São Paulo, sábado, 06 de fevereiro de 2010

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TELEVISÃO

Crítica

"O Leitor" mostra o cinema como arte daninha

INÁCIO ARAUJO
CRÍTICO DA FOLHA

"Billy Elliott", "As Horas", "O Leitor": Stephen Daldry vem produzindo, filme após filme, uma obra marcante pela sólida nulidade, pela constância no uso de temas de prestígio (a leitura, o balé, Virginia Woolf), pelas imagens enfadonhas.
Mas "O Leitor" (TC Premium, 22h; 16 anos) nos faz o favor de demonstrar o quanto o cinema pode ser uma arte perigosa, para não dizer daninha.
Temos ali a história de amor entre um jovem e uma mulher madura e misteriosa. Isso já nos seduz. Depois, ele lê livros continuamente para ela. Ela não sabe ler. Mais tarde descobrirá algo verdadeiramente terrível em seu passado.
A questão que Daldry propõe é: devemos perdoar alguém por seu passado? O afeto que alguém nos dá não pode ressarcir seus pecados?
A questão é supérflua, sem dúvida. O essencial no filme é a capacidade que tem de nos levar, pela emoção, a qualquer parte. Quem viu "O Judeu Süss", isto é, quase ninguém, sabe o que um filme pode produzir pela emocionalidade: a aceitação dos campos de extermínio, por exemplo. É dessa estirpe "O Leitor": dessa que anula a razão pelo sentimento.
Bem outro mundo é o de "O Silêncio de Lorna" (TC Cult, 22h; 18 anos), dos irmãos Dardenne, em que a dificuldade da albanesa Lorna em sobreviver na Bélgica não difere tanto da dificuldade de simplesmente viver.


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