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TELEVISÃO
Crítica
"O Leitor" mostra o cinema como arte daninha
INÁCIO ARAUJO
CRÍTICO DA FOLHA
"Billy Elliott", "As Horas", "O
Leitor": Stephen Daldry vem
produzindo, filme após filme,
uma obra marcante pela sólida
nulidade, pela constância no
uso de temas de prestígio (a leitura, o balé, Virginia Woolf),
pelas imagens enfadonhas.
Mas "O Leitor" (TC Premium, 22h; 16 anos) nos faz o
favor de demonstrar o quanto o
cinema pode ser uma arte perigosa, para não dizer daninha.
Temos ali a história de amor
entre um jovem e uma mulher
madura e misteriosa. Isso já
nos seduz. Depois, ele lê livros
continuamente para ela. Ela
não sabe ler. Mais tarde descobrirá algo verdadeiramente
terrível em seu passado.
A questão que Daldry propõe
é: devemos perdoar alguém por
seu passado? O afeto que alguém nos dá não pode ressarcir
seus pecados?
A questão é supérflua, sem
dúvida. O essencial no filme é a
capacidade que tem de nos levar, pela emoção, a qualquer
parte. Quem viu "O Judeu
Süss", isto é, quase ninguém,
sabe o que um filme pode produzir pela emocionalidade: a
aceitação dos campos de extermínio, por exemplo. É dessa estirpe "O Leitor": dessa que anula a razão pelo sentimento.
Bem outro mundo é o de "O
Silêncio de Lorna" (TC Cult,
22h; 18 anos), dos irmãos Dardenne, em que a dificuldade da
albanesa Lorna em sobreviver
na Bélgica não difere tanto da
dificuldade de simplesmente
viver.
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