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Canais estrangeiros investem em programas nacionais para subir ibope e receita
TV em nova embalagem
LAURA MATTOS
DA REPORTAGEM LOCAL
Em meio à grave crise do mercado publicitário, canais estrangeiros de TV decidiram apostar numa estratégia de "tropicalização"
da programação a fim de conquistar anunciantes e audiência.
Redes como Sony, Nickelodeon, AXN, Fox e National Geographic abrem espaços cada vez
maiores a programas produzidos
no Brasil. Com os primeiros -e
bons- resultados de ibope e faturamento, já planejam reforçar a
investida para o próximo ano.
Além do interesse dos telespectadores e da publicidade por essa
"nacionalização", os canais têm
um novo motivo para a mudança:
a lei de incentivos à produção audiovisual brasileira da Ancine.
A Agência Nacional do Cinema,
instituída por Fernando Henrique Cardoso, é presidida pelo cineasta Gustavo Dahl e ligada ao
governo federal. Possui uma comissão para selecionar projetos a
serem beneficiados com renúncia
fiscal. Pelas regras, estrangeiros
que investirem em conteúdo nacional de TV pagam menos impostos. Antes, os canais eram taxados em 11% da remessa de dinheiro ao exterior. Agora, os que
fomentarem a produção brasileira pagam 3% à Ancine -e esse
montante é usado por uma produtora do país associada ao canal.
Até a semana passada, R$ 2 mi
já haviam sido liberados para produtos da TV paga, e há projetos
em análise para outros R$ 6 mi, de
um caixa que já acumulou R$ 15
mi, segundo Vera Zaverucha, assessora-chefe da presidência. "A
principal linha dos aprovados
tem sido de documentários."
O primeiro projeto beneficiado
foi o "Rally dos Sertões", do AXN,
que estreou em setembro e terá
sua última reprise exibida hoje.
Aproveitando o incentivo, o
AXN fez um documentário da
competição, com cinco edições,
que será exibido em Portugal, Espanha e 23 países da América Latina e Caribe. "Há um esforço de
não deixar o AXN totalmente internacional e mostrar o valor brasileiro no exterior", diz Dênis Palma, supervisor de marketing.
Centrada em ação, a emissora
dos EUA tem outras produções
do país (veja quadro ao lado), que
devem crescer no próximo ano.
O infantil Nickelodeon, do conglomerado norte-americano Viacom (da MTV), também conta
hoje com uma forte programação
brasileira. Em agosto de 2002, estreou na produção nacional com
o "Patrulha Nick". A atração, que
recebeu incentivo da Ancine pela
primeira vez no mês passado, já
figura entre as cinco preferidas
pelo público, segundo pesquisa
interna, ao lado de importados de
sucesso como "Bob Esponja".
"Tivemos ganho considerável
de audiência. Antes do "Patrulha",
estávamos em terceiro lugar no
Ibope entre os infantis, longe do
segundo. Agora, estamos em segundo, perto do líder", afirma Alvaro Paes de Barros, diretor-geral.
Até julho de 2002, o canal não
exibia nenhum programa brasileiro. No mês passado, levou ao ar
300 minutos de produção nacional. O Nickelodeon é parceiro da
produtora TeleImage, responsáveis pela série "Turma do Gueto",
transmitida pela Record, e por filmes como "Acquaria", de Sandy
& Junior, e "Ilha Rá-Tim-Bum".
Para Roberto d'Avila, sócio da TeleImage, a Ancine foi um estímulo
inicial para a TV paga. "Agora, a
produção brasileira começa a reverter em faturamento e audiência, e os canais passarão a um investimento mais organizado."
O Sony, conhecido por séries
norte-americanas como "Seinfeld", teve como um dos principais investimentos do ano uma
produção brasileira: o "dateXpress" (a última reprise da primeira temporada vai ao ar hoje).
"Estreamos no país há sete anos,
com a intenção de ter algo nacional. Agora, com o amadurecimento da TV paga e da publicidade, isso está sendo possível. Em
2004, vamos ampliar", diz Carolina Viana, gerente de marketing.
A empresa argentina Claxson,
que tem 11 canais fechados, também começou a produzir e exibir
programas brasileiros e quer investir ainda mais em 2004. Dona
da Playboy TV (canal "à la carte"),
estuda uma forma de usar o incentivo da Ancine para rodar filmes pornográficos no Brasil. A
agência não se pronunciou sobre
a proposta. Mas, segundo a Folha
apurou, tende a não aprová-la,
alegando critérios de valorização
de projetos culturais e educativos.
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