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CRÍTICA
Xuxa continua educando para o consumo
BIA ABRAMO
COLUNISTA DA FOLHA
Ela até que tentou, mas não
há meio de Xuxa ser outra
coisa além de ela mesma. "Xuxa
no Mundo da Imaginação", o
programa da maturidade da
apresentadora, apesar de cheio
de intenções educativas, continua sendo uma vitrine para a Xuxa vender a Xuxa.
Quando o programa estreou,
em novembro de 2002, parecia
que a loira estava fazendo uma
revisão crítica de sua trajetória
até com certa veemência. "O
Mundo da Imaginação", dizia-se, seria educativo, livre do merchandising, do apelo erotizante.
As crianças seriam a atração
principal e não haveria necessidade de ela aparecer tanto. Os
quadros seriam tão diversos e divertidos que não haveria necessidade de recorrer aos desenhos.
Dez meses depois, não é bem
assim. É verdade que o merchandising desenfreado de todo tipo
de porcariada sumiu, mas o programa continua vendendo aquilo que poderia se classificar como
os produtos "culturais" do império Xuxa, ou seja, os CDs e filmes.
Os índices de audiência, que,
depois de uma estréia alentadora
quase na casa das duas dezenas,
caíram para uma média de 8
pontos, e a exibição do desenho
animado "Cubix" se impuseram.
Há quadros em que crianças ensinam a fazer brincadeiras com
papel, "entrevistam" umas às outras; às vezes, esquetes teatrais
que contam rapidamente uma
historinha são protagonizados
por atores infantis. Mas na maior
parte do tempo só dá Xuxa.
Ela vem em versão mais sóbria,
mais vestida, é verdade, mas
sempre narcisista. Xuxa ensina
coreografias para músicas que,
não por acaso, estão nos CDs
"Xuxa Só para Baixinhos"; Xuxa
vestida de palhaça ensina a diferença entre os verbos "ir" e "voltar" em quadro obviamente inspirado em "Vila Sésamo"; Xuxa
interpreta vários personagens e,
sobretudo, Xuxa faz sermões.
É exatamente aí, onde aparentemente ela estaria usando seu
poder comunicador para o
"bem", que as intenções educativas de "Xuxa no Mundo da Imaginação" acabam de se esboroar.
Durante anos a fio, ela não teve
dúvidas de usar seu carisma para
ensinar crianças desde a mais
tenra idade a consumir qualquer
porcaria, a falar num tatibitate
infame. Agora, ela usa os beicinhos e a voz meiguinha para inculcar, na marra, noções confusas de bom comportamento que
parecem saídas de um manual
dos anos 50.
Mudou, aparentemente, o conteúdo, mas a truculência é a mesma. No lugar do "pega, estica e
puxa", quase uma alusão àquilo
que as crianças deveriam fazer
com o salário do papai e da mamãe para participar do "mundo
encantado da Xuxa", entram os
toques de boas maneiras, as explicações confusas e as ameaças
para quem se "comporta mal". O
que há de educativo acaba por se
tornar entediante. O que continua divertido mesmo é dançar e
cantar com a Xuxa -e o CD, o
VHS e o DVD que ensinam as letras e coreografias, claro.
@ - biabramo.tv@uol.com.br
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