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Barcelona abriga a crueldade da guerra
IVAN PADILLA
FREE-LANCE PARA A FOLHA, EM BARCELONA
O momento não poderia ser
mais oportuno. Enquanto a Espanha se refaz do atentado terrorista
de Madri do último 11 de março,
uma exposição em Barcelona recolhe as obras antibélicas do pintor Pablo Picasso (1881-1973).
Serão apresentados 320 desenhos, ensaios, pinturas, litografias, esculturas e cerâmicas, nos
quais o artista cubista condensa,
com seus característicos traços
geométricos, todo o horror da
guerra moderna.
A mostra "Picasso: Guerra e
Paz" será apresentada no marco
do Fórum das Culturas de Barcelona, entre 25 de maio e 26 de setembro. Reúne peças de museus
como a Tate Gallery, em Londres,
e o Centro Georges Pompidou,
em Paris, e começou a ser planejada há dois anos.
"Essa triste coincidência mostra
que o tema é mais atual do que
nunca. Mudaram as guerras, mas
não a crueldade", disse Maria Teresa Ocaña, diretora do Museu Picasso em Barcelona e comissária
da exposição.
Os conflitos refletem o ponto de
vista da população civil. Algumas
obras da exposição não mostram
nem os elementos próprios de
uma guerra. Não há soldados,
bombas ou fuzis. A dor é retratada através do exagero, como bocas excessivamente retorcidas,
dentes expostos, narinas abertas,
línguas afiladas e órbitas dos
olhos saltadas, de onde escorrem
lágrimas em linha reta.
Na pintura "Mãe com Menino
Morto (II)", de 1937, uma mulher
de corpo disforme carrega, em
sua enorme mão, o filho morto.
"Cabeça de Mulher Chorando
(I)", do mesmo ano, é uma alegoria do medo. "Massacre na Coréia", de 1951, uma denúncia da
intervenção americana, representa o momento de uma execução
de mulheres e crianças.
Estão na mostra imagens pacifistas em oposição ao cenário pessimista dos tempos de guerra, como "Estudo para um Homem
com Cordeiro" (43). Destacam-se
ainda as clássicas representações
das pombas, que se tornariam um
emblema da paz, como em "As
Mãos Enlaçadas II" (52).
A ausência mais sentida é
"Guernica", a obra antibélica por
excelência. O quadro retrata a
destruição do povoado basco de
mesmo nome pelos nazistas.
Trata-se da única obra de Picasso registrada em testamento. Por
desejo expresso do autor, o quadro só poderia voltar à Espanha
depois da morte do ditador Francisco Franco, o que ocorreu em
1975. Em 1981 a pintura é levada
ao Museu do Prado, em Madri, e
mais tarde, com consentimento
dos herdeiros, transladada ao
museu Reina Sofía.
"Guernica" marca o início da fase política de Picasso. Durante a
Segunda Guerra, o pintor retratou
uma série de naturezas-mortas e
representações de crânios humanos. Com a Guerra Civil Espanhola, mudou-se definitivamente para a França, onde viveu até o final
de seus dias. Em 1944, filiou-se ao
Partido Comunista francês e passou a pintar temas pacifistas. São
dessa época retratos em cenários
campestres e mediterrâneos.
A partir dos anos 60, dedicou-se
a temas mais amenos, como os retratos de Jacqueline Roquet, a última de suas quatro mulheres.
Os trabalhos antibélicos não são
maioria no acervo deixado pelo
artista, de um total de 2.000 quadros e 7.000 desenhos, mas adquiriram indiscutível projeção. Para
Picasso, a arte era um instrumento contra a violência.
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