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DEU NA MÍDIA
A Rodada Doha e a guerra dos subsídios
ROBERTO CANDELORI
ESPECIAL PARA A FOLHA
Reunidos em Genebra
(Suíça), em julho, representantes dos países membros
da OMC (Organização Mundial do Comércio) participaram de intensas discussões
cujo desafio era concluir a
Rodada Doha com a formulação de regras e regulamentações que orientassem o comércio internacional.
No entanto, divergências
entre países emergentes do
G-20 -grupo dos países que
atuam em conjunto na
OMC- e as nações desenvolvidas, sob o comando dos
EUA e da UE (União Européia), inviabilizaram as negociações. O grande obstáculo foram mais uma vez os
subsídios agrícolas.
Prática condenada pela
OMC, os subsídios são benefícios oferecidos pelo governo aos agricultores e, em alguns casos, resultam em alta
substancial da produção interna a um custo relativamente baixo. Quando os subsídios resultam em aumento
da produção, o excedente pode ser exportado a preços
bem menores. Os EUA, assim como os países da UE,
oferecem subsídios aos seus
produtores prejudicando os
agricultores dos países pobres, incapazes de competir
com os preços subsidiados.
Um exemplo: através dos
subsídios oferecidos a seus
produtores, os EUA se tornaram os maiores produtores
mundiais de algodão. Em Benin e Mali, países pobres africanos, a produção de algodão
corresponde a cerca de 50%
do PIB. O algodão é praticamente o único produto de
exportação destas nações.
No entanto, o mercado internacional, impulsionado pela
China, dá preferência ao algodão norte-americano,
mais barato. Portanto, eis a
lógica perversa: os subsídios
nos EUA causam danos à
produção agrícola dos países
africanos, dificultando a saída desses países de uma situação de extrema pobreza.
Inauguradas em Doha, no
Qatar, em 2001, as negociações multilaterais sobre a liberalização do comércio
mundial, chamadas de Rodada Doha, estavam previstas
para serem concluídas em
2004. No entanto, após sucessivos encontros, o impasse continuava. Desta vez, os
negociadores, sob a liderança de Pascal Lamy, diretor-geral da OMC, estavam otimistas. A atual crise de alimentos no mundo e a disposição do presidente dos EUA,
George W. Bush, em superar
os obstáculos, em razão da
proximidade do fim do seu
mandato, levavam a crer que
finalmente a rodada seria encerrada, o que não ocorreu.
Antes de preparar uma nova estratégia, é preciso
aguardar o resultado das urnas nos EUA, mas sem muito
otimismo. Afinal, quando o
tema é subsídio, não há muita diferença entre um democrata e um republicano.
ROBERTO CANDELORI é professor do colégio Móbile
rcandelori@uol.com.br
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