|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
MÔNICA BERGAMO
Ana Ottoni/Folha Imagem
|
De manhã, depois de tomar suco de ameixa, mamão, leite e germe de trigo, além de alho e aspirina infantil, para prevenir problemas cardíacos, Paulo Maluf se despede da mulher, Sylvia, com um beijinho: "Já avisei que você é empresária" |
Apenas uma mulher
Se tem uma coisa no governo
do PT que está agradando a
Sylvia Maluf, mulher de
Paulo Maluf, é Marisa, mulher
do presidente Lula e primeira-dama do Brasil. "Ela nunca
abriu a boca, coitada. Nem sei a
voz dela. Mas está bem no lugar
dela. Ela é apenas uma mulher.
Tem que estar sorrindo, sempre
feliz ao lado do marido. Nada
mais que isso." Neste ponto, diz
Sylvia, ela e Marisa são parecidas. "Eu não sou nada. Apenas a
mulher dele [Maluf]. Quem se
interessa por mim? Primeira-dama não vale nada."
Na quarta-feira passada, a coluna acompanhou a rotina de
um dia típico de Sylvia. Já estão
acertadas também reportagens
com Monica Serra, mulher de
José Serra, e Luis Favre, marido
de Marta Suplicy.
Maluf, que está engajado em
sua 19ª campanha eleitoral
-dez delas como candidato-
diz que dona Sylvia "jamais" pediu a ele que largasse a política.
Pois logo na manhã da quarta,
Sylvia revelou exatamente o
contrário à coluna. "Já nasceu
pêlo na minha língua de tanto
pedir para ele parar. Mas adianta? Não adianta." Ela explica
seus apelos. "Se ele não
fosse um industrial [Maluf é dono da Eucatex],
"tá" bom. Mas nós não vivemos de política."
"Mas depois dessa ele
vai ter que parar", diz
Sylvia. "Chega! Acabou!
Ele já está com 72 anos. É
a última campanha.
Deus me livre! Tem que
ter um limite. E ele vai ganhar a eleição, viu? Isso é
que é o pior."
São 9h e Sylvia está sentada no sofá verde-claro
do jardim-de-inverno da
mansão em que vive há 40 anos,
no Jardim Europa. Na sala, há
quadros de Portinari, Di Cavalcanti, Volpi, Cícero Dias, fotos
de família e potes com doces,
muitos doces.
Sylvia tem quase o mesmo peso de quando era solteira: 53 kg.
Ela acorda às 7h, anda na esteira
até as 8h e desce para um café da
manhã frugal, com iogurte light,
mamão e um polenghinho. É
assim que mantém a forma. Há
15 anos, se aventurou a fazer
uma lipoaspiração. Detestou.
"Um ano depois eu já tinha engordado de novo."
Não raro, quando Sylvia começa o café, Maluf já saiu de casa. Os dois têm horários diferentes: ela fica acordada até bem
tarde, na sala ao lado do quarto
do casal, vendo programas como os de Luciana Gimenez, Hebe e Ratinho; ele fica no quarto,
vendo tudo quanto é telejornal.
E acaba dormindo mais cedo.
Quando vai se deitar, Sylvia liga
uma lanterna e tateia a cama para não acordar o marido.
Na quarta, Maluf aguardou a
chegada de Sylvia à sala de refeições. "Já falei a ela [colunista]
que de manhã você trabalha, é
empresária." Sylvia sorri. Maluf
parte. "Tchau, paixão", diz ela.
Ela então vai para o jardim-de-inverno esperar o tempo
passar até chegar a hora de ir ao
escritório, de onde administra
seus bens. "Não gosto de chegar
cedo porque os bancos ainda estão fechados", diz. Perto de Maluf, Sylvia fica muda. Longe dele, sorri e conversa bastante.
Conta que nem na lua-de-mel
conseguiu a dedicação exclusiva
do marido: os dois foram para a
Alemanha e Maluf visitou dezenas de fábricas para comprar
maquinário.
Maluf é vaidoso? "É asseado,
limpinho. Troca de camisa duas
vezes por dia, toma dois banhos.
Mas nunca entrou em loja para
comprar um sapato." Já Sylvia
gosta de visitar Daslu, Dior,
Versace, Cavalli.
A governanta Ana Feldhouse,
catarinense descendente de alemães, trabalha com a família há
29 anos e ajuda Sylvia na administração da casa. No lar dos
Maluf, aliás, todos os empregados foram recrutados no sul do
país. São seguranças, motoristas, copeiros, arrumadeira, lavadeira, cozinheira e jardineiro.
Têm no mínimo dez anos de casa. Folgam uma vez por semana.
E nunca nos finais de semana.
Ana é a única que mexe nas
porcelanas que Sylvia garimpou
em "mais de 500" viagens pelo
mundo.
Muitos deles foram colados- mesmo- nos móveis.
Medo de roubo? "É que não
gosto de ver nada fora do lugar.
Então colei, para ninguém mexer ou quebrar. Comprei com
tanto sacrifício...".
Às 10h, com a bolsa Louis
Vuitton a tiracolo, ela embarca
no Mercedes-Benz preto blindado que desliza alguns quarteirões até o escritório, ali mesmo
nos Jardins. Atrás, mais carros e
seguranças.
Em 15 minutos, ela chega ao
escritório, se acomoda na mesa,
na frente de uma grande foto de
madre Tereza de Calcutá, a personalidade que mais admira. É
recebida pela secretária, por
uma auxiliar, uma copeira e um
telefonista.
Das 10h15 às 11h20, assina dois
documentos e atende a um telefonema de uma das filhas. Conversa um pouco e vai embora.
Está encerrada a sua jornada de
trabalho. Sylvia então visita um
parente no hospital e volta para
casa. Almoça com Maluf e com
o neto, Otavinho, 19.
O jovem adora política, mas
"Deus me livre", diz Sylvia: ele
não vai seguir a carreira do avô,
não. "Mesmo porque para ser
político tem que achar uma santa que nem a minha avó. E isso
não existe mais, né, vó?", diz
Otavinho. "É isso aí", diz Sylvia.
Maluf chega, os dois se calam.
Ele fala mal de Marta Suplicy.
Fala mal do promotor Silvio
Marques, que investiga as suposta existência de contas ilegais do casal no exterior. "Quem
é a testemunha dele? A Nicéa
Pitta. Ora, faça-me o favor. Uma
mulher que, com 25 anos de casada, fez o que fez com o marido
[Celso Pitta], um homem alto,
bonitão...", diz Maluf. Sylvia arrisca um palpite: "Alto, pode
ser. Mas bonitão?". Maluf rebate: "Para ela, ele era sim, Sylvia."
Depois do almoço, Sylvia embarca no Mercedes para visitar
netos que vão viajar numa turnê
que passará por Paris, Roma,
Veneza e um cruzeiro na Sardenha. A segurança da casa deles,
que inclui homens com carabinas, é mais forte que a de Maluf.
Sylvia não gosta de falar de política e evita ler jornais para não
ver as reportagens sobre as supostas contas na Suíça. Como o
marido, diz que "todas" as denúncias feitas contra Maluf são
mentirosas e a incomodaram,
"mas eu não liguei. Ele já foi até
no cartório, fez DNA. Deixa falarem." Gosta de ler as revistas
"Caras", "Quem", e "Tititi", de
bastidores de novelas.
Às 16h30, Sylvia desembarca
do Mercedes na casa de 1.000
m2onde vive sua mãe, Alexandra, 90, no Jardim Europa. Todas as quartas, religiosamente,
ela se reúne lá com algumas tias.
Nesse dia estavam Clemence,
Ida e Assminha. Os assuntos são
dois: novela das oito e assaltos.
Todas têm uma história "horrível" para contar. "Antigamente
não tinha isso", diz Alexandra.
"É a droga, mãe. É tudo drogado", explica Sylvia.
A filha, Ligia, chega, e também
alguns netos. Comem bolo, tomam suco de laranja-lima. A
tarde passa rápido. Sylvia tem
que voltar para casa. "Come here [venham cá]", grita Ligia para
as crianças. Todos os netos de
Maluf estudam na escola bilíngüe Saint Paul e falam inglês
desde pequenos. "Let's say
goodbye to grandma [vamos dizer adeus à vovó]." Sylvia chega
em casa perto das 19h. Maluf telefona. Está com dor dente. Vai
passar no dentista e não tem hora para chegar em casa.
Texto Anterior: Filmes Próximo Texto: Televisão: Acerola e Laranjinha perdem a virgindade Índice
|