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Comportamento
Em harmonia com a natureza
Eles moram em comunidades que utilizam energia limpa, produzem seus alimentos e reciclam os seus resíduos; é assim a vida dos jovens nas ecovilas
Arquivo Pessoal
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Laila Soares, 17, não tem nojo de lixo quando o assunto é reciclagem
LUANA VILLAC
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
Todas as manhãs, Laila Soares, 17, entra
na internet para ver
qual é a lição de casa
do dia. De dentro de
sua casa no interior de Goiás,
feita de barro, areia e palha, ela
se comunica com seus professores na Austrália e discute
com outros alunos os tópicos
do fórum da semana. Além das
aulas convencionais, como biologia e matemática, ela estuda
mitologia e a condição da mulher na sociedade. À tarde, se
dedica a tocar violão, pintar ou
cuidar das plantas. Duas vezes
por semana, visita escolas onde
dá aulas para alunos e professores com o intuito de promover a
sustentabilidade.
Sustentabilidade é a capacidade de suprir as necessidades
da geração presente sem afetar
a habilidade das gerações futuras de suprir as suas. De forma
mais simples, isso significa gastar menos do que a natureza
consegue repor. Este é o conceito por trás das ecovilas, comunidades onde as ações sustentáveis vão muito além da reciclagem de lixo. "Eu nasci e
cresci em um ambiente sustentável, isso sempre foi muito natural para mim", conta Laila.
Ela mora no Ecocentro Ipec
(Instituto de Permacultura e
Ecovilas do Cerrado), uma ecovila a três quilômetros de Pirenópolis criada há dez anos por
seu pai, brasileiro, e sua mãe,
australiana. O local é um centro
de referência de vida sustentável baseado na permacultura
(saiba mais nas páginas seguintes), onde são ministrados cursos sobre o tema.
Atualmente, há cerca de 20
pessoas morando no local. Mas
na época dos cursos o número
de residentes pode subir para
150. "Recebemos gente do
mundo inteiro. Estou sempre
conhecendo culturas novas e
fazendo novos amigos."
Mas não é só no ecocentro
que Laila expande seus horizontes. Freqüentemente,
acompanha os pais em trabalhos ao redor do mundo. "Por
isso optamos pela escola à distância", explica. "Assim, posso
viajar e continuar estudando."
A última viagem foi para o
Japão, no final de maio. Ela foi
uma das três estudantes brasileiras selecionadas para, junto
com 36 outros jovens de 13 países diferentes, entregarem propostas sobre o meio ambiente
aos representantes do G8+5
(grupo que reúne os líderes do
G8 -Canadá, França, Alemanha, Itália, Japão, Rússia, Reino Unido e Estados Unidos- e
os dos países emergentes
-África do Sul, Brasil, China,
Índia e México). "Eles não esperavam uma fala tão forte.
Acho que provocamos um
grande impacto nos ministros."
Na ecovila onde mora Janir
Coutinho Batista, 24, ecologia e
espiritualidade andam de mãos
dadas. Localizada no interior
de São Paulo, próxima à cidade
de Porangaba, a Visão Futuro
-como é chamada- promove
cursos e tratamentos de yoga e
ayurveda, a medicina tradicional indiana.
Janir freqüenta o local desde
2004, quando fez um retiro de
yoga e meditação na comunidade. "Assim que cheguei, me
identifiquei com a proposta.
Aqui trabalhamos a ecologia interna, dentro de cada um, e a
externa", afirma.
"Fui convidado para desenvolver um projeto de educação
ambiental com as crianças e
acabei me mudando para cá."
Hoje, Janir se divide entre a
ecovila e a cidade de Campinas,
onde está concluindo uma graduação em educação física e
pretende fazer mestrado em fisiologia. Mas ele garante que, se
pudesse, passaria todos os dias
no Visão Futuro.
Pouco afeito a baladas, ele
prefere festas em volta da fogueira com os outros moradores da ecovila e garante que não
sente falta de nada da cidade .
Já para Guilherme Castellari
Parrillo, 15, que mora na Fazenda Demétria, comunidade
próxima a Botucatu, as baladas
são o que mais fazem falta no
seu estilo de vida. "Às é difícil
sair à noite aqui. Como a cidade
é um pouco longe, meu pai não
gosta de me levar", desabafa.
Tendo morado em São Paulo
até os oito anos, Guilherme
acredita que a vida na cidade
tem suas vantagens e desvantagens. "Acho São Paulo da hora.
Tem muita cultura e, se não
fosse o trânsito infernal, seria
um lugar maravilhoso."
Na fazenda, do que ele mais
gosta é a tranqüilidade. "Ficar
isolado também é bom. Aqui
tem lago, cachoeira, e eu e
meus amigos costumamos
acampar e ficar tocando violão
em volta da fogueira."
Para ele, ninguém precisa ser
bicho-grilo para viver lá. "Não é
porque eu moro aqui que nunca vou no Mac e não tomo Coca-Cola", afirma.
"Algumas famílias daqui são
radicais, mas nós só procuramos leva uma vida mais natural
do que a maioria."
Laura Teresa von Schnitzler
Cabrera, 13, vizinha de Guilherme, não é uma grande freqüentadora do Mac Donald's.
Em sua casa, o pão é sempre integral e a televisão não faz parte
dos utensílios. "Às vezes as minhas amigas da escola falam de
alguma coisa que eu não sei,
mas já me acostumei."
Laura tem computador, mas
garante que prefere fazer outras coisas a ficar em frente em
frente à tela, como andar a cavalo, ver as vacas, nadar no lago
ou visitar as amigas.
"Tenho várias colegas que
moram na fazenda. Vou visitá-las de bicicleta."
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