São Paulo, sábado, 26 de janeiro de 2013

CAFUNÉ

Uma tribo na sala

CLARICE REICHSTUL
COLUNISTA DA FOLHA

Ao acordar são nenês. Abraçados a seus ursinhos e carneirinhos, reclamam do frio da manhã (saudosos do calor da cama) e pedem uma cobertinha no sofá. No café da manhã, já estão mais velhos, comem sozinhos o iogurte com Sucrilhos e conversam sobre os sonhos da noite anterior. Agora, são caçadores moicanos de arco e flecha, atrás de presas dignas dos melhores da tribo, como o tênis da mãe ou o jornal do pai. Se ele estiver lendo no momento da emboscada, melhor é o feito.
A tenda de índio americano no meio da sala atrapalha a passagem dos adultos, mas é onde cabe a bendita. E é lá que eles se escondem, crentes de que ninguém os está vendo. De tempos em tempos, saem em excursão para azucrinar a Mimi, que está com a panela no fogo preparando o almoço.
Os caçadores, depois de levarem uma bronca, resolvem lanchar e vão atrás de uma bolacha nos reinos da dispensa. Driblam uma garrafa de suco de uva, saltam uma barreira de saco de arroz e alcançam o prêmio tão desejado: o pacote de bolacha de água e sal que está em cima da segunda prateleira. Levam a presa para a tenda, é claro, e aprontam o banquete da tribo.
Não sei o quanto eles sabem sobre a vida dos índios norte-americanos, mas talvez isso não venha muito ao caso. Bom mesmo é bolar as armadilhas, esticar o arco e mandar uma flechada (imaginária) no jornal do pai, que sai correndo atrás dos meninos igual a uma fera zangada.

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