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CAFUNÉ
Ninho de sabiá
CLARICE REICHSTUL
COLUNISTA DA FOLHA
Um ninho foi construído na nossa pitangueira. Ela ainda não estava em flor nem nada, foi bem quando o inverno ainda era inverno, não esse calor de verão que tapeia os nossos sentidos. Foi um casal de sabiás-laranjeira, daqueles do peito alaranjado, que resolveu fazer morada aqui no quintal.
Primeiro vimos os ovos, umas coisinhas brancas. Não acreditamos, afinal, quando é que você vê DE VER-DA-DE um ninho com ovinhos assim, do nada? Parecia coisa de livro ou de filme, sei lá. Fato é que a Dona Sabiá dava umas olhadas bem feias pra cima da gente, como se quiséssemos ver os ovinhos fritos no prato.
A pitangueira floriu. Aquela florada branca, parecia uma neve delicada sobre as folhas verde-claras, flores tão suaves e miúdas que, a cada lufada de vento, despedaçavam-se e caíam em chuva branca sobre o jardim. E nada de o sabiá sair do ninho.
As flores se foram, as pitangas começaram a aparecer. Cansamos de bisbilhotar e se passou uma semana. Então, uma algazarra na pitangueira, um tal de passarinhar pra lá e pra cá e, quando fomos ver, bom, não tinha mais nenhuma mancha branca no ninho. Será que algum gato papou os ovos? Uma coisa meio cinza meio cor-de-rosa passou rapidamente pelo nosso campo de visão. Um biquinho aberto, esperando comida da mãe. E nossos corações encheram-se de alegria, não é todo dia que você testemunha algo tão grande como o nascimento de um ser.
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