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Televisão/Crítica
Verhoeven retrata faroeste amoral
PAULO SANTOS LIMA
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
A consciência do corpo é um
dado expressivo no cinema de
Paul Verhoeven. Consciência
que vem da própria situação na
qual estão os personagens, geralmente esmagados pelo sistema. É uma constatação, então,
que ultrapassa o físico para
chegar a algo além: o próprio
mundo. É assim com o corpo
biomecânico do policial que é
utilizado por uma megacorporação em "Robocop".
Não é diferente em "Showgirls" (TC Action, 0h20; não
recomendado para menores de
18 anos). Estamos no universo
dos grandes shows de cassino
em Las Vegas, cidade que simboliza a riqueza material: o dinheiro, que inclusive torna
confusos o humano e o produto. Sobretudo quando são corpos de dançarinas como Nomi
Malone (Elizabeth Berkeley),
que tem plena consciência sobre seu físico ser um item de
consumo, uma peça de carne a
se degustar.
Ela chega com tudo, passando a perna nas amigas concorrentes, oferecendo o que tem
de melhor aos poderosos, tudo
a fim de vencer na vida como
uma grande dançarina. Não só
ela; todas são pistoleiras. É como se estivéssemos num faroeste amoral.
Seria estúpido que Verhoeven utilizasse imagens "puritanas" para criticar esse ideário
utilitarista que "plastifica" até
mesmo a mais orgânica das experiências vivas, o sexo. Assim,
por que deixar de ir ao ponto e
mostrar os seios, dorsos e púbis
à luz da visão? Seria hipócrita,
senão obsceno, escondê-los.
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