|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Bressane divide público em Veneza
"A Erva do Rato", baseado em dois contos de Machado de Assis, faz parte do público abandonar a sala
IVAN FINOTTI
ENVIADO ESPECIAL A VENEZA
Exibido fora de competição
em Veneza, o novo filme de Julio Bressane ganhou a simpatia
de parte da platéia, que riu muito e aplaudiu bastante ao final.
A outra parte, porém, levantou-se e abandonou "A Erva do Rato" pela metade.
Nada disso chega a ser surpreendente em se tratando de
Julio Bressane, um autor que
não faz concessões ao entretenimento comercial.
Planos longos, declamações
literárias, cenas inexplicáveis,
cores fortes. Fale tudo de Bressane, menos que ele faz teatro
filmado, como fez um jornalista
italiano ontem, na coletiva para
a imprensa.
"O teatro que me interessa é
a umbanda; isso é que é teatro
no Brasil. Mas não esse lugar-comum de você confundir um
plano longo com uma tomada
teatral. Isso é um equívoco. O
cinema começou com planos
longos", afirmou.
Bressane também explicou o
processo de criação do filme. "A
Erva do Rato" é baseado em
dois contos de Machado de Assis, autor que Bressane já havia
visitado em "Brás Cubas"
(1985). Os contos são "A Causa
Secreta" e "Um Esqueleto".
"Na verdade, é inspirado em
duas linhas de cada um desses
contos. Peguei a relação do homem com o rato, juntei com o
convívio dele com seu esqueleto e criei essa nova história."
No filme, de 80 minutos, Selton Mello e Alessandra Negrini
formam um casal sem nome.
Ele tira fotos dela nua. Até que
um rato aparece para atrapalhar esse delicado equilíbrio.
"Tive certo cuidado ao sugerir
de alguma forma o estilo de
Machado em imagens, o que é
impossível", declarou o complexo diretor.
"Tudo é tara"
Questionado por outro italiano se ele se considera um cineasta erótico, Bressane disse
que não, apesar de afirmar que
"toda arte já é uma patologia,
tudo é uma tara. Temos apenas
que organizá-la".
Alessandra Negrini falou de
como organizar tudo isso e
transformar em uma interpretação: "É um processo bastante
prazeroso. A primeira coisa que
faço é disponibilizar os ouvidos
ao que Julio tem a dizer. Ele
trabalha muito com iconografia, traz muitas referência para
a gente ver. Fico bem quietinha, e o que está em mim vem
naturalmente. É como viajar
para outro planeta".
Alô, planeta Bressane chamando.
Texto Anterior: Zuza relança livro sobre bossa nova feito em 1976 Próximo Texto: Festival do Rio terá filmes de Nachtergaele e Selton Índice
|