São Paulo, sábado, 18 de agosto de 2012

literatura

O "gatão" do jiu-jítsu

Vigilante que trabalha armado à noite passa 12 horas dentro de uma fantasia de gata na Bienal do Livro

LAURA MATTOS
EDITORA DA "FOLHINHA"

Gabi é uma gata de pelúcia cor-de-rosa, de 2,2 metros de comprimento, mais ou menos o tamanho de duas crianças de oito anos, uma em cima da outra.
Desde 9 de agosto ela está no corredor B da Bienal do Livro de São Paulo, que termina amanhã. Fica de pé 12 horas por dia, das 10h às 22h, e tira mais de 500 fotos com crianças, jovens e adultos. Rebola, dá tchauzinho e passa a mão peluda no rosto dos visitantes para fazer carinho.
Também pega bebês no colo e tem que se virar o tempo todo para fugir dos pestinhas maiores que insistem em puxar seu rabão. Dia desses, o pai de um menino perguntou a Gabi se podia dar "uma gravata" nela para tirar foto. Queria apertar o pescoço da gata com os braços, como se fosse enforcá-la.
Da boca da boneca, feita de telinha preta com uma língua de pano vermelho macio, o atrevido ouviu a voz de um homem: "Só se eu puder te dar um golpe de jiu-jítsu".
Dentro da fantasia, está Carlos Henrique Marques de Souza, 23, que trabalha à noite como vigilante de uma empresa de transporte de valores (daqueles carros que levam dinheiro para os bancos). Na porta da empresa, ele fica parado, com um revólver na cintura e cara de poucos amigos.
"É mais fácil ser vigia do que ser a Gabi", diz o simpático Carlos. A fantasia, que pesa uns cinco quilos, deixa o rapaz suado e com dor no corpo -ele toma remédio antes de vesti-la e quando vai dormir.
Mas Carlos, que está de férias do cargo de vigia, acha que vale a pena, porque ganha R$ 130 por dia.
Ao lado dele, um vendedor da editora infantil que o contratou fala a quem tira foto com Gabi: "Essa vai para o Facebook, hein!". O objetivo é fazer propaganda do personagem.
Esse é um lado da Bienal que as crianças não percebem, o do comércio. Meninos e meninas são metade do público que visita a feira, e as editoras fazem tudo para chamar a sua atenção. Gabi que o diga.

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