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CONTRACULTURA
Stewart Home lamenta não ter visto intacta uma instalação que se encontra no calçadão da Paulista
"Arte pública acaba sempre retransformada"
DA REPORTAGEM LOCAL
Reza um dos lemas dos neoístas
que "o peso morto da história nos
oprime com mais eficiência do
que a maioria dos políticos reacionários poderia imaginar em
seus sonhos de perfeição burocrática". A reportagem da Folha tentou confrontar o radical Stewart
Home com monumentos mais
contemporâneos, como o Instituto Tomie Ohtake.
Impressionado com as formas
modernas e o colorido rosa-choque do edifício projetado pelo arquiteto Ruy Ohtake, Home desabafou: "O capitalismo tem que se
apoiar em fatos reais -ainda que
apresente soluções falsas. Os seres
humanos gostam de beleza. E o
que é isso se não belo?".
A empolgação durou pouco. Só
até ser informado que a obra havia sido orçada em cerca de R$ 10
milhões e financiada pelos laboratórios farmacêuticos Aché.
"Provavelmente eu não ficaria
feliz em saber a história dessa
companhia, o que ela faz para o
controle da poluição, por exemplo. Mas, mesmo se não poluir,
talvez aumentar os salários fosse
um modo mais nobre de gastar
todo esse dinheiro. Uma companhia química não faz caridade, faz
propaganda. E que fantástica peça
de propaganda isso é!", retificou.
Destruição da arte
Longe de qualquer definição
possível de monumental, escondidinha, perdida no calçadão da
avenida Paulista, uma caixa de
madeira foi o que mais chamou a
atenção do neoísta inglês no passeio pela cidade. Instalada há semanas entre as ruas Ministro Rocha Azevedo e a Padre João Manoel, a instalação montada por
um artista anônimo simulava um
cativeiro, com um boneco acorrentado e algumas pichações em
seu interior, que incluíam "corrupção", "chacina" e "seqüestro".
Simulava. Exposta à chuva e às
variações de humor dos transeuntes tudo o que restava da
obra na última quinta era a caixa
de madeira, agora toda grafitada e
"reaproveitada" pelo público.
"Seria legal se eu pudesse ter visto isso antes. Mas assim é a arte
pública, sempre sendo retransformada em alguma outra coisa.
Quando você coloca objetos na
rua, eles tendem a não durar. As
pessoas não gostam e destroem.
Querem tentar viver numa ilusão
e a peça pode soar ofensiva para
quem está passando. É um risco
que se corre e algo com que a cultura tem de se acostumar."
(DA)
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