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O crítico Stewart Home, integrante do movimento neoísta, avalia ícones de SP
Assalto à metrópole
DIEGO ASSIS
DA REPORTAGEM LOCAL
Nos anos 80, Londres foi invadida por manifestos pregando a
destruição das instituições de arte
sustentadas pelo capitalismo.
Obra dos neoístas, grupo que
atualiza o humor corrosivo das
vanguardas dadaísta e surrealista
para os tempos modernos.
De passagem por São Paulo para uma palestra sobre as "1.001
maneiras de reencenar a morte da
vanguarda", Stewart Home, 42,
um dos expoentes daquele movimento, aceitou um convite da reportagem da Folha para um tour
por marcos oficiais da arte paulistana. Capitalista por definição.
"Não gosto disso. Parece que
eles vão afundar na terra", castigou Home ao ver o tradicionalíssimo "Monumento às Bandeiras", de Victor Brecheret (1894-1955). Informado sobre as conotações nacionalistas e pré-modernistas da obra, enfatizou: "Está todo carregado de simbolismos,
querendo passar uma mensagem
heróica, mas é tão pesado que
afunda tentando".
Comunista -"não bolchevique!"- convicto, Home não engoliu as relações de poder sugeridas pelo monumento que, teoricamente, deveria exaltar a união
entre nativos e colonizadores. "Os
caras no cavalo enquanto os outros estão a pé empurrando o barco? Isso não funciona para mim."
O tour continuou em direção à
avenida Paulista, pólo financeiro
da mais opulenta capital da América do Sul. Parada obrigatória: o
Masp (Museu de Arte de São Paulo), projetado por Lina Bo Bardi
(1914-1992) e fundado por Assis
Chateaubriand, poderoso homem de mídia da fase de arrancada da locomotiva paulistana.
"Percebe-se que os burgueses
separam os melhores prédios para eles próprios", alfinetou. Mas,
ao contrário dos anteriores, este
agradou aos ideais estéticos de
nosso turista acidental: "Isso, sim,
é modernismo. Você vê a elevação
por meio das colunas. Gosto dessas colunas vermelhas e do fato de
criar um espaço público embaixo", disse referindo-se ao vão do
prédio, que, aos finais de semana
recebe centenas de pessoas em
sua feira de antigüidades.
Enfim, um bom local para expor os seus trabalhos? "Sim. Não
ligaria de transportar esse prédio
inteiro para o centro de Londres
para que eu pudesse morar dentro dele! Seria ótimo, não?", riu.
Depois de horas de tortura intelectual para um legítimo neoísta
("A vida começa onde a história
termina", reza um de seus slogans), o passeio terminou em outro cartão-postal que, definitivamente, Home não vê problemas
em escolher como lar: o edifício
Copan, idealizado por um dos artistas brasileiros mais radicais defensores do comunismo, o arquiteto Oscar Niemeyer.
"Fantástico! Essas curvas são
ótimas. É assim que as pessoas deveriam viver nas grandes cidades.
Quando se vive em um bloco de
apartamentos, pode-se ter uma
interação com os vizinhos que
não acontece com quem mora em
casas. Lindo, não é? Acho que todo prédio deveria ser feito assim."
E São Paulo falou a sua língua.
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