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Produzidos no Brasil, séries e longas de animação invadem a TV e as telas de cinema do país em 2004 e aquecem um mercado em ascensão
Futuro animado
DIEGO ASSIS
DA REPORTAGEM LOCAL
Yes, nós temos desenhos. Depois de décadas importando os
chamados "enlatados" estrangeiros, animadores brasileiros começam a produzir suas próprias séries para a TV, a se associar e a esboçar os primeiros traços de uma indústria nacional de animação.
O cenário mudou. Foram-se os
tempos dos caríssimos acetatos,
das mesas de luz e dos heróicos
animadores de "uma mão só".
Com o computador, os custos e
prazos de produção caíram vertiginosamente e, muitas vezes, uma
idéia na cabeça e um scanner em
casa são mais do que suficientes
para ver o projeto ganhar vida.
Dessa forma nasceu, por exemplo, a "Mega Liga MTV de VJs Paladinos", criação de Marco Antonio Pavão, 24, que vem sendo exibida em episódios de dois a quatro minutos. Em 2004, o desenho
animado, que tem os próprios
funcionários da emissora como
protagonistas, pode ganhar série
fixa com episódios de meia hora.
"Estou virando
animador agora",
confessa Pavão,
que até então só
havia trabalhado
com ilustrações.
Autodidata, continua tentando dar
conta dos projetos
futuros na MTV
"sem contratar 40
pessoas para fazer
o trabalho".
No eixo São Paulo-Rio Grande
do Sul-Florianópolis também já
correm as primeiras aventuras de
"Anabel", série infantil de "terrir"
criada pela produtora Digital
Films & Toons, de Sérgio Martinelli, 46. Com dois dos 13 episódios já finalizados, "Anabel" foi
aprovada nas leis de incentivo do
Ministério da Cultura e no projeto
PIC-TV, da TV Cultura.
"Séries são um produto diferenciado. Existe um mercado maravilhoso para elas. As TVs têm que
preencher suas 24 horas de programação com algo diferente e
novo", afirma Martinelli, que,
além de oferecer a série para os
canais de TV paga e aberta, já tem
garantida a exibição da série animada na Cultura. Um longa de
"Anabel" e "Holy Avengers", o
primeiro anime -desenho japonês- 100% nacional, também já
estão no horizonte da produtora.
Cenarista de "Anabel" e já preparando o seu primeiro longa,
"Zelito", o animador gaúcho
Eloar Guazzelli, 41, emenda: "A
gente precisa assumir que a animação brasileira deixou de ser
uma coisa "engraçadinha". Não estamos mais vivendo aquela fase
tupiniquim, ingênua".
Animar não basta, organizar-se
é preciso. Com a criação da Associação Brasileira de Cinema de
Animação, neste ano, o setor pretende levantar a voz em Brasília.
"Faz três anos que a produção
de animação em curtas no Brasil
ultrapassou a produção de curtas
com atores", defende César Coelho, 43, sócio da produtora carioca Campo 4 e co-organizador do
festival Anima Mundi. "Há uma
revolução silenciosa acontecendo
no cinema brasileiro."
Entre as reivindicações da "classe", estão a criação de linhas de
crédito exclusivas para animação,
a utilização do Condecine (prevê
que TVs a cabo que invistam em
co-produções nacionais abatam
3% do imposto devido) e a aprovação do Projeto de Lei do deputado Vicentinho (PT), estabelecendo cotas progressivas para desenhos nacionais nas TVs.
Produção existe, políticas estão
a caminho, falta portanto encarar
um dos principais tabus que recaem sobre a animação no país: a
(falta de) distribuição.
"O mais difícil é vencer a barreira das animações estrangeiras,
que chegam aqui praticamente de
graça para os canais de televisão",
afirma Denise Garcia, 35, sócia da
produtora carioca Toscographics.
Lais Dias, 39, dos Estúdios Mega, tem rodado o mundo com um
piloto da série "X-Tremers" debaixo do braço. "Estamos apenas
no começo do nosso segundo desafio, a transformação disso em
um negócio. Formatamos e avaliamos o produto, retorno de investimento e possibilidades de licenciamento. Isso envolveu muitos "players" que não existiam no
Brasil ou não estavam familiarizados com os processos."
"Players", negócios, linhas de
crédito, exportação. Parece que finalmente os planos da animação
nacional estão prestes a sair do
papel. Literalmente.
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