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FLIP menos estrelada
Mais prestigiosa festa literária do país chega à 6ª edição sem grandes astros das letras e com orçamento de mais de R$ 5 milhões
Luciana Serra/Divulgação
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A Tenda dos Autores, o espaço mais importante da Flip, evento literário que será aberto hoje com palestra de Roberto Schwarz
EDUARDO SIMÕES
MARCOS STRECKER
DA REPORTAGEM LOCAL
Um ano depois de reunir o
maior elenco de prêmios numa
mesma edição -quatro escritores acumulando dois Nobel,
quatro Booker Prize e um Pulitzer-, a Festa Literária Internacional de Parati chega menos
estrelada à 6ª edição, com Tom
Stoppard e Neil Gaiman entre
os detentores de prêmios mais
prestigiosos: quatro Tony (teatro) para o primeiro e 13 Eisner
(quadrinhos) para o segundo. A
festa começa hoje com palestra
do crítico Roberto Schwarz sobre Machado de Assis.
Também neste ano, a Flip
tem o seu maior orçamento: R$
5.088.146,59 (o valor é próximo
aos custos de 2006 e 2007, levando-se em conta a inflação).
Do montante, R$ 200 mil, cerca
de 4%, vão para a diretoria de
programação, que vem sofrendo com a descontinuidade. As
duas primeiras edições foram
organizadas pelo jornalista Flávio Pinheiro, as duas seguintes
pela editora Ruth Lanna, e a última, pelo jornalista Cassiano
Elek Machado, substituído em
dezembro de 2007 por Flávio
Moura.
Segundo o arquiteto Mauro
Munhoz, diretor da Casa Azul,
a associação que organiza a
Flip, a saída de Machado se deu
com o convite do jornalista para ser diretor editorial da Cosac
Naify, o que criaria um conflito
de interesses. Machado, no entanto, saiu da direção de programação da Flip em outubro
de 2007 e assumiu o novo cargo
somente em janeiro deste ano.
O jornalista teve sete meses para organizar a Flip 2007, não
contou com uma equipe de programação para auxiliá-lo e fez
suas tarefas enquanto trabalhava na revista "Piauí".
Já Moura teve menos de seis
meses para criar a atual grade.
Ele concorda que, num cenário
ideal, deveria ter começado seu
trabalho já em agosto, mês seguinte à festa, visto que autores
renomados decidem suas agendas com uma antecedência
muito grande.
"Por uma série de razões, não
foi possível. Não acho, no entanto, que tenha prejudicado.
Foi possível colocar de pé uma
programação de qualidade", diz
Moura, que não concorda que a
Flip 2008 seja menos estrelada.
"É normal que as pessoas perguntem por estrelas em função
dos convidados que já vieram.
É um risco de fetichismo em
que a Flip não pode cair."
Evento literário de maior
prestígio no país, a Flip já teve
autores do porte do sul-africano J.M. Coetzee, de Ian McEwan, do historiador Eric Hobsbawm, da americana Toni Morrison e do turco Orhan Pamuk.
"Tem diferença entre a projeção no Brasil e a importância
do autor. Em termos de qualidade, os convidados deste ano
não devem nada aos que já participaram", afirma o jornalista.
Ainda segundo Moura, a
chancela de um prêmio Nobel
não é tão importante. "Há vários prêmios Nobel que não
têm projeção no país. Não vejo
como falha da Flip, e sim como
virtude, porque a projeção se dá
aqui junto a editoras e público."
Liz Calder
Uma das criadoras da Flip, a
editora britânica Liz Calder
elogia a programação feita por
Flávio Moura ("Ele fez um trabalho maravilhoso"). Ela, que
mora na Inglaterra, já não tem
residência em Paraty, mas continua ajudando nos contatos e
convites aos autores. "A idéia
sempre foi de que a Flip fosse
totalmente tocada por brasileiros. Há muitas centenas de autores importantes que ainda
querem vir à Flip. Consideramos que o evento deve ser uma
celebração do mundo literário,
seja qual for a forma."
Em relação aos anos anteriores, uma novidade é a montagem de uma terceira tenda, vizinha à igreja da Matriz, e com
custo aproximado de R$ 106
mil. Ela irá abrigar a Livraria da
Vila, local para autógrafos e a
loja da Flip. Segundo os organizadores, o espaço foi criado para desafogar a saída das mesas
na Tenda dos Autores.
Mais renúncia fiscal
A festa deste ano será feita
com mais patrocínio indireto,
ou seja, com mais dinheiro de
renúncia fiscal. Em 2006, a arrecadação com a Lei Rouanet
foi de R$ 1.514.650,70, contra
R$ 2.260.000 em 2008, um aumento de quase 50% em dois
anos. A Flip, pela primeira vez,
também recebeu R$ 300 mil do
Ministério do Turismo. O sucesso da festa foi um dos fatores
que ajudaram a Casa Azul a
também receber pouco mais de
R$ 400 mil do mesmo ministério, para tocar um novo projeto
cujo objetivo é valorizar produtos culturais e belezas naturais.
Segundo Munhoz, o aumento da arrecadação com lei de incentivo compensa as perdas
nas parcerias, sejam elas nacionais (desde 2006, a Flip não
tem mais cortesias de companhias aéreas) ou locais (as pousadas de Paraty teriam diminuído os descontos, de olho no
crescente público que vai para a
cidade fluminense, num período de ocupação que já rivaliza
com o Ano Novo e o Carnaval).
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