São Paulo, domingo, 06 de junho de 2004

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

O crítico Stewart Home, integrante do movimento neoísta, avalia ícones de SP

Assalto à metrópole

DIEGO ASSIS
DA REPORTAGEM LOCAL

Nos anos 80, Londres foi invadida por manifestos pregando a destruição das instituições de arte sustentadas pelo capitalismo. Obra dos neoístas, grupo que atualiza o humor corrosivo das vanguardas dadaísta e surrealista para os tempos modernos.
De passagem por São Paulo para uma palestra sobre as "1.001 maneiras de reencenar a morte da vanguarda", Stewart Home, 42, um dos expoentes daquele movimento, aceitou um convite da reportagem da Folha para um tour por marcos oficiais da arte paulistana. Capitalista por definição.
"Não gosto disso. Parece que eles vão afundar na terra", castigou Home ao ver o tradicionalíssimo "Monumento às Bandeiras", de Victor Brecheret (1894-1955). Informado sobre as conotações nacionalistas e pré-modernistas da obra, enfatizou: "Está todo carregado de simbolismos, querendo passar uma mensagem heróica, mas é tão pesado que afunda tentando".
Comunista -"não bolchevique!"- convicto, Home não engoliu as relações de poder sugeridas pelo monumento que, teoricamente, deveria exaltar a união entre nativos e colonizadores. "Os caras no cavalo enquanto os outros estão a pé empurrando o barco? Isso não funciona para mim."
O tour continuou em direção à avenida Paulista, pólo financeiro da mais opulenta capital da América do Sul. Parada obrigatória: o Masp (Museu de Arte de São Paulo), projetado por Lina Bo Bardi (1914-1992) e fundado por Assis Chateaubriand, poderoso homem de mídia da fase de arrancada da locomotiva paulistana.
"Percebe-se que os burgueses separam os melhores prédios para eles próprios", alfinetou. Mas, ao contrário dos anteriores, este agradou aos ideais estéticos de nosso turista acidental: "Isso, sim, é modernismo. Você vê a elevação por meio das colunas. Gosto dessas colunas vermelhas e do fato de criar um espaço público embaixo", disse referindo-se ao vão do prédio, que, aos finais de semana recebe centenas de pessoas em sua feira de antigüidades.
Enfim, um bom local para expor os seus trabalhos? "Sim. Não ligaria de transportar esse prédio inteiro para o centro de Londres para que eu pudesse morar dentro dele! Seria ótimo, não?", riu.
Depois de horas de tortura intelectual para um legítimo neoísta ("A vida começa onde a história termina", reza um de seus slogans), o passeio terminou em outro cartão-postal que, definitivamente, Home não vê problemas em escolher como lar: o edifício Copan, idealizado por um dos artistas brasileiros mais radicais defensores do comunismo, o arquiteto Oscar Niemeyer.
"Fantástico! Essas curvas são ótimas. É assim que as pessoas deveriam viver nas grandes cidades. Quando se vive em um bloco de apartamentos, pode-se ter uma interação com os vizinhos que não acontece com quem mora em casas. Lindo, não é? Acho que todo prédio deveria ser feito assim."
E São Paulo falou a sua língua.


Texto Anterior: Novelas da semana
Próximo Texto: Mônica Bergamo
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.