São Paulo, sábado, 29 de setembro de 2012

CAFUNÉ

Ninho de sabiá

CLARICE REICHSTUL
COLUNISTA DA FOLHA

Um ninho foi construído na nossa pitangueira. Ela ainda não estava em flor nem nada, foi bem quando o inverno ainda era inverno, não esse calor de verão que tapeia os nossos sentidos. Foi um casal de sabiás-laranjeira, daqueles do peito alaranjado, que resolveu fazer morada aqui no quintal.
Primeiro vimos os ovos, umas coisinhas brancas. Não acreditamos, afinal, quando é que você vê DE VER-DA-DE um ninho com ovinhos assim, do nada? Parecia coisa de livro ou de filme, sei lá. Fato é que a Dona Sabiá dava umas olhadas bem feias pra cima da gente, como se quiséssemos ver os ovinhos fritos no prato.
A pitangueira floriu. Aquela florada branca, parecia uma neve delicada sobre as folhas verde-claras, flores tão suaves e miúdas que, a cada lufada de vento, despedaçavam-se e caíam em chuva branca sobre o jardim. E nada de o sabiá sair do ninho.
As flores se foram, as pitangas começaram a aparecer. Cansamos de bisbilhotar e se passou uma semana. Então, uma algazarra na pitangueira, um tal de passarinhar pra lá e pra cá e, quando fomos ver, bom, não tinha mais nenhuma mancha branca no ninho. Será que algum gato papou os ovos? Uma coisa meio cinza meio cor-de-rosa passou rapidamente pelo nosso campo de visão. Um biquinho aberto, esperando comida da mãe. E nossos corações encheram-se de alegria, não é todo dia que você testemunha algo tão grande como o nascimento de um ser.

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