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TELEVISÃO
Ex-funcionários, figurantes e sites de fãs criam "máfia" de vazamento de informações sobre as tramas dos seriados populares
Andrew Eccles/Associated Press
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O elenco da série cômica "Friends", que chega ao final no Brasil em 6 de julho e teve tramas "vazadas" nos EUA |
Rede de fofocas estraga surpresa em séries
EMILY NUSSBAUM
DO "NEW YORK TIMES"
Em fevereiro passado, os fãs de
"Survivor: All-Stars", uma competição entre os campeões das
edições passadas do "reality
show" "Survivor", tiveram uma
surpresa não muito agradável.
A série estreou após a final do
Super Bowl e, em alguns minutos,
assim que o primeiro competidor
foi expulso, um enxerido anônimo postou uma imensa mensagem no site de entretenimento
Ain't It Cool News, com uma lista
detalhada de todas as reviravoltas
na trama. Algumas pessoas que
procuraram o texto deliberadamente se arrependeram depois de
tê-lo lido. Que graça tem assistir a
alguma coisa se você já sabe tudo
o que vai acontecer?
Com cada vez mais informações
de bastidores flutuando pelas colunas de fofoca, fóruns de discussão on-line e revistas, agora é possível descobrir o que vai acontecer
a um personagem favorito com
meses de antecedência.
Os vazamentos de informação
estão alterando de maneira fundamental a natureza dos seriados
de televisão. Os programas começam a se parecer cada vez mais
com livros: se você quer saber como termina, basta olhar a última
página. As séries mais populares
-como "24 Horas", "Alias",
"The O.C.", "Friends", "Frasier" e
"The Apprentice"- foram todas
vítimas de uma seqüência constante de vazamentos.
"Eles me bateram e levaram
meu dinheiro do lanche", reclama
Josh Whedon, cujas produções
como "Buffy, a Caça-Vampiros" e
"Angel" há muito vêm sendo afetadas pelos estraga surpresas.
"Luto contra eles há anos e tentei
novamente neste ano. Mas fui
derrotado. Quis manter em segredo algumas coisas, mas cometi
um erro crucial: filmei com figurantes", afirmou. Assim que saem
do estúdio, nada pode impedir
que contem o que viram.
Para Whedon, a morte da surpresa na televisão é o final do que
ele define como "uma emoção sagrada". A surpresa, argumenta,
"nos torna humildes. Mostra que
se pode estar errado". J.J. Abrams,
criador e produtor-executivo de
"Alias", expressa mistura semelhante de pesar e resignação. "Por
um lado, é irritante que os segredos escapem. Por outro, nós precisamos dos fãs. Se não trabalhasse onde trabalho, também teria
vontade de saber."
Nos dois últimos anos, as informações que estragam os mistérios
vêm chegando cada vez mais rapidamente aos jornais e revistas.
Mas seu surgimento está diretamente vinculado às animadas e
muitas vezes rancorosas comunidades on-line de telespectadores,
que congregam fãs devotados para debater sobre os programas de
televisão que amam. Em sites como o Ain't It Cool News e o E!
Online, colunistas publicam segredos a cada semana, recebidos
de um verdadeiro exército de informantes anônimos que se comunicam por e-mail.
Eles dependem de uma rede de
fontes secretas. Kirsten Veitch,
colunista do E! Online, explica
que "conhecimento é poder. Se
você é um assistente insignificante, pode se transformar em fonte
importante para o mercado de estragar surpresas".
Algumas fontes são funcionários insatisfeitos ("os demitidos
são muito perigosos", diz Whedon). Mas a maioria dos que distribuem as informações são fãs
dedicados, ou trabalhando para
produtoras de televisão ou em
contato via e-mail com funcionários dessas empresas.
Os criadores de programas respondem de diferentes maneiras:
alguns combatem a fofoca, outros
a aproveitam como publicidade.
Por trás das cenas em programas
de ação como "Angel", os arquivos de computador são cifrados
sob senhas especiais. Em "24 Horas", o roteiro final é impresso em
papel vermelho para dificultar
que sejam feitas fotocópias.
Outros criadores de programas
de TV simplesmente desistiram.
Os produtores de "Friends", que
chega ao final em 6 de julho no
Brasil, já declararam em público
que não fazem esforço especial
para impedir a ação dos estraga-surpresas. E muitos criadores
agem como se a Máfia estivesse
envolvida: pagam proteção, permitindo que os colunistas recebam informações menos importantes, a fim de impedi-los de revelar os segredos mais suculentos.
Esse jogo constante de espionagem já gerou um novo desdobramento: falsas informações divulgadas a fim de iludir os fãs. O caso
mais famoso aconteceu durante a
primeira temporada de "Survivor", quando fãs invadiram o site
da CBS e descobriram uma foto
de Gervase Peterson como único
sobrevivente sem um xis marcado
sobre o rosto. Era uma falsa pista
visual plantada pelos produtores.
No final, quem ganhou a competição foi Richard Hatch.
Alguns fãs argumentam que saber o que acontecerá a seguir na
verdade aprofunda a emoção de
assistir aos programas. Com os
segredos revelados de antemão, o
telespectador pode ver TV com
distanciamento, analisando como
um crítico, em lugar de se sentir
imerso, como um novato.
Muitos sites permitem mensagens revelando surpresas apenas
em áreas especialmente reservadas. Os participantes se apóiam
mutuamente no esforço de escapar às informações antecipadas
como numa espécie de Alcoólatras Anônimos para pessoas que
não querem descobrir com antecedência o que vai acontecer.
"Precisamos uns dos outros mais
que nunca", diz uma mensagem
no fórum RossandRachel.com,
sobre "Friends". Alguns colunistas também têm limitado os assuntos que revelam.
Kristen Baldwin, editora sênior
da "Entertainment Weekly", diz
que "a forma de ver TV sob a qual
tudo é uma surpresa completa,
pura e inocente a cada semana está provavelmente morta". Há informantes demais à solta e, mesmo que alguns mantenham o silêncio, sempre haverá quem fale.
Tradução Paulo Migliacci
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