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FILMES
TV PAGA
Ford encontra o sublime em "As Vinhas da Ira"
INÁCIO ARAUJO
CRÍTICO DA FOLHA
Primeiro domingo do ano é
dia (mais um) de balanço e
perspectivas. O balanço já conhecemos: 2003 foi um ano de decadência acentuada da TV paga. As
perspectivas: nada indica que
2004 verá uma recuperação acentuada.
Os grandes canais (HBO e Telecine) viverão basicamente dos
acordos que mantêm com estúdios americanos. Como em 2003,
a dieta hollywoodiana tende a se
intensificar, com muito mais
Danny Kaye e muito menos Satyajit Ray, mais vale começar pelo
que essa dieta tem de melhor:
John Ford.
Ford é o Grande Pai. Na hora da
caça às bruxas, só ele conseguiu
deter o furor anticomunista de
Cecil B. DeMille. Deter e desmoralizar de uma só vez.
Ford era um conservador, um
irlandês católico inimigo dos excessos da moralidade puritana,
que julgava meramente hipócritas. Pessoalmente, era um cavalo
no trato com os grandes (estrelas,
produtores), mas consta que gostava de privar dos atores coadjuvantes e dos técnicos humildes.
"As Vinhas da Ira" é um filme
que agradava à esquerda de outros tempos (comunistas sobretudo) por seu conteúdo social: falava dos expropriados da Depressão dos anos 30.
A rigor, esse conteúdo não é assim tão profundo. Não é aí que
devemos procurar a beleza deste
filme, que no entanto é intensa, e
sim nos rostos dos personagens,
naquela gente ora esquálida, ora
perplexa, triste, desvalida, que
atravessa o deserto num caminhãozinho prestes a se desfazer,
sem nenhuma perspectiva de onde e quando chegar.
É nesses rostos, na intensa e sincera solidariedade, que Ford experimenta, que "As Vinhas da
Ira" encontra a força e o sublime
tão presentes em todo o filme.
AS VINHAS DA IRA. Quando: hoje, às
19h45, no Telecine Classic.
TV ABERTA
"Os Donos da Rua" trafega entre ética e tensão
A Dupla do Barulho
Cultura, 15h30.
Brasil, 1953, 90 min. Direção: Carlos
Manga. Com Oscarito, Grande Otelo,
Fregolente, Wilson Grey. Com nomes
interpostos (Tino/Oscarito, Tião/Otelo), o
que se faz é uma espécie de biografia da
grande dupla de comediantes. Tem
importância sobretudo histórica
(inclusive, Manga começava a carreira).
P&B.
O Pescador de Ilusões
Record, 17h.
(Fisher King). EUA, 1991, 138 min.
Direção: Terry Gilliam. Com Jeff Bridges,
Robin Williams. Bridges é um radialista
deprimido que, após deprimir seus
ouvintes, abandona a carreira. Um
desses ouvintes mata uma pessoa. Ele
passa a viver nas ruas de Nova York. Ali,
encontra um antigo professor (Williams),
que também largou tudo. Juntos, se
dedicarão à busca do Santo Graal, que
creem estar em Manhattan. Drama
crispado, excessivo, à moda de Gilliam.
Talvez um problema adicional: Robin
Williams é um ótimo ator, com um
problema: sente-se, sempre, que está
atuando. Não é filme a desprezar, em
todo caso.
Será que Ele É?
Record, 19h15.
(In & Out). EUA, 1997, 91 min. Direção:
Frank Oz. Com Kevin Kline, Joan Cusack,
Tom Selleck, Debbie Reynolds. Ao
agradecer um Oscar, ator refere-se com
carinho a um antigo professor, que ele
diz ser gay. Bem, é a repercussão disso
sobre a vida do homem que Oz explorará
nesta comédia. Vale conferir.
Os Donos da Rua
Bandeirantes, 20h30.
(Boyz N the Hood). EUA, 1991, 107 min.
Direção: John Singleton. Com Laurence
Fishburne, Cuba Gooding Jr., Ice Cube.
Fishburne é o pai que tenta transmitir ao
filho (Gooding) noções de ética. Filme
tenso, marcado pela presença dos bons
atores e pela boa reconstituição da vida
tensa dos negros nos EUA.
Mister Roberts
Bandeirantes, 0h.
(Mister Roberts). EUA, 55. Direção: John
Ford/Mervyn LeRoy. Com Henry Fonda,
James Cagney. Durante a Segunda
Guerra, oficial da Marinha sente-se
entediado ao trabalhar em navio de
carga. Seu sonho é partir para a ativa.
Encontrará, no entanto, resistência de
seu capitão. Elenco estelar.
(INÁCIO ARAUJO e BRUNO YUTAKA SAITO)
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