucrativo segmento da literatura
na China: os livros para adolescentes e escritos por gente com
menos de 25 anos de idade.
Seu segundo livro, "Devolva
Meu Sonho", encabeça a lista
dos best-sellers do país desde
maio. Já vendeu 100 mil exemplares e centenas de milhares
mais em cópias piratas.
O fenômeno começou há cinco anos, mas pelo menos 15 milhões de livros já foram vendidos no segmento teen. No sombrio "Devolva Meu Sonho",
Tang narra amores proibidos
pelos pais, depressão e até o
suicídio de um personagem,
que se joga de um prédio.
"Uma amiga de um amigo
meu que tinha 15 anos se matou
por ter notas baixas na escola, o
personagem é inspirado nela",
conta Tang à Folha.
"A China mudou tanto nas
últimas décadas que se acredita
que adultos não conseguiriam
escrever livros para esse novo
público leitor", diz Yan P.
Zhang, ex-diretor da editora
Random House na China. Enquanto a geração dos anos 60 e
70 sofria a violência e a miséria
da Revolução Cultural comunista, os anos 80 eram tempos
de trabalho pesado e de abraçar
o capitalismo.
As crises existenciais "aborrescentes" são novidade na
China - no país onde há 30
anos o governo impõe o filho
único aos casais, a geração de
meninos solitários não acha
que tudo é sucesso econômico.
"A geração dos meus pais
nunca namorou na escola, o foco era trabalhar e estudar em
tempos mais difíceis. Eles não
nos entendem", explica Tang.
O andrógino e o bad boy
Os autores teens comprovam
que conseguem fazer seus contemporâneos ler - e muito.
O maior nome dessa turma,
com avançados 23 anos de idade, é Guo Jingming. Andrógino
até a última ponta do cabelo
descolorido, alterna acessórios
Dolce & Gabbana, colares, brincos e crucifixos. É o favorito das
adolescentes chinesas.
Seus heróis melancólicos,
que bebem sem parar no topo
de prédios, cantam karaokês e
se suicidam -tema recorrente
dessa nova literatura- já venderam 5 milhões de cópias.
Guo é dono de várias revistas
para o público adolescente, já
produziu um CD com faixas
próprias e pretende criar um
concurso literário em 2009.
Apesar da fama e dos US$ 2
milhões que lucrou só em 2007,
Guo foi eleito a celebridade
masculina mais odiada da China num popular fórum.
O herói dos meninos é Han
Han, 24, piloto profissional de
corridas, que abandonou os estudos e é bad boy das letras chinesas. Seu blog é um dos mais
populares do país. "Vários deles
viram popstars, criam tendências. Alguns até mentem a idade, sempre cortando anos, para
continuarem convencendo como adolescentes", diz o editor.
Os "peter pans" literários enfrentam novos concorrentes.
Em abril, outro autor, Yang Daqing, lançou um romance histórico sobre a invasão da Coréia
pelo Japão. Yang tem 13 anos.
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