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Tecnologia imita leis da natureza em exposição
Quarta edição da mostra de arte eletrônica "Emoção Art.Ficial" é aberta hoje em SP
São 16 obras expostas no Itaú Cultural: computadores geram bactérias artificiais e o movimento de carpas num aquário toca arquivos MP3
SILAS MARTÍ
DA REPORTAGEM LOCAL
A internet, plataformas digitais, conhecimentos avançados
de robótica, análise combinatória e luzes coloridas fazem parte de um arsenal tecnológico
um tanto espalhafatoso montado a partir de hoje em três andares do Itaú Cultural -tudo
para parecer natural.
São 14 artistas e dois coletivos expoentes da chamada arte
eletrônica que se esforçam nesta quarta edição da mostra
"Emoção Art.Ficial" para criar
sistemas autônomos, dotados
de uma espécie de inércia evolutiva digital, como se dependessem não do software pré-inserido em seus sistemas, mas
seguissem as leis da natureza.
"Eu criei esse sistema e tive
que pedir que ele incorporasse
minhas idéias", diz o artista
austríaco Roman Kirschner,
diante de seu aquário turvo
cheio de fios de cobre -eles
conduzem uma corrente elétrica que provoca reações químicas com o sulfato de ferro, fazendo surgir cristais negros lá
dentro. "Não sabia como o sistema reagiria às idéias."
Talvez o público tenha a mesma perplexidade diante dos bichos mecânico-orgânicos que
povoam as cinco telas da dupla
britânica Vicky Isley e Paul
Smith, juntos no duo Boredomresearch. Num software que
não pode ser desligado desde
2005, combinações numéricas
determinam a aparência de
amebas com aspecto de máquina, que balançam de lado a lado
nos displays. "Eles decidem
qual a cor, quais estampas e formatos vão ter", diz Isley.
Aquário
Pelo menos duas outras
obras centrais fazem referência
direta a colônias de bactérias,
enquanto outros trabalhos se
apropriam da lógica dos ecossistemas -uma artista chega a
criar carpas em plena mostra-
para dar seu recado.
O aquário das carpas de Vivian Caccuri convida o público
a instalar seus tocadores de
MP3 num sistema que reproduz os arquivos de som de acordo com o movimento dos peixes. Quanto mais longe estão
do centro, mais difuso fica o
som. "É uma metáfora para as
músicas submersas nos fones
de ouvido", diz Caccuri. "Você
vê as pessoas ouvindo música,
mas não ouve nada."
A artista paulistana estende a
metáfora: "O iPod é um instrumento de controle -menos
quando está no modo "shuffle'-, as pessoas fazem todas as
escolhas, mas não controlam o
nado dos peixes".
Também foge ao controle a
chamada orquestra bacterial
da dupla sueca Olle Cornéer e
Martin Lübcke -o primeiro,
um DJ, e o segundo, um físico.
Eles montaram no subsolo
uma floresta de caixas de acústicas equipadas com microfones, que captam e reproduzem
fragmentos do som ambiente
em combinações aleatórias.
"São células que se comunicam por meio da música", diz
Lübcke. "Elas constroem uma
memória de tons e vão buscando um som para tocar, como se
sofressem uma evolução. Só as
células que gostam do "groove"
sobrevivem."
EMOÇÃO ART.FICIAL 4.0
Quando: abertura hoje, às 19h30; de
ter. a sex., 10h às 21h; sáb. e dom.,
10h às 19h; até 14/9
Onde: Itaú Cultural (av. Paulista,
149, tel. 0/xx/11/2168-1776; livre)
Quanto: entrada franca
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