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Mostra cria cantinhos em plena Oca
Público poderá, a partir de amanhã, ouvir canções e ver documentários em ambientes à prova de interferências sonoras
Curadores instalam câmara de silêncio para visitante experimentar elemento da bossa nova; cenas raras de Tom e Vinicius são atrações
LUIZ FERNANDO VIANNA
DA REPORTAGEM LOCAL
Como preencher 8.000 metros com algo que é um cantinho, um violão, só bim bom,
bim bom, bim bim, e não tem
mais nada não? A resposta da
exposição "Bossa na Oca", comemoração dos 50 anos da
bossa nova que será inaugurada
hoje para convidados e abre
amanhã para o público, não está nos Dolby Surround e Imax
da vida contemporânea, mas
em várias áreas para poucas
pessoas, onde se pode ouvir (e
ver) música em baixo e bom
som, ou até escutar o silêncio.
Os curadores Marcello Dantas e Carlos Nader são os responsáveis por fazer o grande se
render ao mínimo, algo coerente, aliás, com a arquitetura de
Oscar Niemeyer, que projetou
a Oca. O evento conta com 240
caixas de som, mas, se tudo der
certo, cada visitante só ouvirá o
que está bem perto dele.
"Tudo reverbera na Oca. Seria impossível ouvir bossa nova
de outro jeito", explica Dantas.
"O ajuste é delicado. Se errar o
ponto, vira pizzaria", diz Nader.
Mas "Bossa na Oca" vai bem
além de escutar músicas já extremamente conhecidas. A visita começa, no térreo, com fotos de personagens e acontecimentos de 1958 (Niemeyer,
Brasília, Pelé, a viagem da cadela Laika à lua etc.), para mostrar
que, no ano em que João Gilberto gravou "Chega de Saudade", havia muito mais coisas no
ar do que os aviões de carreira.
"O mundo estava mudando e
precisava de uma trilha sonora.
João Gilberto entrou num
quarto em que havia um botijão
de gás e riscou o fósforo", diz
Dantas, numa metáfora explosiva para a suave bossa nova.
Princípio intimista
No mesmo andar, há seis estações de áudio que estão sendo
chamadas de jukeboxes. O visitante escolhe na tela a música
que quer ouvir, e o som não vaza para o vizinho. Toda a exposição segue esse princípio.
No subsolo, dez minidocumentários passam simultaneamente sem que um interfira no
outro. Estão neles imagens raras do célebre concerto de 1962
no Carnegie Hall, em Nova
York, e do show "A Noite do
Amor, do Sorriso e da Flor",
realizado no Rio, em 1960.
No primeiro andar, há três
ambientes em que são exibidos
"Vou Te Contar", curta-metragem de Dora Jobim sobre o avô;
"Vinicius de Moraes", edição
feita por Miguel Faria Jr. de cenas que ficaram de fora do seu
filme "Vinicius"; e uma versão
reduzida de "7 x Bossa Nova",
série dirigida por Belisário
Franca. Cada espectador tem a
sua própria caixinha de som.
Nos 15 minutos editados por
Dora, o público poderá ver um
Tom ainda acanhado em programas de TV nos EUA -explicando "Garota de Ipanema" em
português mesmo- ou íntimo
em cartas para a família ou para
o amigo Vinicius.
"Acho que ser neta dele já é
um filtro gigante na hora de selecionar as imagens, de editar e
procurar retratá-lo. [Contou]
meu envolvimento, o amor por
ele, a intimidade com os arquivos da família", diz Dora.
Será difícil não sentir falta de
imagens em movimento de
João Gilberto. Mas é que ele
não autoriza o uso de praticamente nenhuma. É o caso, por
exemplo, do concerto que fez
com Tom Jobim em 1992, no
Teatro Municipal do Rio.
"Mas ele está em todo lugar",
afirma Dantas. "O silêncio dele
é ensurdecedor", diz Nader.
Silêncio mesmo se dá na câmara anecóica [sem eco] do
primeiro andar, onde se escuta
só o próprio corpo. O silêncio é
um dos elementos fundamentais da bossa nova, e, se Caetano Veloso estiver certo, só João
pode ser melhor do que ele.
BOSSA NA OCA
Quando: ter. a dom., das 10h às 21h;
de amanhã a 7/9
Onde: Oca (av. Pedro Álvares Cabral,
s/nº, portão 3 do pq. Ibirapuera; tel.
0/xx/11/4003-2050; livre)
Quanto: R$ 20; grátis às terças
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